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‘Síndrome de Succession’: as famílias que acumulam narcisismo, abuso de substâncias e depressão

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Clínica de saúde mental de luxo identifica traços de personagens da série da HBO em seus próprios pacientes. Na série ‘Succession’, filhos travam disputa de poder para definir quem será o sucessor do pai em um dos maiores conglomerados de mídia do mundo
HBO via BBC
Egocentrismo. Indiferença ao sofrimento alheio. Incapacidade de criar laços.
Essas são algumas das principais características dos filhos de Logan Roy, protagonistas da aclamada série Succession, da HBO.
Na trama, que já conquistou sete Emmys desde a sua estreia em 2018, a família é dona de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo e os filhos do patriarca travam uma disputa de poder para definir quem será o sucessor ao cargo de CEO.
Durante sua batalha, os personagens exibem comportamentos típicos de pacientes com transtorno de personalidade narcisista, histórico de abuso de substâncias, ansiedade e depressão, afirmam especialistas.
Mas segundo uma clínica de saúde mental de luxo, especializada em clientes de alto padrão e celebridades em suas filiais em Londres e Zurique, esses traços não são comuns apenas nos personagens fictícios.
Cerca de 40% dos pacientes provenientes de famílias extremamente ricas atendidos pela clínica Paracelsus Recovery sofrem do que os profissionais classificaram como “Síndrome de Succession”.
“Nos deparamos com tantos filhos de famílias influentes que sofriam de transtornos mentais e dependência química que criamos essa denominação”, diz Jan Gerber, fundador e CEO da clínica.
“A síndrome é caracterizada por uma série de doenças mentais como ansiedade, depressão, transtorno de personalidade narcisista e por vezes bipolaridade, abuso de álcool e outras substâncias.”
“E todas essas questões são resultado de dinâmicas familiares específicas, comuns a quem cresce em ambientes de extrema riqueza e sucesso”, explica Gerber.
A definição da ‘Síndrome de Succession’ foi elaborada pelos profissionais da clínica com base em observação dos pacientes e também em pesquisas já realizadas sobre o tema.
Um estudo publicado em 2014 por dois pesquisadores americanos, por exemplo, mostrou que crianças criadas em meio à riqueza têm 27% mais chances de desenvolverem alcoolismo.
Na experiência da clínica, além do álcool, muitos pacientes também abusam de substâncias como cocaína e medicamentos.
Outras pesquisas indicam que existe uma forte ligação entre pais ausentes e sentimento de solidão durante a infância e o desenvolvimento de transtorno de personalidade narcisista, afirmam os especialistas da Paracelsus Recovery.
Esse distúrbio psicológico tem como principal característica a incapacidade de sentir empatia, que pode ser manifestada também na dificuldade de criar laços.
Vários estudos ainda mostram que quanto mais riqueza uma pessoa acumula, menos empática e mais eticamente ambígua ela se torna.
Ou seja, crianças criadas em lares onde há muito dinheiro mas também pressão, isolamento e, simultaneamente, sentimento de superioridade, possuem mais tendências narcisistas.
Privilégio ou tormento?
Gerber reconhece que seus pacientes – e outras pessoas que sofrem com esses transtornos – são extremamente privilegiados e uma exceção.
No Brasil, por exemplo, existem hoje pouco mais de 2 mil super-ricos – pessoas com fortuna estimada em mais de US$ 50 milhões – e 51 bilionários. Por outro lado, a metade mais pobre possui menos de 1% da riqueza do país.
“Estamos falando de pessoas extremamente ricas, ou seja, famílias que têm desde algumas dezenas de milhões até muitos bilhões”, afirma.
“Essa síndrome afeta uma parcela relativamente pequena da sociedade, mas essas pessoas podem ocupar posições de poder e autoridade – empregando milhares de outras pessoas em muitos casos –, então todos temos interesse em seu bem-estar mental.”
Segundo o fundador da clínica, apesar da vida de muitos dessas famílias ser extremamente confortável, também é “dolorosamente solitária”, já que muitas vezes os filhos são criados por babás ou em colégios internos.
“É um ambiente de muita pressão, dado o imenso poder que algumas dessas famílias possuem. Elas geralmente funcionam mais como um negócio do que como uma comunidade, dificultando o vínculo.”
Especialistas apontam ligação entre pais ausentes ou sentimento de solidão na infância e transtorno de personalidade narcisista
GETTY IMAGES via BBC
Os especialistas da Paracelsus também identificam que muitos de seus pacientes que cresceram em famílias bem-sucedidas financeiramente desenvolveram um medo profundo de falhar e demonstrar fraqueza.
Pessoas que experimentam a ‘Síndrome de Succession’ podem, por exemplo, ouvir com frequência que apesar da solidão e tensão que enfrentam, têm muita sorte de serem quem são. Por isso, acabam tendo dificuldade de buscar ajuda.
E a pressão é ainda maior quando os filhos trabalham nos negócios dos pais, pois os limites entre sucesso no emprego e com a família se tornam confusos.
Além disso, segundo os psicólogos, é comum que casos de nepotismo provoquem sentimentos de inferioridade e inadequação entre aqueles que são beneficiados pelos laços familiares.
