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Festas e Rodeios

Sedutora, Simone encara tensões entre delírios e delícias que resumem 50 anos de carreira no show ‘Tô voltando’

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Prejudicada por problemas técnicos, a estreia nacional da turnê da cantora deleita fãs fiéis com bloco dedicado aos sucessos da artista na década de 1980, como ‘Você é real’ e ‘Um desejo só não basta’. Resenha de show
Título: Tô voltando
Artista: Simone
Local: Cine-Theatro Central (Juiz de Fora, MG)
Data: 15 de abril de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ½
♪ JUIZ DE FORA (MG) – “Essa é a Simone!”, gritou da plateia, extasiado, um dos 1.881 espectadores que lotaram o Cine- Theatro Central na noite de ontem, 15 de abril, para assistir à estreia do show comemorativo dos 50 anos de carreira de Simone, Tô voltando.
O comentário entusiástico foi ouvido após a cantora dar voz à música Depois das dez (Tunai e Sérgio Natureza, 1983) com arranjo disco-funk que aludiu às levadas de Lincoln Olivetti (1951 – 2015), mago do tecnopop brasileiro da década de 1980. Depois das dez foi a música escolhida pela gravadora CBS em 1983 para promover o terceiro álbum de Simone na companhia fonográfica, Delírios, delícias.
A música representa uma Simone, não “a” Simone, porque foram muitas as Simones e muitos os caminhos seguidos pela cantora na música desde a edição do primeiro álbum em 1973. Dirigido por Marcus Preto, o show Tô voltando mapeia algumas rotas trilhadas por Simone ao longo desses 50 anos.
Com 23 músicas, já contabilizados os dois sambas-enredos do bis, Por um dia de graça (Luiz Carlos da Vila, 1984) e O amanhã (João Sérgio, União da Ilha do Governador, Carnaval de 1978), o roteiro dá justa ênfase à discografia da artista nos anos 1970 e 1980, décadas áureas na trajetória da cantora do ponto de vista artístico e comercial, respectivamente.
De surpresa, houve somente Sangue e pudins (1976), parceria de Raimundo Fagner com Abel Silva regravada por Simone no álbum Cigarra (1978). Sangue e pudins foi número derramado em cena com arranjo de rock que embutiu a habitual citação de As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) e que evidenciou a jovialidade da banda regida pelo diretor musical Pupilo e formada por Chico Lira (teclados), Filipe Coimbra (guitarra e violão), Frederico Heliodoro (baixo), Ronaldo Silva (bateria) e Vanderlei Silva (percussão) – “meu jardim de infância”, como gracejou a cantora em cena.
Aos 73 anos, Simone ainda exerce grande poder de sedução sobre um público que vem envelhecendo com a cantora. Tal fascínio foi determinante para artista manter a atenção da plateia em show cuja estreia nacional resultou extremamente tensa e sofrida para Simone.
Estrondos foram ouvidos no palco logo nos primeiros números. Recorrentes ao longo dos 23 números do show, os problemas técnicos prejudicaram a fluência da apresentação. Por não estar ouvindo a banda, Simone ficou sem chão, interrompeu algumas músicas – como Cigarra (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1978) – e se dirigiu toda hora aos músicos para procurar um norte, além de ter externado as naturais tensões em falas dirigidas aos responsáveis pelo som. “Eu não tô ouvindo. Tá difícil pra mim”, reclamou a cantora em determinado momento.
Para o público, interessado somente em reouvir os sucessos da artista, foi fácil acompanhar o roteiro de Tô voltando. Com exceção de Divina comédia humana (Belchior, 1978), música que a cantora acabou tirando do repertório do álbum Face a face (1977) e até então nunca tinha cantado, tudo já era bem conhecido pelo público fiel da artista. Inclusive a abertura sensual com Tô que tô (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 1982), hit do álbum blockbuster Corpo e alma (1982) que também abriu o show da turnê anterior da cantora, Em boa companhia (2013), estreada há dez anos.
Simone no palco do Cine-Theatro Central em Juiz de Fora (MG), em 15 de abril de 2023, na estreia nacional do show ‘Tô voltando’
Bernardo Traad / Divulgação
Emoldurada pelo cenário de Zé Carratu, criador de tela que na maior parte do show aludiu à asa de uma cigarra, Simone mostrou que continua cantando muito bem. Até porque teve a inteligência de baixar os tons para não forçar o alcance vocal de tempos idos.
