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Festas e Rodeios

Thiago Amud vislumbra alumbramentos sociais no enredo iluminado do álbum ‘São’

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Maestria do compositor carioca é reiterada em repertório autoral que transita entre Rio de Janeiro e Bahia sem perder a África de vista. Capa do álbum ‘São’, de Thiago Amud
João Atala
Resenha de álbum
Título: São
Artista: Thiago Amud
Edição: Rocinante
Cotação: * * * * *
♪ Há resistente fio de esperança que ilumina o quarto álbum de Thiago Amud, São, disponível nos aplicativos de música desde 12 de novembro e com edição em LP prevista para dezembro pela gravadora Rocinante.
Condutor da fé do artista no poder transformador do Homem consciente, esse fio interliga a primeira música do disco – Graça, samba levado ao violão tocado pelo próprio Amud – à última resplandecente oitava faixa, História da Revolução Caraíba.
Graça é samba quase cool, cuja circularidade de melodia, cadência e letra repete e reforça a mensagem como mantra positivista a ser fixado na mente do ouvinte. E o recado é claro: por causa do ser amado pelo eu-lírico da letra, a canção escapa da morte e os corações se regeneram, entre outras bonanças.
O alumbramento se concretiza no enredo narrado e amarrado por Amud em História da Revolução Caraíba, majestoso samba que promove pajelança ao encerrar o álbum São. Samba-enredo que poderia vir assinado por Chico Buarque e/ou Francis Hime, História da Revolução Caraíba é obra-prima do gênero, o mais inspirado exemplar da safra apresentada neste ano de 2021.
No enredo futurista, mas situado no Brasil distópico de 2021, Amud imagina levante indígena em que madeireiros, mineradores e o Capitão – alusão ao desgovernante da nação – são flechados pela tribo que se insurge contra a “tragicomédia da classe média” defensora de intervenções.
Provável hit em idos tempos governados pela MPB, o samba-enredo História da Revolução Caraíba exemplifica com maestria a intenção de Amud de descomplicar (um pouco) a obra autoral sem perda da consistência poética e da sofisticação melódica que pautam o cancioneiro deste cantor, músico, arranjador e (grande) compositor carioca, residente atualmente em Belo Horizonte (MG).
Thiago Amud assina sozinho as oito músicas do álbum ‘São’
João Atala / Divulgação
Por esse movimento de tentar se aproximar do ouvinte sem diluir a consistência, o álbum São sinaliza evolução em relação aos anteriores Sacradança (2010), De ponta a ponta tudo é praia-palma (2013) e O cinema que o sol não apaga (2018) ao alinhar com coesão oito músicas compostas solitariamente por Amud e gravadas com produção musical dividida entre Elísio Freitas (cinco faixas), Marlon Sette (duas faixas) e Sylvio Fraga (uma, o já mencionado samba Graça).
