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Festas e Rodeios

Fafá de Belém acende a dor, a alegria e o amor no show ‘A filha do Brasil’

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Sob direção de Gustavo Gasparani, a cantora se eleva em um dos melhores espetáculos da carreira ao seguir roteiro que prioriza músicas dos anos 1970. Fafá de Belém em cena no Teatro Bradesco, na noite de sábado, 16 de dezembro, na abertura do show ‘Fafá – A filha do Brasil’
Bianca Tatamiya / Divulgação
Resenha de show
Título: Fafá – A filha do Brasil
Artista: Fafá de Belém
Local: Teatro Bradesco (São Paulo, SP)
Data: 16 de dezembro de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ Fafá de Belém volta a se elevar em cena quatro anos após expor fraturas pessoais e sociais no show Humana (2019), espetáculo sombrio e introspectivo com o qual desconstruiu a imagem da cantora solar e risonha.
Show que chegou a São Paulo (SP) na noite de sábado, 16 de dezembro, após ter estreado em Porto Alegre (RS) em 25 de novembro, Fafá – A filha do Brasil mantém o alto nível cênico de Humana, mas em atmosfera quente, amazônica, com referências aos povos indígenas, evocados pelas palhas do primeiro dos três figurinos criados por Luiz Cláudio Silva, da marca Apartamento03.
Não por acaso, o roteiro partiu de Indauê-tupã (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1976), música do álbum inicial de Fafá, Tamba-Tajá (1976), disco com o qual a cantora vinda de Belém (PA) marcou território nortista quando o Pará parecia excluído do mapa da música do Brasil.
Fafá de Belém mostra vigor vocal ao seguir roteiro coeso no show ‘Fafá – A filha do Brasil’ sob direção de Gustavo Gasparani
Bianca Tatamiya / Divulgação
Sob direção de Gustavo Gasparani, conceituado encenador de teatro com atuação concentrada em palcos do Rio de Janeiro (RJ), Fafá transitou por vários Brasis antes de aportar novamente no norte com a toada amazônica Vermelho (Francisco Ferreira da Silva), gravada pela cantora no álbum Pássaro sonhador (1996) e alocada no roteiro do show como o ponto de chegada de trajetória artística que fará 50 anos em 2025.
Como Fafá ressalta após cair rodopiante no samba de roda Filho da Bahia (Walter Queiroz, 1975), a cantora nasceu em uma trilha de novela – no caso, a de Gabriela (TV Globo, 1975).
Vários temas de novelas pontuam o roteiro e alguns – como Coração do agreste (Moacyr Luz e Aldir Blanc, 1989), que bateu reverente ao arranjo da gravação original – são indissociáveis das tramas em que foram lançados e/ou projetados.
Contudo, calcar a promoção do show nessa particularidade – como vem sendo feito pela empresa Opus Entretenimento – é forma redutora de vender um dos grandes espetáculos da carreira de Fafá.
Alinhavado pelo diretor Gustavo Gasparani a partir do repertório apresentado pela artista, o roteiro de Fafá – A filha do Brasil é bem costurado, sem gorduras, e transcende as novelas, conciliando a alma popular da intérprete da década de 1980 – representada pela guarânia sertaneja Nuvem de lágrimas (Paulo Debétio e Paulinho Rezende, 1989), número de grande empatia – com o repertório da cantora na fase inicial vivida na gravadora Philips, de 1975 a 1980, como estrela radiante de identidade brejeira.
Fafá de Belém canta ‘Bilhete’ em momento denso do show ‘Fafá – A filha do Brasil’, em cujo roteiro também faz ‘Escândalo’
Bianca Tatamiya / Divulgação
Que bela surpresa foi ver e ouvir Fafá, entre rodopios, cantando novamente Bicho homem (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1980) com alguns versos falados para valorizar a letra-manifesto! O número poderia ter a percussão de Silvany Sivuca mais acentuada no arranjo dessa grande música que remete à atuação política de artista cujo canto chutou “o traseiro do ditador” na luta travada no Brasil nos anos 1980 pela democracia e por eleições diretas.
No todo, a direção musical e os arranjos do guitarrista e violonista Sandro Haick funcionam bem, com menção honrosa para a moldura de Viola enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1968). Ponto culminante de show que transcorreu em alto nível, a toada política surgiu em atmosfera íntima, calcada no piano de Luiz Karam, e foi ganhando progressiva intensidade até que a guitarra de Sandro Haick se impõe no arranjo, cortante como a viola que pode ser espada no sertão poético da letra.
Outro momento especial do show foi o canto seresteiro de Ontem ao luar (Pedro de Alcântara, 1907, com letra posterior de Catulo da Paixão Cearense, 1913), emoldurado somente pelos violões do baixista Iury Batista e de Sandro Haick.
Entranhada na memória afetiva de Fafá na vivência em Belém (PA), tendo sido apresentada à cantora pela Tia Zita mencionada no show, Ontem ao luar figura no segundo álbum da cantora, Água (1977), em gravação que reverberou na trilha sonora da novela A sucessora (TV Globo, 1978 / 1979).