Filhos que herdam os negócios dos pais ainda podem sentir uma enorme pressão para manter ou superar as conquistas de seus antepassados. A competição entre irmãos ou primos pode tornar tudo ainda pior.
Porém, para o psicólogo Marcelo Santos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é importante notar que pessoas com melhores condições financeiras possuem acesso facilitado a serviços de saúde e tratamentos, algo que falta para os mais pobres. Justamente por isso pode ser mais fácil diagnosticar os transtornos mentais nessa população.
“Ao mesmo tempo, também identificamos em famílias de classe média atual muitas das condições que proporcionam o desenvolvimento de transtornos mentais futuros, tais como a ausência, a substituição da atenção parental pela tecnologia e a tendência a satisfazer todaos os pedidos e caprichos dos filhos”, diz.
Mas segundo Jan Gerber, o dinheiro pode ter efeito sobre a saúde mental tanto quando está em falta, como em excesso. “Alguns problemas mentais, como o vício, são identificados em proporção acima da média entre a população muito pobre, mas também entre os muito ricos”, diz.
“E as razões para isso são muitas vezes semelhantes, ainda que completamente diferentes. Em famílias que sofrem para colocar comida na mesa, por exemplo, os pais podem estar ausentes porque precisam fazer jornada dupla. Já entre os mais ricos os filhos podem ser negligenciados por conta do trabalho, comando do negócio, eventos de caridade.”
“O excesso de riqueza pode adoecer, mas a falta também. A grande questão é como os filhos são tratados pelos pais e familiares, especialmente durante a infância”, resume Marcelo Santos.
Narcisista, insensível, inacessível
Muito do que é retratado na série Succession como parte do comportamento da família Roy pode parecer irreal ou exagerado, mas segundo o CEO da Paracelsus Recovery é bastante comum entre seus pacientes.
“A representação da série é, na verdade, extremamente realista”, diz. “Obviamente que temos pacientes em que essas características são mais discretas, mas também temos outros em que são até mais fortes ou que sofrem mais.”
Filhos de Logan Roy exibem comportamentos típicos de pacientes com transtorno de personalidade narcisista, histórico de abuso de substâncias, ansiedade e depressão, afirmam especialistas
HBO via BBC
Dos comportamentos identificados como comuns entre três dos possíveis sucessore de Longan Roy e os pacientes com “Síndrome de Succession” da clínica, os psicólogos destacaram a constante oscilação do filho mais velho do segundo casamento do patriarca, Kendall, entre grandiosidade e um narcisismo que o torna extremamente vulnerável, além de seu abuso de substâncias.
Já a filha do meio, Shiv, apresenta um extremo desprezo pelos sentimentos alheios e o caçula, Roman, tem dificuldade de se conectar com outras pessoas e manter relacionamentos amorosos.
Além disso, os especialistas apontam que existe entre todos os filhos de Logan Roy sentimentos de inferioridade e inadequação que acompanham o nepotismo., além de uma competição constante e tóxica.
Por fim, os psicólogos citam o fato dos filhos de Logan serem constantemente referidos na série como “as crianças Roy” como indicativo da dificuldade da família em estabelecer limites entre trabalho e vida pessoal.
‘Síndrome da criança rica’
Segundo Marcelo Santos, do Mackenzie, termos semelhantes já foram cunhados no passado para definir o comportamento de filhos que crescem em lares extremamente ricos: “sindorme da criança rica” ou “ricopatia”.
“A relação próxima com os pais ou cuidadores é essencial para reforçar os vínculos e desenvolver habilidade sociais, empatia e outras características positivas para as crianças”, diz.
“Pais e mães que substituem essa relação por aparelhos eletrônicos ou babás arriscam que, a longo prazo, seus filhos desenvolvam comportamentos irresponsáveis, relações doentias e falta de empatia.”
O psicólogo afirma, porém, que situações semelhantes podem ser reproduzidas também por famílias de classe média, mas nas quais as crianças tenham todos os desejos atendidos sem restrições durante seu desenvolvimento.
“Crianças e adolescentes que têm tudo ficam entediados facilmente e desenvolvem baixa intolerância à frustração”, diz.
A psicóloga Ceres de Araújo, professora da PUC-SP, afirma ainda que estudos realizados no passado já mostraram inclusive que o dinheiro pode ser um fator de risco importante para adolescentes que crescem em ambientes de muito privilégio, aumentando as chances de consumo de drogas, dificuldade escolar e desmotivação.
“Distúrbios da personalidade narcisista tende a aparecer com mais frequência entre as poulações privilegiadas do ponto de vista econômico também, porque estamos falando de pessoas que lidam menos com frustação, não sabem ouvir respostas negativas e são impacientes”, diz.
Ainda segundo Araújo, a competição entre irmãos por atenção ou aprovação dos pais muitas vezes também está associada à negligência parental. “A competição entre irmãos aparece quando há na base uma carência afetiva grande”, diz.
“E quando filhos buscam trabalho nos negócios da família, é bastante comum que desenvolvam problemas de autoestima e confiança, porque eles estão sempre se questionando se merecem de fato aquele posto.”