Aos 41 anos, Thiago Amud já tem músicas assinadas em parceria com Francis Hime e Guinga, dois gigantes brasileiros na arte da composição. Isso diz muito sobre Amud. A propósito, a influência da arquitetura intrincada da obra de Guinga salta aos ouvidos em Chega de retranca, faixa em que Amud conjuga batidas de maracatu, ijexá e samba-reggae na pressão da guitarra de Elísio Freitas.
A questão é que, se Francis Hime foi revelado e projetado no momento certo (nas décadas de 1960 e 1970, respectivamente) e se Guinga já foi notado tardiamente nos anos 1990, mas ainda em tempo de angariar seguidores fiéis na era do CD, Thiago Amud já despontou fora de hora.
Com faixas longas para tempos voláteis, marcados pela fragmentação de álbuns nas plataformas digitais, São já chega ao mundo perdido no tempo insano de hoje, sem chance de ser notado pela geração fugaz do TikTok. Resta torcer para que encontre admiradores no nicho cada vez mais reduzido da MPB.
Seguidores do gênero certamente hão de identificar na crônica do samba E a gente ria traços da verve de Aldir Blanc (1946 – 2020) nas letras escritas pelo Bardo carioca para sambas compostos por João Bosco.
Se a cadência evoca sambas de Bosco & Blanc nos anos 1970, a crônica de E a gente ria se revela atual, original e até perturbadora ao perfilar o gado conservador que passava despercebido na manada até sair do armário com toda a artilharia de preconceitos e autoritarismo para, como diz Amud na letra, zombar da pandemia e se dizer cansado da democracia que o oprimia.
Thiago Amud em estúdio na gravação do álbum ‘São’
João Atala
Embora vários sambas e enredos situem São musicalmente na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum também se espraia pela Bahia. O ijexá Mar de minha mãe é banhado pela levada afro-brasileira em gravação assentada sobre o baticum do percussionista Luizinho do Jeje.
Em praia vizinha, Candeeiro, mariposa entra na roda do samba da Bahia. Já em Mães o mar cai na goela do sertão, estendendo a rota do disco São para o Brasil caboclo profundo já desbravado por compositores e poetas como Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro.
“Depois de tudo, sairão do chão / Mães amazonas, negras aiabás / No seio, o leite da ressurreição / No ventre, o sêmen dos iorubás”, vislumbra Amud, sem perder a África matricial de vista no horizonte, em versos que exemplificam a alta voltagem poética do álbum São.
Na pegada do samba-rock, Levante sul mantém a África no horizonte – desta vez, sob a perspectiva do Sudão – em faixa que cita música do bloco afro-baiano Olodum, Olodum Ologbom (Tita Lopes e Lazinho do Pandeiro, 1989), para incitar a revolução social e mental.
Contudo, é no samba-enredo História da Revolução Caraíba que o levante se concretiza na imaginação do iluminado poeta da canção, como alumbramento, glorificando luta em gravação que, por si só, justifica a existência do álbum São em tempos inglórios.