Com a voz quente, posta nos mesmos tons dos anos 1970 e 1980, Fafá reviveu a poesia nortista de Pauapixuna (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977), adensou o canto em Dentro de mim mora um anjo (Sueli Costa e Cacaso, 1975) e entrou no clima de Sedução (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977) – música que brada contra o etarismo ao ser cantada em 2023 por mulher de assumidos 67 anos – antes de reviver os boleros Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977) e Sob medida (Chico Buarque, 1979).
Com dois atos e trocas de figurinos, o show teve a segunda parte iniciada com a sensual canção Que me venha esse homem (David Tygel com poema de Bruna Lombardi, 1979), tema de abertura da novela Um homem muito especial (TV Bandeirantes, 1980 / 1981).
Que me venha esse homem preparou o clima para a densidade de Escândalo (Caetano Veloso, 1981) e Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980), música da qual Fafá se apropriou a partir de gravação feita dois anos após o registro original do autor Ivan Lins.
Fafá de Belém canta músicas de Milton Nascimento e Fernando Brant, como ‘Raça’ e ‘Bicho homem’, no show ‘Fafá – A filha do Brasil’
Bianca Tatamiya / Divulgação
Dois números depois, a récita de parte da letra de Nossa Senhora (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1993) alcançou feitio de oração que soou sincera na voz de artista que virou espécie de embaixatriz do Círio de Nazaré na terra natal.
No fim, o canto de Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) celebrou a diversidade do povo brasileiro enquanto a lembrança de Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975) revolveu a raiz afro desse Brasil com o canto de música que ganhou as pistas do país e do mundo ao longo deste ano de 2023 em movimento iniciado com a edição de remix lançado pelo DJ Zé Pedro em março.
No bis, com o terceiro figurino do show, Fafá deu voz a um imenso pot-pourri que partiu de Meu disfarce (Chico Roque e Carlos Colla, 1986) e abarcou no caminho os refrãos de sucessos de novela como O amor e o poder (The power of love – Candy de Rouge, Gunther Mende, Jennifer Rush e Mary Susan Applegate, 1984, em versão em português de Cláudio Rabello, 1987) e Aguenta coração (Ed Wilson, Paulo Sergio Valle e Prêntice, 1990).
Foi quando pulsou a veia mais popular dessa cantora que também traz na voz a alma sentimental do país que a pariu. No show A filha do Brasil, Fafá de Belém acende a paixão do canto que carrega as dores, alegrias e amores da artista. Um canto mais puro que é a força e a energia da artista.
Fafá de Belém canta sucessos de novelas em pot-pourri alocado no bis do show Fafá – A filha do Brasil’
Bianca Tatamiya / Divulgação
♪ Eis o roteiro seguido por Fafá de Belém em 16 de dezembro de 2023 na apresentação do show Fafá – A filha do Brasil no Teatro Bradesco, na cidade de São Paulo (SP):
Ato I
1. Indauê-tupã (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1976)
2. Pauapixuna (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977)
3. Filho da Bahia (Walter Queiroz, 1975)
4. Bicho homem (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1980)
5. Dentro de mim mora um anjo (Sueli Costa e Cacaso, 1975)
6. Sedução (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977)
7. Foi assim (Paulo André Barata e Ruy Barata, 1977)
8. Ontem ao luar (Pedro de Alcântara, 1907, com letra posterior de Catulo da Paixão Cearense, 1913)
9. Viola enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1968)
10. Sob medida (Chico Buarque, 1979)
Interlúdio – Tema instrumental com a banda
Ato II
11. Que me venha esse homem (David Tygel com poema de Bruna Lombardi, 1979)
12. Escândalo (Caetano Veloso, 1981)
13. Bilhete (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980)
14. Coração do agreste (Moacyr Luz e Aldir Blanc, 1989)
15. Nossa Senhora (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1993)
16. Nuvem de lágrimas (Paulo Debétio e Paulinho Resende, 1989)
17. Raça (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976)
18. Emoriô (João Donato e Gilberto Gil, 1975)
19. Vermelho (Francisco Ferreira da Silva, 1996)
Bis:
20. Meu disfarce (Chico Roque e Carlos Colla, 1986) /
21. Memórias (Leonardo, 1986) /
22. O amor e o poder (The power of love – Candy de Rouge, Gunther Mende, Jennifer Rush e Mary Susan Applegate, 1984, em versão em português de Cláudio Rabello, 1987) /
23. Alma gêmea (Peninha, 1993) /
24. Aguenta coração (Ed Wilson, Paulo Sergio Valle e Prêntice, 1990) /
25. Abandonada (Michael Sullivan e Paulo Sérgio Valle, 1996)
♪ O crítico viajou a São Paulo (SP) a convite da produção de Fafá de Belém.
Fafá de Belém usa figurinos criados com palha no show ‘Fafá – A filha do Brasil’, apresentado em Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP)
Bianca Tatamiya / Divulgação