Com arranjos que remetem respeitosamente às gravações originais, criados com fidelidade ao objetivo primordial do show Tô voltando, celebrar em cena os melhores anos de cantora cujo passado é glorioso, músicas como Sangrando (Gonzaguinha, 1980), Começar de novo (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979), Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982) e a sempre comovente Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977) – esta com o toque doído da guitarra de Filipe Coimbra, destaque da banda – reapareceram com as habituais intenções e inflexões da intérprete, como emblemas da fase mais densa da discografia da artista.
A sensação de déjà vu se diluiu quando começou o bloco com os sucessos de Simone nos anos 1980, década em que a cantora aderiu progressivamente – a partir do ingresso na gravadora CBS em 1981 – a um pop romântico radiofônico que gerou discos idealizados com interferências de produtores musicais e diretores de marketing para manter a artista em alto patamar de vendas. Fórmulas sempre avalizadas pela cantora, a quem cabia a palavra final.
Essa fase gerou hits de grande apelo popular. Quando a cantora voltou ao palco, após cantar Boca em brasa (Juliano Holanda e Zélia Duncan, 2022) em inflamada pisada de baião, e após breve saída para a troca de peça do elegante figurino, o brilho da segunda roupa refletiu a luminosidade que ainda há em canções populares como Você é real (Piska e Fausto Nilo, 1985) e Um desejo só não basta (Francisco Casaverde e Fausto Nilo, 1984). O público cantou tudo.
O fecho desse bloco resultou especialmente sedutor com o revival da balada Separação (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1988), cantada por Simone com trio de guitarristas à frente – amostra de que, quando a cantora arriscou mudar o clima original de um sucesso do passado, o show resultou mais surpreendente.
Simone à frente do cenário de Zé Carratu e com o primeiro figurino do show ‘Tô voltando’
Mauro Ferreira / g1
No todo, Simone encarou as tensões com valentia e foi fiel à própria essência com todos os vícios e virtudes desses 50 anos de carreira.
Para deleite do público, essa Simone tão sedutoramente previsível interagiu com a plateia no bolero Sob medida (Chico Buarque, 1979), se ambientou na estação de Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) e reiterou a beleza eterna de Iolanda (Pablo Milanés, 1970, em versão em português de Chico Buarque, 1984) antes de cair nos sambas Ex-amor (Martinho da Vila, 1981), Desesperar jamais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980) e Tô voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1979).
Descontadas as tensões de uma estreia sofrida, Simone voltou à cena com show em que faz bom resumo dos delírios e delícias de 50 anos de carreira. Orquestrada por Augusto Nascimento, novo empresário da cantora, a turnê do show Tô voltando foi feita sob medida para o público da artista, pondo no palco a Simone que o séquito da Cigarra deseja ver e ouvir.
Simone distribui flores ao público de Juiz de Fora (MG) na estreia do show ‘Tô voltando’
Mauro Ferreira / g1
♪ Eis as 23 músicas do roteiro seguido por Simone em 15 de abril de 2023 na estreia nacional da turnê do show Tô voltando no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora (MG):
1. Tô que tô (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 1982)
2. O que será (À flor da terra) (Chico Buarque, 1976)
3. Sangrando (Gonzaguinha, 1980)
4. Começar de novo (Ivan Lins e Vitor Martins, 1979)
5. Cigarra (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1978)
6. Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977)
7. Divina comédia humana (Belchior, 1978)
8. Sangue e pudins (Raimundo Fagner e Abel Silva, 1976)
9. Sob medida (Chico Buarque, 1979)
10. Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982)
11. Haja terapia (Juliano Holanda, 2021)
12. Boca em brasa (Juliano Holanda e Zélia Duncan, 2022)
13. Você é real (Piska e Fausto Nilo, 1985)
14. Depois das dez (Tunai e Sérgio Natureza, 1983)
15. Um desejo só não basta (Francisco Casaverde e Fausto Nilo, 1984)
16. Separação (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1988)
17. Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981)
18. Iolanda (Pablo Milanés, 1970, em versão em português de Chico Buarque, 1984)
19. Ex-amor (Martinho da Vila, 1981)
20. Desesperar jamais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
21. Tô voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1979)
Bis:
22. Por um dia de graça (Luiz Carlos da Vila, 1984)
23. O amanhã (João Sérgio, 1977) – samba-enredo da União da Ilha do Governador no Carnaval de 1978