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Fritz Escovão, exímio ritmista fundador do Trio Mocotó, ‘Jimi Hendrix da cuíca’, morre em São Paulo aos 81 anos

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♫ OBITUÁRIO
♪ “O Jimi Hendrix da cuíca!”. O comentário do músico André Gurgel na publicação da rede social em que o Trio Mocotó informou a morte de Fritz Escovão traduz muito do pensamento geral de quem viu em ação este percussionista, pianista, violonista e cantor carioca que marcou época no Trio Mocotó, grupo de samba-rock do qual foi fundador.
Gigante da cuíca, instrumento que percutia com exuberância e incrível destreza, Luiz Carlos de Souza Muniz (13 de dezembro de 1942 – 1º de outubro de 2024) morre aos 81 anos, em São Paulo (SP), de causa não revelada, e sai de cena para ficar na galeria dos imortais do ritmo brasileiro, perpetuado com o nome artístico de Fritz Escovão. O enterro do corpo do artista está previsto para as 8h30m de amanhã, 2 de outubro, no cemitério de Vila Formosa, bairro paulistano.
Fritz Escovão era carioca, mas se radicou em São Paulo (SP), cidade em que fez história a partir de 1968, ano em que o Trio Mocotó foi formado na lendária boate Jogral por Fritz com o carioca Nereu de São José (o Nereu Gargalo) e com o ritmista paulistano João Carlos Fagundes Gomes (o João Parahyba).
Matriz do samba-rock, o grupo foi fundamental para a ressurreição artística de Jorge Ben Jor a partir de 1969. Foi com o toque do Trio Mocotó que Jorge Ben apresentou a visionária música Charles, anjo 45 em 1969 na quarta edição do Festival Internacional da Canção (FIC).
A partir de 1970, ano em que gravou single com o samba-rock Coqueiro verde (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), o Trio Mocotó alçou voo próprio sem se afastar de Jorge Ben, continuando a fazer shows com o cantor, com quem gravou álbuns como Força bruta (1970) e o politizado Negro é lindo (1971).
A discografia solo do Trio Mocotó com Fritz Escovão destaca os referenciais álbuns Muita zorra (“…São coisas que glorificam a sensibilidade atual”) (1971), Trio Mocotó (1973) e Trio Mocotó (1977), discos de samba-rock que ganharam status de cult a partir da década de 1990 no Brasil e no exterior, sobretudo o álbum de 1973 em que o trio adicionou à cadência toques de jazz, soul e rock à cadência do samba.
Sempre com a maestria de Fritz Escovão. Em 1974, o Trio Mocotó gravou disco com Dizzy Gillespie (1917 – 1993), em estúdio de São Paulo (SP), mas o trompetista norte-americano de jazz nunca lançou o álbum (foi somente em 2010, 17 anos após a morte do jazzista, que o veio à tona o álbum Dizzie Gillespie no Brasil com Trio Mocotó, editado no Brasil em 2011 via Biscoito Fino).
Em 1975, o grupo saiu de cena. Retornou somente em 2001, após 26 anos, com o álbum intitulado Samba-rock. Um ano depois, em 2002, Fritz Escovão deixou amigavelmente o Trio Mocotó para tratar de problemas de saúde.
Foi substituído em 2003 por Skowa (13 de dezembro de 1955 – 13 de junho de 2024), músico morto há menos de quatro meses. Hoje quem parte é o próprio Fritz Escovão, para tristeza de quem testemunhou o virtuosismo do “Jimi Hendrix da cuíca”.

