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Festas e Rodeios

A história da morte misteriosa da artista Ana Mendieta, tema de retrospectiva em São Paulo

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Artista morreu em 1985 em circunstâncias nunca esclarecidas. Ela foi pioneira das artes visuais por abordar temas e técnicas que décadas mais tarde se tornariam comuns. Imagens da exposição de Ana Mendieta no Sesc Pompeia
A artista cubana-americana Ana Mendieta morreu ao cair do 34º andar do prédio onde ela e o marido moravam, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, em setembro de 1985.
A morte de Mendieta dividiu o mundo da arte na época: o marido, Carl Andre, foi julgado por assassinato e, ainda que tenha sido absolvido, muita gente ainda o considera suspeito.
De 1985 para cá, a influência dela no mundo das artes visuais aumentou. Mendieta é tida como uma pioneira ao tratar de diversos temas que, hoje, são mais comuns em obras, como o feminismo, a ligação com a natureza e a migração. No formato ela também foi uma precursora: ela usava materiais como lama, carvão e fogo (ou seja, elementos que não são da tradição dos museus) e fazia performances que gravava em filmes –não era uma novidade completa, mas hoje, certamente, é algo muito mais comum do que no início da década de 1970.
No Sesc Pompeia, em São Paulo, está em cartaz a primeira mostra retrospectiva da artista na América Latina. São 21 filmes que foram gravados originalmente em formato Super 8, mas foram digitalizados para a exibição (veja mais abaixo).
Ana Mendieta, em foto dos anos 80
Divulgação/Galeria da artista/Galerie Lelong & Co.
O julgamento de homicídio
Logo após a morte de Mendieta, o Ministério Público de Nova York considerou o marido de Ana Mendieta, Carl Andre, suspeito de homicídio.
De acordo com uma reportagem da época do “New York Times”, os promotores registraram o testemunho de uma pessoa que passava perto do prédio e que ouviu gritos. Também havia sinais de luta no apartamento e marcas de arranhões no rosto de Andre.
Andre, o marido, é um dos escultores mais importantes do século 20. Ele é um nome importante do minimalismo, um movimento que busca tirar os adornos das peças de arte para representá-las da forma mais simples possível.
As esculturas de Andre não têm pedestal. Algumas são só polígonos de metal no chão, para que os visitantes possam até mesmo andar em cima delas –a ideia é “dessacralizar” as obras, algo que vai contra uma das regras mais rígidas dos museus: a de que não se pode encostar nas peças.
Em 1985, quando Mendieta morreu e Carl Andre foi preso, o jornal “Washington Post” descreveu os acontecimentos como um choque. Um curador do Whitney Museum, um dos mais importantes museus de Nova York, afirmou que Andre era “um dos escultores mais importantes das artes americanos nos anos 1960”.
Já Mendieta não tinha chegado ao cânone ainda. No mesmo texto do “Washington Post”, um diretor de um instituto de arte de Los Angeles afirma que “as coisas estavam começando a acontecer para ela, ela estava ganhando reputação como artista”.
O julgamento aconteceu em 1988, e, diferentemente da maioria dos processos nos EUA, não foi um júri que decidiu, mas apenas um juiz, que considerou que o Ministério Público não apresentou provas suficientes de que Andre havia empurrado Mendieta do 34º andar e encerrou o caso.
Montagem com foto dos anos 1980 de Ana Mendieta e a reprodução de vídeo de 2014 que mostra Carl Andre
Wikicommons/Tate Modern
Ele afirmou no processo que os dois haviam discutido sobre reconhecimento no mundo das artes visuais –e o fato de que ele seria mais renomado do que ela. Ele disse que em um momento ele entrou no quarto, ela havia desaparecido, e a janela estava aberta.
As exposições de Andre nos EUA geralmente são motivos de protestos.
Peter Pan na Guerra Fria
Em 1959 os comunistas tomaram o poder em Cuba. Os pais de Ana Mendieta eram contrários ao regime; o pai dela chegou a ser preso.
Um dos episódios das relações entre EUA e Cuba após a revolução cubana foi a operação Peter Pan. Entre 1960 e 1962, cerca de 14 mil crianças cubanas (parte delas eram filhas de opositores ao novo regime) foram levadas aos EUA com o auxílio de um padre da Igreja Católica na Flórida.
Mendieta, com 12 anos, foi enviada para o estado de Iowa. Ela só viu a mãe depois de 5 anos, e o pai, depois de 18 anos.
Ela fez faculdade no fim da década de 1960 e, no começo da década de 1970, começou a trabalhar como artista visual.
Noos anos 1970 vários movimentos do mundo das artes visuais tinham como propósito mudar o conceito do que se entendia como arte. Uma das ideias era fazer obras com materiais pouco tradicionais, como a terra e a natureza. Também havia uma busca por fazer obras fora dos museus e galerias.
De acordo com o texto dos curadores da exposição no Sesc de São Paulo, ela está relacionada aos seguintes movimentos:
Arte conceitual;
Arte da terra (land art);
Arte feminista;
Arte processual (ou seja, o processo para fazer a obra também é importante e deve ser algo em que o espectador pensa);
Performance.
Sangue e silhueta
Reprodução de vídeo de Ana Mendieta em exposição no Sesc Pompeia
© Mendieta, Ana/ AUTVIS, Brasil, 2023
Em muitos dos vídeos que estão na exposição no Sesc há referências a sangue (ela pegava sangue em açougues).
Ela faz atos como desenhar uma silhueta com sangue na parede ou fazer uma inscrição com sangue em uma porta e registrar esses momentos.
A ideia de empregar sangue pode ser entendida como uma menção à violência contra a mulher. Em 1973 houve um caso de estupro e assassinato em uma universidade onde ela fazia pós-graduação. Ela fez uma obra com referência a esse crime.
Além do sangue, ela também aparece com frequência no meio da natureza: em uma margem de rio lamacenta, em um riacho, em uma montanha com pedras que cobrem o corpo dela.
Eventualmente, ela começa a registrar apenas uma silhueta, quase sempre em uma mesma pose: ereta, com os braços levemente abertos. É um ícone dela mesma (e, por extensão, de uma mulher) que vai se repetindo.
O próprio nome da exposição do Sesc Pompeia faz uma referência a isso: a mostra chama-se “Silhueta em Fogo”.
O que não aparece na exposição
Nos textos explicativos da exposição no Sesc Pompeia não há nenhuma referência à forma como Mendieta morreu –na cronologia só se diz que ela morreu em 1985 em Nova York.
As peças expostas são da galeria Lelong e do espólio dela, controlado pela família. O material expositivo, inclusive o texto do diretor do Sesc de São Paulo, passou pelo crivo da família.
Logo após a absolvição de Andre, a irmã e a mãe de Mendieta deram declarações em que culpavam o marido. Mas nos anos mais recentes não há falas como essa.
A única menção à forma como Mendieta morreu está em uma outra exposição, que é exibida no mesmo ambiente. Nessa outra exposição, as curadoras tentaram juntar obras de outras artistas mulheres que citam o tema da violência contra a mulher.
Uma das obras chama-se “Hand-Heart for Ana Mendieta” (Mão-coração para Ana Mendieta), e em um texto da artista, Carolee Schneemann, ela afirma que sonhou com a morte da cubana. É a única menção direta ao caso no Sesc Pompeia.
Ana Mendieta: Silhueta em Fogo | terra abrecaminhos
Exibição até 21 de janeiro
Terça a sábado, 10h às 21h; domingo e feriados, 10h às 18h
Sesc Pompeia: Rua Clélia, 93