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Zizi Possi enfrenta ‘temporais’ de Ivan Lins e Vitor Martins em disco que traz também músicas de Gabriel Martins

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Fabiana Cozza, Leila Pinheiro e Rita Bennedito também integram o elenco feminino do EP ‘Elas cantam as águas’, previsto para ser lançado em 2025. ♫ NOTÍCIA
♪ Iniciada em 1974, a parceria de Ivan Lins com o letrista Vitor Martins se firmou ao longo das décadas de 1970 e 1980 nas vozes de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Simone, além de ter embasado a discografia essencial do próprio Ivan Lins.
Uma das pedras fundamentais da MPB ao longo destes 50 anos, a obra de Ivan com Vitor gera frutos. Previsto para 2025, o disco Elas cantam as águas reúne seis gravações inéditas.
Três são abordagens de músicas de Ivan Lins e Vitor Martins. As outras três músicas são de autoria do filho de Vitor, Gabriel Martins, cantor e compositor que debutou há sete anos no mercado fonográfico com a edição do álbum Mergulho (2017).
No EP Elas cantam as águas, Zizi Possi dá voz a uma música de Ivan e Vitor, Depois dos temporais, música que deu título ao álbum lançado por Ivan Lins em 1983 e que, além do autor, tinha ganhado registro somente do pianista Ricardo Bacelar no álbum Sebastiana (2018).
Fabiana Cozza mergulha em Choro das águas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977), canção que já teve gravações de cantoras como Alaíde Costa, Tatiana Parra e a própria Zizi Possi. Já Guarde nos olhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) é interpretada por Adriana Gennari.
Da lavra de Gabriel Martins, Chuvarada – parceria do compositor com Belex – cai no disco em gravação feita por Leila Pinheiro (voz e piano) com a participação de Jaques Morelenbaum no toque do violoncelo e com produção da própria Leila, que também assina com Morelenbaum o arranjo da faixa que será lançada em 11 de outubro como primeiro single do disco.
Já Rita Benneditto canta Plenitude (Gabriel Martins e Carlos Papel). Completa o EP a música Filha do Mar [Oh Iemanjá], composta somente por Gabriel Martins e com intérprete ainda em fase de confirmação.
Feito sob direção musical de Gabriel Martins em parceria com a pianista, arranjadora e pesquisadora Thais Nicodemo, o disco Elas cantam as águas chegará ao mercado em edição da gravadora Galeão, empresa derivada da Velas, companhia fonográfica independente aberta em 1991 por Ivan com Vitor Martins e o produtor Paulinho Albuquerque (1942 – 2006).

