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Festas e Rodeios

As estranhas raças de cães que desapareceram

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Desde um cão vegetariano até outro que servia de aparelho de cozinha, o mundo já foi o lar de uma série de cães estranhos antigos. Mas para onde eles foram – e será que podemos trazê-los de volta? Os Sealyham terriers eram originalmente criados para caçar lontras, furões e doninhas, mas hoje sua população está diminuindo
Getty Images
Em um canto particularmente montanhoso no sul do País de Gales, no Reino Unido, em algum lugar dentro das paredes quase destruídas de um castelo normando, você encontrará o último membro que restou de uma linhagem desaparecida há muito tempo: uma cadela chamada Whisky.
Com seu corpo em forma de salsicha e pernas curtas e compactas, à primeira vista ela poderia ser uma variedade exótica da raça dachsund. Mas, olhando mais de perto, você começará a notar algumas singularidades.
O pelo avermelhado do pequeno animal é sedoso, mas desalinhado, parecendo mais um Yorkshire terrier. Já a sua cauda é um tufo crespo bem arrumado, como a dos lulus-da-pomerânia. O seu rosto também é diferente – ela tem um nariz voltado para cima e orelhas como a do cocker spaniel, cortadas rente à sua cabeça, lembrando os cortes de cabelo em tigela usados pelas gerações de lordes medievais que habitaram o forte antes dela. Seus olhinhos brilhantes estão sempre vidrados.
Esta última característica não é surpreendente, já que Whisky, na verdade, é uma cadela empalhada da raça Turnspit (“girador de espeto”, em tradução livre) – a última relíquia de uma raça antiga de cães que foi extinta na era vitoriana.
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Ela costumava trabalhar na cozinha de uma propriedade rural próxima, onde teria passado muitas horas andando em uma espécie de roda para hamsters maior, pendurada na parede em cima do fogo. A roda era conectada a um espeto giratório por um sistema de polias, de forma que, quando a roda girasse, faria também girar o espeto.
Os cães Turnspit eram exatamente isso: cachorros pequenos, criados especificamente para correr por horas a fio, fazendo girar um espeto para assados.
A história da raça Turnspit pode parecer absurda para os padrões modernos, mas há quem argumente que ainda existam muitos cães hoje em dia que poderiam concorrer com ela em excentricidade.
A Federação Cinológica Internacional reconhece oficialmente cerca de 370 raças de cães diferentes, incluindo o cão de crista chinês, que foi vítima da moda com seu corpo acinzentado sem pelos, mas com tufos de longos pelos claros; o Puli – basicamente, um esfregão vivo, totalmente coberto por longas tranças – e o aspirante a leão, o mastim tibetano, famoso pelo seu enorme tamanho e longa juba dourada.
A questão é que costumava haver mais, muito mais.
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Por séculos, o mundo abrigou uma enorme diversidade de cães extravagantes. Alguns deles eram tão bizarros que pareciam fabricados. No Havaí, existiu o Poi, que só comia vegetais e era tratado mais como uma cabra que como um parente dos lobos. Já na costa noroeste do Pacífico, no Canadá, havia o lanoso Salish, um cão-pastor criado para produzir lã, que era transformada em roupas.
Apesar do seu carisma e da popularidade do passado, essas raças agora não são mais do que fantasmas – memórias apagadas e reconstruídas a partir de histórias, registros escritos e espécimes dispersos em museus.
Mesmo o Talbot, que era o cão típico da Idade Média, presente em muitos brasões; o chien-gris, amado pela nobreza francesa e considerado em sua época o único cão merecedor de ser incluído nas caçadas reais; e o ameaçador molosso, que lutava contra leões e era o favorito na Grécia Antiga, simplesmente não conseguiram sobreviver aos caprichos do gosto humano.
De onde vieram essas raças excêntricas de cães? Por que nós os abandonamos? E será que algumas dessas raças ainda poderão existir, escondidas da nossa visão?
Inovações
Atualmente, o conceito de raça é bem definido como um grupo de cães com um certo conjunto de características, que – exceto por falhas ocasionais – geralmente só se reproduzem com outros do mesmo grupo. Mas este é um desenvolvimento relativamente recente.