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Uma noite com (a música de) Djavan na trilha ao vivo de bar do Rio de Janeiro

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♫ COMENTÁRIO
♩ Jantei hoje à noite em bar-restaurante do centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ). No cardápio, música ao vivo na voz de um (bom) cantor. Um cantor de barzinho, como tantos que ganham a vida anonimamente na noite enquanto batalham por lugar ao sol no mundo da música.
Além da voz bem colocada do cantor, me chamou a atenção a predominância do cancioneiro de Djavan no repertório do artista. Em cerca de meia hora, duas músicas, Outono e Se…, ambas do mesmo álbum do cantor e compositor alagoano, Coisa de acender (1992).
É curioso o poder da música de Djavan. Passam os anos e passam as modas do mundo da música, mas Djavan nunca sai de moda. Todo mundo canta junto. Todo mundo gosta. E olha que Djavan nunca fez canções do estilo tatibitate.
Se… ainda pode ser considerada uma canção radiofônica, embora muito acima do padrão das canções feitas para tocar no rádio. Já Outono é balada pautada pela sofisticação poética e harmônica.
Mesmo assim, Outono resiste como uma trilha dos bares em todas as estações ao lado de joias do mesmo alto quilate como Meu bem querer (1980), Samurai (1982), Sina (1982), Lilás (1984) e, claro, Oceano (1989). Isso para não falar nos sambas como Fato consumado (1975).
Djavan tem essa particularidade. É um compositor extremamente requintado, mas, ao mesmo tempo, consegue empatia com o público. Todo mundo sabe cantar as músicas de Djavan.
Deve ser por isso que o artista, já com mais de 50 anos de carreira, ainda reina nas trilhas dos bares e restaurantes com música ao vivo. Parece banal, mas é preciso ser gênio para ocupar esse trono ao longo de décadas.

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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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