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Médico que ajudou a fornecer cetamina a Matthew Perry se declara culpado por morte do ator

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Conhecido por atuar em ‘Friends’, Matthew Perry morreu em outubro de 2023 por overdose. Mark Chaves é uma das cinco pessoas que enfrentam acusações federais pela morte do ator Matthew Perry
Mike Blake/Reuters
O médico Mark Chavez se declarou culpado por fornecer cetamina ao ator Matthew Perry, morto por overdose em outubro de 2023. O americano fez sua declaração nesta quarta-feira (2), no tribunal federal de Los Angeles (EUA), e se tornou a terceira pessoa a admitir culpa pela morte do ator, que ganhou fama ao interpretar Chandler em “Friends”.
Até a conclusão da sentença, Chavez está livre sob fiança. Ele concordou em entregar sua licença médica. Seu advogado, Matthew Binninger, havia dito em 30 de agosto que ele estava arrependido e tentava “fazer tudo para corrigir o erro”.
Além de Chavez, há dois envolvidos na morte de Perry: Kenneth Iwamasa, assistente do ator, e Erik Fleming, outro fornecedor de droga.
Perry foi encontrado morto em uma banheira de hidromassagem. Quem achou seu corpo foi Iwamasa, que morava com ele.
O assistente admitiu que várias vezes injetou cetamina no ator sem treinamento médico, inclusive no dia de sua morte. Já Fleming alegou ter comprado 50 frascos de cetamina e repassado para Iwamasa.
A Justiça americana ainda investiga mais duas pessoas: Salvador Plasencia, outro médico, e Sangha, suposta traficante conhecida como “Rainha da Cetamina”.
O ator Matthew Perry, morto aos 54 anos, em imagem de 2009
Matt Sayles, File/AP
Um ano antes de morrer, Perry havia lançado sua autobiografia: “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”.
“Existe um inferno”, escreveu Perry, no livro, que narra sua luta contra a dependência química durante os últimos anos de gravação de “Friends”. “Não deixe ninguém lhe dizer o contrário. Eu estive lá; isso existe; fim de discussão.”
O ator, que, na época do vício, passou pela clínica de reabilitação, havia dito que já se sentia melhor e queria que o livro ajudasse as pessoas.
Médio Mark Chavez e Matthew Perry.
Robyn Beck / AFP e Willy Sanjuan/Invision/AP

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Dinho fala de sertanejo no Rock in Rio e revela que Capital Incial fará turnê de 25 anos do ‘Acústico MTV’

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‘Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos’, diz cantor. No g1 ouviu, ele revelou que banda sairá em turnê comemorativa a partir de março de 2025. Sertanejo no Rock in Rio? Dinho Ouro Preto opina
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, opinou sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio. O cantor foi o entrevistado do g1 Ouviu, o podcast e videocast de música do g1, nesta quarta-feira (2).O Capital é uma das atrações que mais tocou no festival, com nove apresentações ao todo.
“Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos. E ali eu via como a nossa Marques de Sapucaí. Era nossa vez, nossa turma. Mas me lembraram que o primeiro Rock in Rio também foi mais eclético”, ele opinou.
O cantor ainda afirmou ter sentido falta de ter visto mais shows de rock e de pop no festival. Para ele, uma solução poderia ser separar melhor os dias. Na edição deste ano, em setembro, astros da música sertaneja foram incluídos no Dia Brasil, com programação só brasileira. Num bloco de apresentações dedicada ao estilo, vão subir ao palco Ana Castela, Simone Mendes e Chitãozinho & Xororó.
Foram necessários 40 anos para o maior festival de música do Brasil se render ao gênero musical mais ouvido do país – enfrentando o grande tabu de uma ala roqueira mais conservadora.
Turnê dos 25 anos do Acústico MTV
Na entrevita ao g1, Dinho também revelou que o Capital Inicial sairá em turnê comemorativa para celebrar os 25 anos do álbum “Acústico MTV”.
O disco foi lançado em 2000 e colocou a banda em outro patamar, segundo ele. A turnê terá Kiko Zambianchi, que também tocou no acústico, e deve passar por 25 cidades brasileiras, a partir de março de 2025.
Dinho Ouro Preto dá entrevista ao g1 Ouviu
Fabio Tito/g1

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