Por milênios, não havia raças oficiais ou livros de registro de origem, nem programas de seleção cuidadosos. Na verdade, os cães eram muitas vezes classificados de acordo com a sua função – como o “cão para caçar cervos” ou o “cachorro de colo” – e com o seu local de origem.
“A palavra [frequentemente] utilizada era ‘tipos'”, afirma Michael Worboys, professor emérito do Centro de História da Ciência, Tecnologia e Medicina da Universidade de Manchester, no Reino Unido. “Mas as pessoas tinham todo tipo de nomes para os diferentes tipos de cães. Elas falavam sobre variedades, sobre linhagens…”
Embora os cães normalmente fossem criados com outros do mesmo tipo, na verdade, ninguém mantinha registros – e, por isso, esses grupos eram categorias muito mais livres que agora no século 21.
“Eram como as cores do arco-íris”, conta Worboys. “Não havia uma divisão clara e definida. Então havia os galgos, mas eles como que se mesclavam com os foxhounds, que se prestavam a um tipo de trabalho diferente.”
Vamos tomar o exemplo de Péritas, o cão favorito de Alexandre, o Grande, que ele criou desde filhote.
Acredita-se que o cão fosse uma variedade da Grécia ou da Macedônia, talvez um cão da Lacônia – um enorme cão atlético, empregado principalmente para caçar cervos e lebres. Eles eram famosos em todo o mundo antigo e foram amplamente ilustrados em esculturas clássicas, mosaicos, túmulos e copos de bebida. Com seus rostos parecidos com lobos, focinhos longos e olhos brilhantes, eles lembravam os greyhounds modernos, mas algumas fontes discordam sobre suas outras características.
Embora alguns escritores antigos descrevessem os cães desse tipo como corredores excepcionais – eles eram também conhecidos como os “velozes da Lacônia” -, outras fontes relatam que eles eram lentos e confiavam principalmente no seu faro para caçar as suas presas. Independentemente das suas habilidades, conta-se que Alexandre, o Grande, amava tanto seu cão que homenageou Péritas dando seu nome a uma cidade indiana quando ele morreu (embora esse fosse um hábito do rei, que também deu a outra cidade o nome do seu cavalo, Bucéfalo).
Mas tudo isso mudou com a criação das exposições de cães, em meados do século 19. Como Worboys escreveu em seu livro, “A invenção do cão moderno” (em tradução livre do inglês), em coautoria com os historiadores Julie-Marie e Neil Pemberton, os vitorianos tomaram os tipos aproximados que existiam na época e os aperfeiçoaram em raças com características claramente definidas.
“O objetivo era ter uma população com aparência uniforme”, segundo Worboys. “Era quase como criar nozes e parafusos, ou tempos, padronizados. Em certo sentido, os cães espelhavam o que estava acontecendo com a indústria. Eles estabeleceram padrões e criaram para atingir esses padrões, de forma que um cocker spaniel tivesse a mesma aparência em qualquer lugar do mundo.”
Um cão que personifica essa tendência é o terra-nova, originário da província do mesmo nome no leste do Canadá – uma região costeira gelada com clima polar ou subpolar em algumas regiões. Com sua aparência peluda, lembrando um urso, o tipo se tornou popular como animal de estimação na Grã-Bretanha do século 18, especialmente entre as classes mais altas da sociedade.
Lord Byron comprou um terra-nova quando tinha 15 anos de idade e deu-lhe o nome de Boatswain. Quando o animal morreu, o poeta o enterrou em um enorme túmulo de mármore, no qual ele inscreveu um tributo, o Epitáfio para um Cão: “… seu coração honesto ainda pertence ao seu mestre, que trabalha, luta, vive e respira somente para ele…”
“[Os primeiros vitorianos] gostavam deles porque acreditavam que eles fossem cães nobres que salvavam vidas. O importante sobre eles era sua personalidade”, afirma Worboys. Na época, a aparência do cão terra-nova era variada – havia animais com todas as tonalidades de preto e branco.
Mas, quando as raças foram inventadas, algumas décadas depois, a estética do terra-nova foi subitamente questionada. “O labrador [inicialmente reunido com os outros cães terra-nova] foi padronizado”, conta Worboys. “Os vitorianos decidiram que ele poderia ser preto – todo preto – com forma padrão, ou ter uma variedade preta e branca que recebeu um nome diferente.”