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Morre Fritz Escovão, do Trio Mocotó, grupo que fez brilhar o samba rock

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Ao lado de Jorge Ben Jor, grupo ficou famoso pelo suingue inebriante que dá vida ao samba rock. Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó
Reprodução
Morreu Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó. A morte do artista foi confirmada no Instagram do grupo, nesta terça-feira (1º). A causa não foi revelada.
“Cantor, violonista, pianista e percussionista, [ele] marcou a música brasileira pela sua voz inigualável à frente do Trio Mocotó até 2002, com seu clássico ‘Não Adianta’ e como um dos maiores, se não o maior, dos cuiqueiros que o Brasil já viu”, diz a publicação do grupo.
Conhecido como Fritz Escovão, Luiz Carlos Fritz fundou o Trio Mocotó em 1969: ele na cuíca, João Parahyba na bateria, e Nereu Gargalo no pandeiro.
Juntos, os três fizeram sucesso ao lado de Jorge Ben Jor, com um suingue inebriante que deu vida ao samba rock.
A partir de 1970, o Trio Mocotó alçou voo próprio sem se afastar de Jorge Ben, fazendo shows com o cantor em um primeiro momento da carreira e gravando discos como “Negro é lindo”.
Escovão deixou o grupo em 2003. Atualmente, quem assume a cuíca é Skowa.

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Sean Diddy Combs é alvo de 120 novas acusações de abuso sexual; ações serão movidas nas próximas semanas, diz advogado

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Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, o músico foi preso após meses de investigações. Sean ‘Diddy’ Combs.
Mark Von Holden/Invision/AP
Sean “Diddy” Combs está sendo acusado de abusar sexualmente de 120 pessoas. Foi o que informou o advogado americano Tony Buzbee, em uma coletiva online feita nesta terça-feira (30). Segundo ele, nas próximas semanas serão abertos 120 processos contra o cantor, que está preso em Nova York desde 16 de setembro.
“Nós iremos expor os facilitadores que permitiram essa conduta a portas fechadas. Nós iremos investigar esse assunto não importa quem as evidências impliquem”, disse Buzbee, na coletiva. “O maior segredo da indústria do entretenimento, que, na verdade, não era segredo nenhum, enfim foi revelado ao mundo. O muro do silêncio agora foi quebrado.”
Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, o músico foi preso após meses de investigações. Ele, que ainda não foi julgado, nega as acusações que motivaram sua prisão.
Caso seja julgado culpado das acusações, ele pode ser condenado a prisão perpétua.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Quem é Sean Diddy Combs?
Seu nome é Sean John Combs e ele tem 54 anos. Nasceu em 4 de novembro de 1969 no bairro do Harlem, na cidade de Nova York, nos EUA. É conhecido por diversos apelidos: Puff Daddy, P. Diddy e Love, principalmente.
O rapper é um poderoso nome do mercado da música e produtor de astros como o falecido The Notorious B.I.G. Ele é considerado um dos nomes responsáveis pela transformação do hip-hop de um movimento de rua para um gênero musical hiperpopular e de importância e sucesso globais.
Diddy começou no setor musical como estagiário, em 1990, na Uptown Records, uma das gravadoras mais famosas dos EUA, e onde se destacou de forma meteórica e chegou a se tornar diretor. Em 1994, fundou sua própria gravadora, a Bad Boy Records.
Um de seus álbuns mais famosos, “No Way Out”, de 1997, rendeu a Diddy o Grammy de melhor álbum de rap. Principalmente depois do estouro com a música, Diddy fez ainda mais fortuna com empreendimentos do setor de bebidas alcoólicas e da indústria da moda, principalmente.
Ele também foi produtor de inúmeros artistas de sucesso e está por trás de grandes hits cantados por famosos. Muita gente, inclusive, o vê mais como um produtor e empresário do que como um músico.

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