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Festas e Rodeios

‘Clube da Esquina’, álbum que mostrou admirável mundo novo à MPB, conserva a chama da juventude aos 50 anos

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Lançado em março de 1972, o disco duplo de Milton Nascimento e Lô Borges é glorificado por ter posto Minas Gerais no mapa-múndi da música com frescor pop. ♪ MEMÓRIA – Álbum que expôs admirável mundo novo na música brasileira ao ser lançado em março de 1972, Clube da Esquina conserva todo o frescor ao completar 50 anos, já eternizado como um dos melhores discos do mundo em todos os tempos.
Com 21 músicas que ultrapassam uma hora de som, o álbum duplo é a pedra fundamental de movimento musical que, orquestrado por Milton Nascimento, deu contorno pop ao som de Minas Gerais sem jamais ter ficado restrito às fronteiras de Belo Horizonte (MG). Até porque grande parte do repertório foi composta em 1971 em espécie de residência dos músicos e compositores em casa de praia situada em Mar Azul, em Piratininga, balneário litorâneo da cidade fluminense de Niterói (RJ).
Embora oficialmente creditado a Milton Nascimento e a Lô Borges, então com 30 anos e 20 anos, respectivamente, o álbum Clube da Esquina é trabalho de grupo. Um disco de amigos e de banda formada por músicos do naipe do baixista Luiz Alves, do guitarrista Nelson Angelo, de Tavito (1948 – 2019) e do baterista Robertinho Silva, cujo batuque remeteu aos tambores de Minas neste álbum que eletrificou o som de Milton Nascimento.
O álbum Clube da Esquina foi organizado conceitualmente pelo poeta e compositor fluminense Ronaldo Bastos, letrista de seis das 21 músicas do álbum – obras-primas como Cais, Cravo e canela, Nada será como antes (apresentada a rigor em 1971, em disco de Joyce Moreno), Nuvem cigana, O trem azul e Um gosto de sol.
Niteroiense, Bastos orquestrou o conceito poético do disco, tendo como norte a música genial composta por Milton Nascimento e Lô Borges com parceiros letristas como os mineiros Fernando Brant (1946 – 2015) e Marcio Borges, além do próprio Bastos. Sem poder habitar a casa de Mar Azul, Brant escreveu em Belo Horizonte (MG) as letras que lhe coube no disco, em ponte feita por Lô, que frequentemente visitava a família na capital mineira.
De certa forma, pode-se afirmar que o Clube da Esquina começou a existir há 60 anos, em 1962, ano em que Milton, artista acidentalmente nascido na cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1942, migrou para Belo Horizonte (MG), vindo de Três Pontas (MG), cidade interiorana onde se criou.
Na capital mineira, Milton tomou contato com a efervescência musical de BH – caindo na noite da cidade com o amigo de fé Wagner Tiso – e fez mais amigos ao morar no lendário Edifício Levy, onde então residia a família Borges, dos irmãos Lô e Marcio.
Com Marcio Borges, Milton desenvolveu a obra como compositor e uma amizade que floresceu a partir de ida ao cinema para ver o filme francês Jules et Jim (1962).
Milton logo se revelou um gênio da MPB, avalizado inicialmente pela visionária Elis Regina (1945 – 1982) – cantora que deu voz à Canção do sal (Milton Nascimento, 1965) em álbum de 1966 – e alçado à condição de ídolo na plataforma de festival da canção de 1967 ao defender Travessia, primeira parceria da obra fundamental construída com Fernando Brant.
Contudo, muito do admirável mundo novo que se abriu para a MPB em 1972, com o álbum Clube da Esquina, foi também fruto da inspiração de Lô Borges, desbravador de inventivos caminhos harmônicos e melódicos. Sintomaticamente, é de Lô (com versos do irmão Marcio Borges) a música que abre o álbum duplo na voz de Milton Nascimento, Tudo que você podia ser.