Segundo Worboys, essa padronização foi uma razão importante para um evento surpreendente, mas pouco conhecido, ocorrido durante a era vitoriana: “Existe um consenso de que ocorreu o que os geneticistas populacionais chamam de gargalo”.
Depois de viverem por mais de 30 mil anos ao lado dos seus companheiros humanos e do desenvolvimento de centenas de tipos diferentes em todo o mundo – para diferentes climas, hobbies, gostos e profissões -, os cães ficaram subitamente à mercê das exposições e dos eventos esportivos.
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“Existem diversos cães que foram abandonados pelos vitorianos”, afirma Worboys. “Se os cães não tivessem sucesso em exposições, eles quase desapareciam. Ninguém os criava, ninguém os comprava, ninguém os exibia.” A era vitoriana presenciou uma espécie de extinção em massa de cães que haviam vivido por milênios.
Atualmente, quase todas as raças de cães sobreviventes um dia enfrentaram o desafio desse gargalo – e são descendentes do pequeno número que atendeu aos modismos e gostos peculiares daquela era. Como resultado, grande parte da diversidade genética antes encontrada nos cães desapareceu para sempre.
Mas as exposições são apenas um dos muitos motivos do desaparecimento de tantos cães nos últimos séculos.
Um amigo infeliz
Em grande parte do século 17, os ganidos dos apressados cães Turnspit podiam ser ouvidos em quase todas as grandes casas da Inglaterra, enquanto eles preparavam carnes para alimentar hordas de cavaleiros ou outros visitantes importantes.
Era uma vida triste – os infelizes cachorrinhos eram considerados rústicos, inferiores e medonhamente feios. Era comum que eles fossem regularmente tratados com crueldade.
No livro colorido e, às vezes, divertido “Anedotas de Cães” (em tradução livre do inglês), de 1846 (que, entre outras coisas, sugere que “as almas de oficiais de justiça e policiais comuns mortos estão nos corpos dos cães de caça”), o escritor inglês Edward Jesse escreveu que, na sua juventude, “da mesma forma que são conhecidos hoje, [os cozinheiros] eram muito irritados e, se o pobre animal, exausto por ter que girar um mecanismo maior que o habitual, parasse por um momento, podia-se ouvir a voz do cozinheiro repreendendo-o em termos nada gentis”.
Para descrever o absoluto horror dessa tarefa – que incluía o trabalho no calor quase insuportável do fogo, asfixiado pela fumaça da cozinha, por horas a fio -, Jesse também conta uma anedota sobre uma matilha de cães Turnspit da cidade de Bath, no Reino Unido, que gostavam de se reunir na igreja durante as cerimônias religiosas para relaxar. Um dia, a palavra “spit” (espeto) surgiu por acaso em um sermão. Todos eles saíram correndo do salão, achando que seriam chamados para ir trabalhar.
Mas, na virada do século 19, a invenção dos giradores mecânicos mudou tudo. Rejeitados como animais domésticos e sem utilidade na cozinha, os cães repentinamente desapareceram – até serem quase completamente extintos já em 1807 e sumirem por completo algumas décadas depois.
Após uma vida inteira de serviço, Whisky terminou como um espécime empalhado para exibição em uma loja. Em 1959, ela foi dada de presente ao Castelo de Abergavenny, no País de Gales, onde reside atualmente em um pavilhão de caça do século 18.
Quando um tipo específico de cão não era mais necessário, o seu destino poderia ser rápido.
Esse foi exatamente o destino que pode também ter atingido o Poi havaiano – um cão pequeno, parecido com o Jack Russell terrier, nativo do Pacífico Sul.
Coincidentemente, ele também se parecia com o Turnspit e, como ocorreu com aqueles primos distantes, algumas fontes o consideravam feio.
Os polinésios formaram forte conexão com seus cães Poi – eles os defendiam ferozmente dos perigos e enterravam seres humanos e cães juntos.
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Mas as “descrições dos visitantes europeus não eram tão gentis”, segundo Carys Williams, pesquisadora da ONG Dogs Trust, no Reino Unido, que estudou os Poi. “Eles costumavam levar collies e cães muito utilitários em suas viagens, até que desembarcaram naquelas ilhas e encontraram esses pequenos cães esqueléticos com patas tortas… e não achavam que eles fossem uma imagem bonita de se ver.”