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Rock in Rio tem sábado só com atrações brasileiras e estreia de sertanejo; veja como será o 6º dia

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‘Dia Brasil’ foi inspirado em ‘We are the world’, de 1985, ano de surgimento do festival e data que é celebração desta edição; veja VÍDEO.
Rock in Rio 2024: o melhor do dia 21
O Rock in Rio 2024 deste sábado (21) tem uma programação voltada exclusivamente à música nacional. É o Dia Brasil. Vão se apresentar artistas de sertanejo, samba, MPB, bossa nova, música clássica, rap, trap e pop.
Rock in Rio 2024: tire suas dúvidas sobre ingresso no celular, itens proibidos, serviços e transporte
É também neste sábado que acontece a estreia do sertanejo no festival. Pela primeira vez em 40 anos, o gênero tomará os palcos do Rock in Rio, com os artistas Chitãozinho e Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior.
Os shows do Dia Brasil serão divididos por gênero musical, e cada um reunirá vários músicos.
Ana Castela na Festa do Peão de Americana
Julio Cesar Costa/g1
40 anos de festival
A edição que comemora os 40 anos do Rock in Rio segue até o dia 22 de setembro, na Cidade do Rock, zona oeste do Rio de Janeiro. No primeiro fim de semana, subiram ao palco Travis Scott, Imagine Dragons, Evanescence e Avenged Sevenfold. Katy Perry, Karol G, Mariah Carey, Akon, Shawn Mendes estão entre as atrações que ainda vão se apresentar.
Ainda há ingressos disponíveis para o dia 21 de setembro. As entradas estão à venda no site do evento.
Qual o line-up do Rock in Rio?
21 de setembro (sábado)
Palco Mundo
15h30 – Para sempre Trap, com Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matuê, Orochi, Ryan SP, Veigh
18h30 – Para sempre MPB, com Baianasystem, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Majur, Margareth Menezes, Ney Matogrosso e Gaby Amarantos
21h10 – Para sempre Sertanejo, com Chitãozinho e Xororó, Orquestra Heliópolis, Ana Castela, Júnior, Luan Santana e Simone Mendes
0h10 – Para sempre Rock, com Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty, Rogério Flausino, Toni Garrido
Palco Sunset
16h55 – Para sempre Rap, com Criolo, Djonga, Karol Conká, Marcelo D2, Rael
19h45 – Para sempre Samba, com Zeca Pagodinho, Alcione, Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Maria Rita e Xande de Pilares
22h35 – Para sempre Pop, com Duda Beat, Gloria Groove, Jão, Ludmilla, Luísa Sonza, Lulu Santos
Palco New Dance Order
22h – Para sempre Eletrônica, com Mochakk, Beltran X Classmatic, Eli Iwasa X Ratier, Maz X Antdot
Palco Espaço Favela
15h – Para sempre favela é Terra Indígena, com Kaê Guajajara convida Totonete e o grupo Dance Maré
17h – Para sempre Música Clássica, com Nathan Amaral, Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem
18h40 – Para sempre Baile de Favela, com Buchecha, Cidinho e Doca, Funk Orquestra, MC Carol, MC Kevin o Chris, Tati Quebra Barraco
20h40 – Para sempre Funk, com Livinho, Mc Don Juan, MC Dricka, MC Hariel, MC IG, MC PH
Palco Global Village
15h – Para sempre Jazz, com Antônio Adolfo, Joabe Reis, Joantahn Ferr e Leo Gandelman
17h – Para sempre Soul, com banda Black Rio, Cláudio Zoli, Hyldon
18h40 – Para sempre Bossa Nova, com Bossacucanova e Cris Delanno, Leila Pinheiro, Roberto Menescal, Wanda Sá
20h40 – Para Sempre Futuro Ancestral, com Gang do Eletro e Suraras do Tapajós
Palco Supernova
14h30 – Autoramas
16h – Vanguart
18h – Chico Chico
20h – Jean Tassy
22 de setembro (domingo)
Palco Mundo
16h40 – Luísa Sonza
19h – Ne-Yo
21h20 – Akon
0h – Shawn Mendes
Palco Sunset
15h30 – Homenagem a Alcione com Orquestra Sinfônica Brasileira, Diogo Nogueira, Mart’nália, Majur, Péricles, Maria Rita e Alcione
17h50 – Olodumbaiana
20h10 – Ney Matogrosso
22h45 – Mariah Carey
Palco New Dance Order
22h – Dubdogz
23h30 – Jetlag
1h – Bhaskar
2h30 – Kaskade
Palco Espaço Favela
16h – Luiz Otávio
19h – Livinho
21h – Belo
Palco Global Village
15h30 – Lia de Itamaracá
17h30 – Almério e Martins
19h15 – Angélique Kidjo
Palco Supernova
15h – LZ da França
17h – Gabriel Froede
18h30 – Zaynara
20h30 – DJ Topo

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Fãs voltam à época das discotecas e realizam sonho juvenil com show de Cyndi Lauper no Rock in Rio