Lô era um garoto que idolatrava os Beatles, mas soube ter os Fab Four somente como referência ao criar a própria identidade como compositor de músicas como Paisagem da janela (com letra de Fernando Brant), Um girassol da cor de seu cabelo, Estrelas e Trem de doido (as três últimas letradas pelo irmão Marcio Borges), contribuindo decisivamente para dar ao disco um frescor pop que ainda se conserva intacto em 2022, 50 anos após a edição pela gravadora Odeon do LP duplo.
Com as 21 músicas distribuídas nos quatro lados do vinil, o LP duplo tem capa igualmente dupla que expôs foto feita por Cafi (1950 – 2019) e que se tornou quase tão icônica quanto o disco em si pela expressividade da imagem dos garotos Tonho (José Antônio Rimes) e Cacau (Antônio Carlos Rosa de Oliveira) na terra de Nova Friburgo (RJ).
Se Lô levou para Mar Azul a bagagem pop (com Beto Guedes a tiracolo), Milton trouxe a referência da música moura ouvida nas Geraes, do som sacro das igrejas, da latinidade sul-americana – explicitada em San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant), música evocativa dos tempos sombrios do Brasil em 1972, atmosfera pesada também abordada nos versos escritos por Brant para Saídas e bandeiras, música cantada por Milton com Beto Guedes – e da latinidade espanhola, evidenciada na regravação de Dos cruces (Carmelo Larrea, 1952), uma das duas músicas do álbum selecionadas fora do trilho autoral dos compositores do Clube da Esquina.
A outra música vinda de fora foi Me deixa em paz (Monsueto Menezes e Airton Amorim, 1951), samba redimensionado no dueto de Milton com Alaíde Costa, cantora carioca surgida no universo da bossa nova e até então esquecida. Ao tornar Me deixa em paz um lamento, ecoando toda a dor e as lágrimas que descem sobre a pele escura desde que o samba é samba, Alaíde renasceu artisticamente ao lado de Milton.
Dentro do amalgama de referências reprocessadas que gerou o som singular do álbum Clube da Esquina, havia também o jazz, as conquistas harmônicas da bossa nova – determinantes na formação musical de Toninho Horta, guitarrista solista d’O trem azul – e a música erudita, uma das bases da formação de Wagner Tiso, arranjador que dividiu a função com Eumir Deodato com supervisão musical de Milton Nascimento, ainda que o maestro Lindolpho Gaya (1921 – 1987) tenha sido creditado oficialmente como diretor musical do disco por estar vinculado à gravadora Odeon.
Com todos esses elementos sonoros, Milton organizou o movimento que nunca pretendeu ser um movimento musical. Mas que se tornou, sim, um movimento pop que ganhou relevância universal com o passar dos anos. A esquina sempre foi mais metafórica.
Se existiu uma esquina de fato, parece ter sido a que promoveu o cruzamento de Milton Nascimento com Lô Borges em bar de Belo Horizonte (MG), nos idos de 1969, na ocasião em que Lô pediu ajuda para finalizar a música que se chamaria Clube da Esquina e que foi apresentada no quarto álbum do mentor do movimento, Milton (1970), gravado com o grupo Som Imaginário.
Com Clube da Esquina, álbum na qual aparece a canção Clube da esquina 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Marcio Borges), Bituca – como Milton é chamado pelos amigos no meio musical – pôs Minas Gerais no mapa-múndi da música.
De tudo, essa turma agregadora (se) fez canção. E tudo parece ter sido feito sem pretensões por um grupo de amigos que ardiam na fogueira das paixões pela vida, com a chama da juventude.
Por ter apreendido esse espírito de juventude da turma em 1972, o álbum Clube da Esquina completa 50 anos sem nunca envelhecer, como os sonhos de fraternidade daquela turma que, sem saber e sem querer, dividiu águas e fez história na música brasileira há 50 anos.