Os Poi não conseguiam latir, e isso provavelmente não ajudou a melhorar a sua imagem. “Esses animais só sabem uivar e ganir, nos tons mais patéticos que se pode imaginar”, escreveu um explorador em 1880, segundo as pesquisas de Williams.
Evidências genéticas sugerem que os Poi eram parentes próximos dos dingos australianos e descendiam de cães levados para as ilhas dezenas de milhares de anos atrás. Os cães foram criados pelos ilhéus como animais de estimação por séculos, apesar, como explica Williams, da quase total ausência de um papel funcional para eles, seja na caça, segurança (não há grandes predadores nas ilhas de quem se defender), transporte (as ilhas são muito pequenas e não há necessidade) ou pastoreio (a maioria dos nativos criava porcos).
Havia apenas uma função para eles: servir de alimento. O Poi era criado como animal de companhia e também, espantosamente, comido, mas normalmente apenas como parte de banquetes cerimoniais.
Quando um cão era morto, sua pelagem poderia ser incorporada às roupas e seus dentes eram usados na produção de joias (um museu de Honolulu possui em sua coleção 13 chocalhos de tornozelo, que exigiram 11.218 dentes, de 2.805 cães, para serem feitos).
Mas talvez o mais notável sobre esses cães é que, em sua maioria, eles eram vegetarianos. De fato, a palavra Poi vem do prato havaiano do mesmo nome, que é um alimento básico feito tradicionalmente triturando-se raízes de taioba cozidas sobre uma tábua de madeira até que atinja consistência de pasta. Ele formava a base da alimentação dos cachorros, às vezes com a adição de sobras de comida.
“A alimentação vegetariana foi mais uma escolha humana que dos cães”, afirma Williams, que explica que existem indicações de que os cães apresentavam nutrição deficiente. Uma análise dos esqueletos encontrados em sítios arqueológicos revelou cavidades dentais e sinais de atrofia mandibular, possivelmente causadas pelo amido da taioba e pela falta de necessidade de mastigar sua comida.
Mas, depois de passarem milênios no centro da cultura polinésia, os Poi acabaram caindo em desgraça. Os colonizadores ocidentais levaram seus próprios cães para lugares como o Havaí – e, à medida que eles se miscigenavam, os cães nativos começaram a desaparecer.
Ao mesmo tempo, esses novos colonizadores provocaram mudanças de comportamento, até que não era mais considerado aceitável comer seu animal de estimação. Os últimos cães Poi viveram na segunda metade do século 19 – e não foram deixadas pinturas, fotografias nem outras obras de arte que pudessem ser relacionadas a eles com segurança.
“Ele [o Poi] provavelmente seria muito adequado para a vida moderna – com toda a honestidade, um cão muito agradável com nível de agressividade muito baixo”, afirma Williams.
Esta não seria a primeira vez em que o colonialismo e a perda de funcionalidade conspirariam para a extinção de um tipo antigo de cão.
Outro exemplo clássico é o cão lanoso Salish, que desempenhou um papel historicamente importante na cultura dos povos do grupo indígena da Costa Salish, na região noroeste do litoral do Pacífico, no Canadá. Esses cachorros felpudos, com orelhas moles, eram sempre bancos e sua lã macia era frequentemente penteada, de forma que a lã que se soltasse pudesse ser tecida e transformada em cobertores.
Mas eles não eram apenas ovelhas caninas. Os cães lanosos eram tratados com respeito e reinavam nas casas das pessoas, onde eram mimados e adorados. Como os cães usados para caçar, por exemplo, eles eram considerados intermediários entre os animais e os seres humanos – e, por isso, muitas vezes recebiam nomes e eram enterrados quando mortos.
Como ocorreu com os Poi, o desaparecimento dos cães lanosos acompanhou uma importante mudança de estilo de vida causada pela chegada dos colonizadores ocidentais. “Ele se deveu, em parte, à disponibilidade de outros tipos de materiais”, segundo Dana Lepofsky, professora de arqueologia da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que estudou os cães. “Mas também ocorreu porque todo o contexto social daquela cultura tecelã mudou com a colonização.”
O possível renascimento
Mas a miscigenação entre as “raças” modernas e os “tipos” antigos levanta uma possibilidade tentadora: poderá haver cães Poi vivendo hoje, “disfarçados” de cães comuns?