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Raoni Ventapane, neto de Martinho da Vila, assina o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 2025

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♫ NOTÍCIA
♪ É inevitável recorrer ao clichê de que “na casa de Martinho da Vila, todo mundo é bamba” quando chega a notícia de que um dos netos do compositor fluminense integra o time campeão dos compositores que assinam o samba-enredo escolhido pela Unidos de Vila Isabel na madrugada deste sábado, 28 de setembro, para o desfile das escolas de sambas do Rio de Janeiro no Carnaval de 2025.
Integrante da Ala de Compositores da agremiação azul-e-branca que Martinho da Vila carrega no sobrenome artístico, Raoni Ventapane assina com Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva o samba criado a partir do enredo Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece.
Filho de Analimar Ventapane, Raoni é cantor, compositor e ritmista da Swingueira de Noel, nome do grupo de bateristas da Unidos de Vila Isabel.
O samba-enredo de Raoni Ventapane venceu outros dois sambas na disputa realizada na quadra da escola, que será a última a desfilar na segunda-feira de Carnaval.
Raoni Ventapane (ao centro) celebra a vitória do samba-enredo ‘Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece’ na disputa encerrada na madrugada de hoje
Divulgação / Unidos de Vila Isabel
♪ Eis a letra do samba-enredo campeão da Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 2025:
Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece
(Raoni Ventapane, Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva)
“Embarque nesse trem da ilusão
Não tenha medo de se entregar
Pois nosso maquinista é capitão
E comanda a multidão que vem lá do boulevard…
O breu e o susto em meio a floresta
Por entre os arbustos, quem se manifesta?…
Cara feia pra mim é fome
Vá de retro lobisomem, curupira sai pra lá.
No clarão da lua cheia
Margeando rio abaixo
Ouço um canto de sereia
Ê caboclo d’água
Da água que me assombra
A sombra da meia noite
Foi-se a noite de luar
Na tempestade, encantada é a gaiola
Chora viola, pra alma penada sambar
Nas redondezas credo em cruz ave maria
Quanto mais samba tocava, mais defunto aparecia
Silêncio…
Ao som do último suspiro vai chegar
A batucada suingada de vampiros
Quando o apito anunciar….
Eu aprendi que desde os tempos de criança
A minha vila sempre foi bicho papão
Por isso, me encantei com esse feitiço
Que hoje causa reboliço dentro desse caldeirão
Solta o bicho minha vila dá um baile de alegria
É o povo do samba virado na bruxaria
Quanto mais eu rezo, quanto mais eu faço prece
Mais assombração que aparece”

