De ‘Amor de chocolate’ a ‘Love love’, cantor relembra trajetória e avalia seu impacto para o estilo: ‘Eu sou o responsável pela mudança do funk pop’; ouça entrevista em podcast. Entre os anos de 2012 e 2013, a combinação de vodca e água de coco só não era mais conhecida que o nome do cantor Naldo. Grande hit da época, “Amor de chocolate” proporcionou ao funkeiro o sonho do sucesso, que ele cultivava há mais de dez anos.
Nesse período, fazia uma média de quatro shows por dia — às vezes, o número chegava a sete. “Eu hoje me pergunto: como eu conseguia comer?”, reflete, em entrevista ao g1 (ouça a conversa completa no podcast abaixo).
Na favela da Maré, no Rio, ele havia formado em 1996 uma dupla com o irmão Lula. Os dois lançaram um disco sem grande repercussão em 2001, mas, em 2008, uma tragédia interrompeu os planos: Lula foi encontrado morto no bairro de Bangu.
Naldo seguiu sozinho, e atingiu o auge com o DVD ao vivo “Na Veia Tour”, de 2012. Foi o trabalho que lançou “Amor de chocolate” e outros sucessos, como “Chantilly”, “Exagerado” e uma versão de “Meu corpo quer você” com participação de Preta Gil.
“Foram mais de dez anos tentando, pedindo a Deus para que isso acontecesse. Quando aconteceu, eu quis viver tudo.”
E viveu mesmo: ele fez 13 participações em sete meses no então Domingão do Faustão, conheceu ídolos e, na sacada de um hotel no Rio em 2013, viu o ator Will Smith ficar espantado com uma multidão cantando sua música na orla de Ipanema. Kanye West e Kim Kardashian estavam numa varanda logo abaixo, também assistindo à cena. Alguns acham que é mentira, mas está tudo gravado.
O ator Will Smith e o cantor brasileiro Naldo aparecem na sacada do hotel Fasano, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira de Carnaval. O astro apareceu na varanda para conferir a festa do bloco Afroreggae, que estava desfilando na orla da praia
Márcio Honorato/ Honopix/ Estadão Conteúdo
“O funk teve artistas com grandes momentos antes de mim, mas esse modelo, mirando uma carreira internacional, com grandes cachês, DVD e clipes em formato norte-americano, grandes festivais, essa cena o funk não tinha vivido antes de mim”, analisa.
No auge, os cachês de Naldo chegaram a R$ 300 mil, valor considerado alto na época, mais ainda para um artista de funk.
“Eu transformei uma parada do funk para o funk pop. Eu era o número um e o único. Não existia um artista fazendo aquele tipo de som, aquele tipo de show”, diz ele, ao explicar por que se considera responsável pela proporção que o estilo tomou depois.
“O escritório da Anitta falava assim: [o som dela] é tipo Naldo. O slogan era: o Naldo de saia. Antes de mim, não tinha tipo, não tinha exemplo. Então eu bato no peito e digo mesmo: eu sou responsável.”
Ascensão e declínio
Os anos de bonança de Naldo duraram até 2015, quando saiu o álbum “Sarniô”, com participação de Mano Brown e capa feita pelo artista plástico Romero Britto. O disco não deu muito certo, o número de shows foi diminuindo e os cachês também.
A crise se agravou em 2017, quando o cantor foi preso por posse ilegal de arma, depois que a polícia apreendeu uma pistola não registrada em sua casa. A operação de busca havia sido motivada por uma denúncia de agressão feita pela mulher de Naldo, Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho.
Ele foi solto após pagar fiança e, meses depois, reatou o relacionamento com Ellen. Os dois estão juntos até hoje. “É claro que percebi que a carreira não estava do mesmo jeito, era fato”, lembra.
“A gente quer a nossa engrenagem funcionando do mesmo jeito sempre, mas não era normal aquilo: viver na explosão, a mil por hora. Ninguém aguenta.”
Mas esse tempo também já é passado. Numa vida de altos e baixos, Naldo vive um novo momento de ascensão, com um impulso improvável: a fama de mentiroso, que ele acabou transformando em estratégia de marketing.
Aconteceu assim: ao contar causos de sua era de ouro em entrevistas, o cantor virou alvo de certa desconfiança nas redes sociais.
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Tudo porque ele chocou o astro da NBA LeBron James com um tênis incrível, que conseguiu num tal “lugar especial para pessoas especiais”; porque ficou amigo de Gisele Bündchen e a convenceu a voltar ao carnaval do Rio; porque foi a uma festa na casa de Chris Brown e o rapper o recebeu como um irmão: “Fucking shit! É o Naldo que tá ali?”, teria dito o americano, ao se deparar com o amigo, numa frase que se tornou viral.
Naldo garante que é tudo verdade: “Eu tenho prova de tudo”, afirma. “E acabei usando o meme ao meu favor. Quiseram me derrubar, me esculachar, fazer bullying. Eu poderia ter ficado com o psicológico ferrado, deprimido. Mas em vez disso passei a rir também, né? Fiz do limão uma limonada.”
A história com Chris Brown foi o mote para o lançamento de “Love love”, parceria com Melody, cujo clipe acumula quase 20 milhões de visualizações no YouTube. O DJ Matheus Alves, do Rio de Janeiro, teve a ideia de criar uma versão em piseiro do hit “Kiss kiss”, do rapper americano, e adaptá-la para a voz de Naldo. A participação de Melody foi acertada depois.
Melody e Naldo no clipe de ‘Love love’
Divulgação
Naldo diz que pretende mostrar a música ao “irmão” Chris Brown um dia. “Vai acontecer no momento certo”.
Antes disso, ele se dedica à construção do novo auge. Depois de “Love love”, lançou “Taca”, funk com influência de trap. Também prepara um EP e uma música em parceria com Djonga e o DJ RD, responsável por hits como “Sentou e gostou” (com MC Jottapê) e “Só quer vrau” (com MC MM).
“As pessoas brincam comigo, dizem: pô, Naldo, tu tá mais famoso do que quando era famoso. A ideia de quem me zoou na internet era outra, era me deixar mal. Mas eu dei a volta por cima, porque não sou de bobeira. Essa foi mole para quem passou tudo que eu já passei.”
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