Essa ideia fez com que o curador de animais Jack Throp tentasse realizar uma ressurreição biológica no zoológico de Honolulu, no Havaí, na década de 1960.
Promovendo a reprodução de cães com características dos Poi entre si e fazendo o mesmo com diversas gerações das suas ninhadas, ele esperava concentrar o genes do tipo Poi até que ele surgisse por hibridização.
“Existe uma fotografia maravilhosa no [jornal] Honolulu Star mostrando que Throp recriou o que ele acredita ser um cão com a aparência que devia ter o Poi”, afirma Williams.
Infelizmente, os resultados do projeto não foram bem documentados e, pouco tempo depois, o projeto foi aparentemente encerrado. “E, mais uma vez, a raça nunca atraiu popularidade, com pessoas que desejassem preservá-lo”, acrescenta Williams.
Mas poderá haver uma nova vida para os cães Salish, cujos estudos etnográficos sugerem que ele às vezes foi cruzado intencionalmente com lobos e coiotes para torná-los melhores caçadores. Kasia Anza-Burgess, ex-arqueóloga que estudou o povo Salish e sua relação com os cães, é otimista e acredita que talvez a sua linhagem esteja viva em algum lugar selvagem.
“Não encontramos nenhuma evidência genética [de hibridização] em nossas amostras [de ossos de cães Salish em sítios arqueológicos]”, afirma Anza-Burgess.
Mas ela indica que apenas examinou o DNA mitocondrial, que é passado das mães para as suas ninhadas. Isso é significativo, pois – naturalmente – eram as fêmeas dos cães que o povo Salish permitiria que cruzassem com os lobos ou coiotes, de forma que a introdução de genes selvagens sempre viria dos machos.
“Acho que seria fascinante que as pesquisas futuras examinassem os genomas inteiros e não apenas a linhagem materna, para ver qual tipo de cruzamento pode ser encontrado ali. As evidências de que deve haver algo parecem bastante fortes – nós apenas não a encontramos”, afirma Anza-Burgess.
Uma decisão delicada
Nos dias de hoje, os cães ameaçados de extinção enfrentam um novo obstáculo no caminho para a sobrevivência: o conflito entre a genética e a ética.
Na última década, o aumento da consciência sobre a baixa diversidade genética de muitas raças (particularmente, as variedades com pedigree) levou as organizações que cuidam de cães a levar mais a sério o entrecruzamento.
Atualmente, algumas raças possuem populações tão pequenas que a questão ética de mantê-las dessa forma torna-se delicada – sua baixa diversidade genética pode torná-las mais susceptíveis a deformidades ou doenças. Em algum momento, a “depressão endogâmica” – que ocorre quando a fertilidade de uma população é prejudicada pelo acúmulo de variantes genéticas não saudáveis – pode extingui-las por completo.
Uma raça ameaçada é o Sealyham terrier, que esteve na moda entre as celebridades nas décadas de 1930 e 1940. Cary Grant, a Princesa Margaret, Marlene Dietrich, Elizabeth Taylor, Bette Davis e até Agatha Christie – todos eles tiveram um desses fofos cães brancos algum dia. Com seu pelo branco ondulado e barbas distintas, os cães quase pareciam ser metade cordeiros, metade humanos.
Mas, depois de décadas de popularidade, eles caíram em declínio com o surgimento de raças de cães de tosa, como o cockapoo – cruzamento de poodle e cocker spaniel – que possui características fofas similares.
Após atingir seu menor nível populacional em 2008, as populações de Sealyham terriers atualmente se encontram em constante crescimento. Mas a sua população total em criação ainda é apenas de pouco mais de 100 – que é frequentemente considerado o limite inferior para a sobrevivência de espécies ameaçadas.
Considerando a nova preocupação com a saúde genética dos cães, Worboys não acredita que haja atualmente muita esperança para raças ameaçadas, como o Sealyham. Ele relembra uma conversa que teve com um veterinário em um clube de criadores de cães alguns anos atrás “e ele estava dizendo, confidencialmente, que existem cerca de seis ou sete raças que ele gostaria que desaparecessem porque elas causam mais problemas do que valem”.