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Dupla de amigas esteve no 1° Rock in Rio para ver Freddie Mercury e retornou para ver Cyndi Lauper. Fãs voltam à época das discotecas com show de Cyndi Lauper no Rock in Rio
Uma geração de frequentadores de matinês e discotecas viveu momentos de revival na noite desta sexta-feira (20), no Rock in Rio. O show de Cyndi Lauper fez quarentões e cinquentões — ou até mais velhos — reviverem grandes momentos da adolescência/juventude, quando curtiam as festas nos idos dos anos 80 e 90.
Para muitos fãs, a sensação é de estar em um grande flashback.
“É a primeira vez, eu acompanho ela desde os anos 80 e acho ela incrível, maravilhosa”, conta o funcionário público Wagner Rodrigues, de 58 anos.
“Acho que os fãs precisavam desse reencontro”, destaca a professora Fernanda Matos.
Cyndi Lauper canta em coro o sucesso ”Girls Just Want to Have Fun” no Rock in Rio
Uma senhora de 82 anos contou ao g1 que perdeu a apresentação da cantora em Buenos Aires durante a turnê da cantora pela América Latina em 2011 porque os ingressos esgotaram bem na vez de ela comprar. Agora, 13 anos depois, garantiu os bilhetes com cinco meses de antecedência para não perder a chance.
“Perdi em Buenos Aires, passei na porta do estádio e tinha acabado o ingresso. Chorei muito, agora o coração tá batendo forte”, conta Ana Maria.
“A Cindy sempre foi revolucionária, esteve à frente do tempo dela. Era um momento de liberdade e ela venceu todos os preconceitos”, conclui a professora Fernanda.
Um grupo de amigas, todas com blusas em alusão à música “Girls Just Wanna Have Fun” (assista acima), se emocionou com o início da apresentação.
Amigas desde o 1º Rock in Rio
Cyndi Lauper canta ”Time After Time” no Rock in Rio
A dupla de comadres Fátima Cruz e Isaelma Cardoso foi assistir ao show de Cyndi e se recordou dos tempos juvenis. Amigas há mais de 45 anos, elas se conheceram na faculdade e estiveram juntas na 1ª edição do Rock in Rio para ver o Freddie Mercury.
“Foi uma aventura, na época era lama, e agora estamos aqui juntas de novo e muito felizes por termos essa oportunidade, não tem preço”, declara Fátima.
“A Cyndi nos traz muitas recordações porque na época nós dançávamos muito”, conta Isaelma.

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Conheça o Espaço Delas, um ambiente seguro e acolhedor para mulheres dentro do Rock in Rio

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Sala de acolhimento feminino conta com “kit de primeiros socorros” com absorvente, água e carregador. Equipe também está preparada para ajudar vítimas de violência e assédio. Conheça um ambiente seguro e acolhedor para mulheres dentro do Rock in Rio
A 40ª edição do Rock in Rio tem um ponto de apoio especial só para as mulheres que estão curtindo o festival. O Espaço Delas é um ambiente acolhedor e inteiramente voltado para o universo feminino.
O espaço tem como objetivo auxiliar seja para a mulher que precisa de um ponto de encontro seguro, seja para a que quer descansar, ou até para quem precisa receber apoio especializado em casos mais graves, como assédio ou agressão. O suporte é garantido em todos os dias do festival.
No espaço, existe um kit de “primeiros socorros” com absorvente, lencinho, água, e algo muito importante na era da tecnologia: tomadas e carregadores.
Isabela Rozental, uma das fundadoras do Papo Delas, organização que cuida do espaço, lembra do caso de uma menina que se perdeu da família e contou com o apoio do espaço para conseguir voltar para casa.
“Uma menina jovem, se perdeu da família e a bateria dela acabou. Então, ela não só não conseguia entrar em contato com a mãe, como não conseguia pagar uma comida, uma bebida ou mesmo ir embora, porque tudo dela era no celular. Aqui nós emprestamos o carregador e ela logo conseguiu reencontrar a família e foi embora em segurança”, contou.
A psicóloga Geovana Russel explica que as ações do grupo não ficam restritas ao Espaço Delas. O grupo, junto com a organização do Rock in Rio, espalhou montou vários pontos de acolhimento pelo festival.
“A gente colou um cartaz na porta de cada cabine dos banheiros femininos, com informações sobre a campanha ‘Não é não!’. Eles têm um QR Code que aciona a nossa inteligência artificial. Então, quando uma mulher denuncia que foi vítima de algum tipo de agressão, o nosso suporte consegue chegar rapidamente até onde ela está”.
O festival é transmitido ao vivo todos os dias no Globoplay (com sinal 4K) e no Multishow.

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