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‘Acabou vindo para cima de mim porque perdeu a cabeça’, diz ex de Ryan SP após foto em que funkeiro parece agredi-la

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Giovanna Roque reclamou de repercussão de imagem e disse que o músico está sendo alvo de ‘gente muito suja’ que deseja prejudicá-lo. MC Ryan SP e Giovanna Roque
Reprodução/Instagram
A influenciadora Giovanna Roque publicou no Instagram um vídeo em defesa de seu ex-namorado, MC Ryan SP. O post foi feito nesta sexta (27), horas após o vazamento de uma imagem em que o funkeiro parece estar dando chutes nela.
“O Ryan não é essa pessoa ruim que vocês estão pensando que ele é”, afirmou a influenciadora. “Ocorreu, sim, uma discussão no último término que a gente teve. O Ryan tinha aprontado e, nesse dia, eu perdi muito a cabeça, fiquei muito nervosa. Quebrei o telefone dele, fui para cima dele. E aí, ele ficou muito nervoso por conta dessas coisas e acabou vindo para cima de mim também, porque ele perdeu a cabeça. A gente deu abertura pro inimigo. Isso nunca aconteceu antes.”
Roque reclamou da repercussão da imagem e também disse que o músico está sendo alvo de “gente muito suja” que deseja prejudicá-lo. Os dois têm uma filha de nove meses.
“A gente realmente brigou”, afirmou ela. “Então, quer dizer que ele não pode errar uma vez?”
A assessoria do funkeiro disse que, por enquanto, não vai se pronunciar. Ryan é conhecido por hits como “Let’s Go 4”, “Filha do Deputado” e “Vai Vendo”.

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Quinteto Villa-Lobos irmana Caymmi, K-Ximbinho, Noel Rosa, Pixinguinha e Jacob nos sopros do álbum ‘Sempre’

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Quinteto Villa-Lobos lança o álbum ‘Sempre’ em 1º de outubro
Daniel Erbendinger / Divulgação
♫ NOTÍCIA
♪ Em cena desde 1962, o Quinteto Villa-Lobos sempre cruzou as fronteiras entre a música erudita e a canção popular brasileira ao longo dos 62 anos de atividade profissional.
Sempre – álbum que o grupo de sopros lançará na terça-feira, 1º de outubro, em edição da gravadora Biscoito Fino – investe nessa mistura de linguagens através dos registros fonográficos de temas de compositores brasileiros como Dorival Caymmi (1914 – 2008), Jacob do Bandolim (1918 – 1969), Joel Nascimento, K-Ximbinho (1917 – 1980), Noel Rosa (1910 – 1937) e Pixinguinha (1897 – 1973).
Formado atualmente por Aloysio Fagerlande (fagote), Cristiano Alves (clarinete), Philip Doyle (trompa), Rodrigo Herculano (oboé) e Rubem Schuenck (flauta), o Quinteto Villa-Lobos assina a direção musical e a produção do álbum em que irmana esses grandes compositores brasileiros nos sopros de Sempre.
Gravado no estúdio A casa, o álbum Sempre reproduz quatro arranjos de Paulo Sérgio Santos – como os do samba-canção Só louco (1955) e de Modinha para Gabriela (1975), temas de Caymmi – em tributo a este clarinetista que integrou o Quinteto Villa-Lobos por cerca de cinco décadas.
O repertório do disco inclui Ainda me recordo (Pixinguinha e Benedito Lacerda, 1932), Noites cariocas (Jacob do Bandolim, 1957), Teleguiado (K-Ximbinho, 1958) e O pássaro (Joel Nascimento, 1978), além de Visitando Noel, medley que agrega Feitiço da Vila (Vadico e Noel Rosa, 1934), As pastorinhas (Braguinha e Noel Rosa, 1934), Conversa de botequim (Noel Rosa e Vadico, 1935) e Palpite infeliz (Noel Rosa, 1935).
Capa do álbum ‘Sempre’, do Quinteto Villa-Lobos
Divulgação

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