Quem sabe dizer se cachorros encantadores como o Old English Sheepdog, o Sealyham terrier e o Wolfhound irlandês poderão, talvez em breve, ser incluídos na lista de curiosidades históricas extintas, junto com tantos outros.

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Ne-Yo treina na ‘SmartFlintstones’, academia ao ar livre no Arpoador; VÍDEO

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A ida do americano ao espaço rústico aumentou a lista dos rolês aleatórios dos astros pela cidade. Ne-Yo treina em academia do Arpoador; cantor se apresenta no Rock in Rio no domingo (22)
O cantor Ne-Yo, atração do último dia do Rock in Rio, domingo (22), foi visto neste sábado (21) malhando na academia ao ar livre do Arpoador, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A ida do americano à “SmartFlintstones” ou “BodyTreco” — como o espaço rústico é chamado — aumentou a lista dos rolês aleatórios dos astros pela cidade.
Ne-Yo apareceu levantando halteres feitos de concreto, fazendo agachamentos e socando um saco de areia — e tudo de graça, porque a Arpex Academia não cobra nada.
O artista chegou ao Brasil na última quarta-feira (18) e se apresentou no Espaço Unimed, em São Paulo, nesta quinta (19). O astro foi até o Beco do Batman, região turística da Vila Madalena, marcada pelos grafites nas paredes, feirinha de artesanatos, galerias de arte, bares e restaurantes. Na legenda, se arriscou no português. “Bom dia, Brazil”, com a letra Z no lugar do S.
Ne-Yo treina na academia do Arpoador
Dilson Silva/AgNews
A ‘SmartFlintstones’
Na orla onde o metro quadrado é um dos mais caros do país, cariocas e turistas malham de graça, ao ar livre e ouvindo o barulho do mar.
Com halteres e equipamentos feitos de concreto e sucata, a Arpex Academia🏋🏾 – mais conhecida como “Academia dos Flintstones”💪 – funciona 24 horas por dia, tem mensalidade de R$ 0 e uma das mais lindas vistas do Rio de Janeiro: à beira-mar, no calçadão entre as praias do Arpoador e do Diabo 🌊, na Zona Sul.
O apelido inicial, em homenagem ao desenho animado que se passa na Idade da Pedra, recentemente ganhou derivações bem-humoradas, que brincam com o nome de grandes redes de academia do país.
“A galera brinca, né? É a Academia dos Flintstones, é a BodyTreco [em referência à Body Tech], SmartFlintstones [piada com Smart Fit]. Chamem como quiser, vem e aproveita”, brinca o ex-lutador de Muay Thai e colaborador da academia Bernardo Braga.
Rolês aleatórios
Dennis DJ recebe Zara Larsson em casa após parceria no Rock in Rio
A cantora Zara Larsson aproveitou a praia com o namorado, conheceu a estátua do Cristo Redentor e provou comidas brasileiras, como o pastel.
🌶️ Sentada em uma mesa de boteco, como definiu a influenciadora Nah Cardoso, Zara se esbaldou com uma porção de pastel frito regado a pimenta após se apresentar no primeiro sábado de festival, dia 14.
👍Questionada se havia gostado, Zara fez sinal de “sim” enquanto mastigava o salgado. Depois, a sueca ainda participou de “churrasquinho e resenha” na casa do Dennis DJ.
🏖️ Shawn Mendes não se contentou em ficar olhando a areia clara de Ipanema apenas da janela do hotel e desceu até a praia para uma voltinha (cercado de seguranças e fãs, claro).
🤳 O alvoroço foi certeiro, mas ele reagiu com bom humor aos inúmeros pedidos de fotos e ainda soltou um “be careful” (tome cuidado, em tradução livre do inglês) para um fã mais alvoroçado.
Shawn Mendes é cercado por multidão de fãs na praia de Ipanema
🎂 O rapper e ator Will Smith ganhou parabéns de Luciano Huck em uma padaria (com participação de clientes e funcionários); se encontrou com Naldo; jantou com Iza, Maju Coutinho e mais famosos; e fez um show para garis.
Will Smith ganha ‘parabéns para você’ em padaria com Luciano Huck
🍕 Já Katy Perry visitou as instalações do “Estrela da Casa!”, reality da Globo, provou chocolate brasileiro, interagiu com fãs da janela do hotel e ainda distribuiu pizza (com ketchup) para quem fez vigília na frente do local.
Katy Perry interage com fãs da varanda de hotel no Rio de Janeiro
🥩O cantor Ed Sheeran também escolheu provar comidas típicas brasileiras. No carro, sem faca e em um pote aparentemente de plástico, ele comeu uma picanha e disse ter gostado muito.
Ed Sheeran come picanha no Rio de Janeiro
Reprodução Instagram

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Ivete Sangalo sacode a poeira e dá volta por cima com show no Rock in Rio

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♫ COMENTÁRIO
♩ Se alguém achou em maio que Ivete Sangalo estava derrotada com o cancelamento abrupto da turnê comemorativa de 30 anos de carreira da cantora, em movimento atribuído nos bastidores a vendas abaixo da expectativa, os dados rolaram ontem no Palco Mundo a favor da artista.
O aclamado show feito por Ivete Sangalo no Rock in Rio 2024 representou uma volta por cima. É fato que a cantora tem histórico de ótimos shows no Rock in Rio, e o de ontem já foi a 19º apresentação de Ivete ao longo de 40 anos de festival, mas nenhum teve efeito tão benéfico e nenhum foi feito em momento tão certo como o de ontem.
Sem se escorar totalmente no passado, Ivete tirou da cartola hits recentes – como Macetando (Ivete Sangalo, Samir Trindade e Luciano Chaves, 2023) e Cria da Ivete (Ivete Sangalo, Samir Trindade e Luciano Chaves, 2023) – para fazer o povo tirar o pé do chão.
Além de tudo, com aguçado senso de marketing, a cantora apresentou música inédita, Seus recados, gravada com Liniker, artista que vive pico de popularidade com a superlativa repercussão do recém-lançado álbum Caju (2024). Liniker, claro, participou do show.
Estrategicamente, a música Seus recados (Ivete Sangalo, Radamés Venâncio, Gigi Cerqueira, Samir Trindade e Liniker) já está disponível nos aplicativos de áudio em single sincronizado com o show.
Enfim, Ivete Sangalo levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima com o show no Rock in Rio 2024. É uma proeza para quem já completa 31 anos de carreira em mercado volátil em que estrelas têm o brilho apagado com a mesma rapidez com que ascenderam ao olimpo do universo pop.

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Quem é a DJ Eli Iwasa, única mulher da música eletrônica no Dia Brasil do Rock in Rio

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Um dos principais nomes femininos do gênero no Brasil, Eli retorna ao festival neste sábado. Antes de fazer as malas para o Rio de Janeiro, a DJ concedeu uma entrevista ao g1 em Campinas. Quem é Eli Iwasa, única mulher da música eletrônica no Dia Brasil do Rock in Rio
Presença frequente em festivais de músicas pelo país, como Tomorrowland e Lollapalooza, a DJ Eli Iwasa se apresenta neste sábado (21), pela segunda vez, no Rock in Rio. Ela será a única mulher que vai subir ao palco New Dance Order neste “Dia Brasil” do festival.
A escolha não foi por acaso. Com 23 anos de carreira comandando pistas de dança e conhecida pela curadoria apurada e pela versatilidade, Eli é um dos principais nomes da música eletrônica brasileira. Em suas apresentações, costuma mesclar o House, o Techno e o Disco, três vertentes do gênero.
No “para sempre eletrônica” do Dia Brasil, Eli vai se apresentar em dupla com o DJ Renato Ratier, de São Paulo (SP), a partir de 22h. Completa o line-up do palco New Dance Order os DJs Mochakk, Beltran, Classmatic, Maz e Antdot.
Para falar sobre a trajetória na cena eletrônica, da carreira como DJ e do retorno ao Rock in Rio, Eli Iwasa, que também é modelo e empresária, recebeu o g1 para uma entrevista na galeria de arte e bar da qual ela é sócia em Campinas (SP). Assista no vídeo acima.
“Eu sou uma mulher, eu sou uma mulher do interior de São Paulo, eu sou uma mulher aqui na cena de Campinas (SP), eu sou uma mulher asiática. São muitas coisas que, são muitos significados quando você está num palco de um festival como o Rock in Rio”, afirmou ao g1.
Eli Iwasa se apresenta no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro
Jorge Alexandre
Do Groove Nation às pistas
Filha do seo Minoro e da dona Luiza, Eliana Iwasa, de 48 anos, trabalhou nos bastidores da música eletrônica antes de comandar as pistas de dança. Foi organizadora, a partir de 1999, da festa Groove Nation, um marco da cena underground, e atuou como promoter de baladas históricas da capital paulista, como a Love Club.
“Foi um capítulo super importante. Eu organizava as noites de sexta-feira e fazia a contratação dos artistas internacionais”, relembrou.
A DJ já tinha equipamentos de mixagens e muitos discos em casa, mas tocava para os amigos. Tudo mudou em 2001, quando os integrantes do Petduo, uma dupla brasileira de música eletrônica, convocou Eli para uma apresentação no clube Absinto, em São Paulo.
“Eles me viram tocar em um after na casa deles e aí eu brinco que não fui convidada. Eu fui convocada, intimada, informada: ‘você vai tocar na nossa noite’. Foi assim que começou”.
Eli Iwasa já tinha equipamentos e discos em casa antes de iniciar a carreira como DJ
Arquivo pessoal
DJ e empresária
Com isso, além de organizar a noite paulistana, Eli passou a tocar em baladas da capital. Iwasa se mudou para Campinas e, em 2013, fundou o Club 88 no prédio do antigo Jockey Clube, no Centro da cidade. Foi quando passou a conciliar a carreira de DJ e empresária.
A virada de chave na carreira veio em 2017, quando Eli passou a fazer parte de line-ups de festivais internacionais, como o holandês DGTL, e iniciou a residência no Warung, clube de música eletrônica renomado de Itajaí (SC).
“Lógico que eu tenho muitos anos de carreira e todos os momentos são importantes, mas esse 2017 foi marcante nesse sentido que foi o ano que me conectou com audiências maiores”, contou.
Pandemia e volta aos palcos
Eli Iwasa em apresentação na BOMA, festival de música eletrônica, no Rio de Janeiro
Jorge Alexandre
O avanço da carreira enfrentou um revés, a pandemia de Covid-19, que cancelou festivais de música e fechou por mais de um ano as casas de shows. Com isso, além de enfrentar a agenda vazia como DJ, Eli viu suas baladas em Campinas, o Club 88 e o Caos Club, com as portas fechadas.
“A pandemia foi um momento super desafiador que eu questionei se eu conseguiria continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira. Tanto como DJ, assim como com os clubes. Eu e os meus sócios tivemos que repensar todos os nossos negócios”.
Mas o tempo em casa fez Eli explorar novos estilos, se conectar com os fãs e preparar para o retorno aos palcos. “Então, eu explorei todos os meus discos, mostrei outras facetas do meu trabalho, que sempre teve muito estancada em música para pista. Aí eu fiz set de rock, fiz set de coisas experimentais, mais esquisitas, e isso acabou me permitindo voltar com uma baita força”, contou.
Pós-pandemia
O pós-pandemia foi intenso para a DJ. Eli se tornou figura marcante nos line-ups dos principais festivais nacionais e internacionais, como Rock in Rio 2022, Lollapalooza 2023, Time Warp, Só Track Boa, Brunch Electronik e DGTL.
“Eu acho que estar presente nesses grandes eventos é como se fosse uma validação do que você faz dentro do seu público e dentro do mercado e da cena. Por isso estar nesses festivais é tão importante, mas tem muitas coisas que acontecem fora dele também”.
Paralelo ao trabalho como DJ e empresária, Eli deve lançar ainda neste ano o seu próprio selo musical e também uma coleção de roupas. “Eu quero fazer muitas coisas ainda”, contou.
Eli Iwasa se apresenta no Rock in Rio 2022
Jorge Alexandre
Rock in Rio
Eli não é estreante no Rock in Rio. Em 2022 fez uma apresentação solo no palco de música eletrônica no dia destinado às artistas mulheres. Neste sábado, retorna festival no momento em que considera o mais especial da carreira até agora. “Tem um peso estar naquele palco. É muito gratificante estar ali”.
“Eu acho que Eli Iwasa é aquela mesma menina, filha do seo Minoro e da dona Luiza, que sempre amou música, sempre amou dançar. E que teve a sorte e o privilégio de poder fazer isso na vida. Viver o grande sonho da vida, que sempre foi viver de música”, disse Eli.
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