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Vitor Ramil ergue ‘Mantra concreto’, álbum com 13 músicas criadas a partir de versos do poeta Paulo Leminski

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♫ NOTÍCIA
♪ Vitor Ramil segue em trilho poético no 13º álbum do artista gaúcho nascido em Pelotas (RS), cidade renomeada como Satolep na geografia artística da obra do cantor, compositor e músico. Dois anos após transitar por Avenida Angélica (2022) em álbum lançado com músicas compostas a partir de poemas da conterrânea Angélica Freitas, Ramil apresenta em 10 de outubro o álbum Mantra concreto.
Com produção musical orquestrada pelo próprio Vitor Ramil com Alexandre Fonseca e Edu Martins, o álbum Mantra concreto alinha 13 músicas inéditas compostas por Ramil a partir de poemas do escritor, músico e poeta curitibano Paulo Leminski (24 de agosto de 1944 – 7 de junho de 1989).
Gravado por Lauro Maia, mixado por Moogie Canazio e masterizado de André Dias, o álbum Mantra concreto reúne músicas como Amar você e celebra os 80 anos que Leminski teria completado há um mês.
A ideia do disco surgiu em 2021, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19. “Justamente por estar isolado em casa, fui contaminado pela poesia de Paulo Leminski. Certo dia, enquanto lia o poema ‘Sujeito Indireto’, passei a mão no violão e minha imunidade baixou. ‘Quem dera eu achasse um jeito de fazer tudo perfeito’ logo virou canção. Nos dias subsequentes, a cena se repetiu com outros poemas. Em três semanas, treze poemas, treze canções”, recorda Vitor Ramil.
A capa do álbum Mantra concreto foi criada pelo designer Felipe Taborda.
Capa do álbum ‘Mantra concreto’, de Vitor Ramil
Arte de Felipe Taborda

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Gusttavo Lima foi ao Rock in Rio neste domingo, antes de mandado de prisão ser expedido; VÍDEO

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A decisão foi tomada em meio às investigações da Operação Integration, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro. Gusttavo Lima foi ao Rock in Rio neste domingo, antes de mandado de prisão ser expedido
O cantor Gusttavo Lima, que teve prisão decretada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) nesta segunda-feira (23), esteve no Rock in Rio na noite do último domingo (22).
Em vídeos compartilhados em suas redes sociais, o sertanejo aparece visitando o “Vipão”, camarote do evento, e acompanhando o show do Akon. Ele também teve um encontro com Roberto Medina, fundador do festival.
Gusttavo ainda mostra uma maquete do The Town, gerando comentários de que poderia ser um dos nomes do festival de São Paulo em 2025. Ao final do passeio, ele comentou: “Foi sensacional”.
Gusttavo Lima conversa com Roberto Medina no Rock in Rio e mostra maquete do The Town
Reprodução/Instagram
Antes de ir à Cidade do Rock, Gusttavo Lima se apresentou no Rodeio de Jaguariúna na madrugada de domingo (22) e fez dueto “surpresa” com Zezé di Camargo.
Mandado de prisão
Gusttavo Lima foi ao Rock in Rio no domingo (22)
Reprodução/Instagram
A decisão foi tomada em meio às investigações da Operação Integration, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro pelo qual também foi presa a influenciadora digital Deolane Bezerra.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pela juíza Andrea Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do Recife. A decisão foi publicada depois que o Ministério Público devolveu o inquérito à Polícia Civil, pedindo a realização de novas diligências e recomendando a substituição das prisões preventivas por outras medidas cautelares.
Akon no Rock in Rio
Além de Gusttavo Lima, uma multidão se espremeu para assistir ao show de Akon no Palco Mundo, no Rock in Rio deste domingo (22). O músico reviveu clássicos do R&B e homenageou o Brasil ao incluir batidas de samba, funk, seresta e no setlist.
Entre as diversas gafes que marcaram o show do cantor, estava a falha no uso de uma bolha inflável. O cantor entrou em uma e se preparou para passar sobre o público. Mas ao descer a escada do palco, a bolha começou a murchar e Akon não conseguiu atingir seu objetivo, ficando constrangido. “Eu queria fazer algo especial pra vocês”, disse ele, tímido (veja no vídeo abaixo).
Akon tenta se jogar no público dentro de bola inflável, mas equipamento esvazia
Sertanejo no Rock in Rio
Chitãozinho, Xororó e Ana Castela falam sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio
O Rock in Rio 2024 ficará marcado na história do festival como a edição em que o sertanejo subiu ao palco pela primeira vez. Foram necessários 40 anos para o maior festival de música do Brasil se render ao gênero musical mais ouvido do país — enfrentando o grande tabu de uma ala roqueira mais conservadora.
Astros da música sertaneja foram incluídos no Dia Brasil, no último sábado (21), com programação exclusivamente brasileira. Num bloco de apresentações dedicada ao estilo, subiram ao palco Ana Castela, Simone Mendes e Chitãozinho e Xororó.
Uma das atrações esperadas para o dia, o sertanejo Luan Santana cancelou sua participação por causa do atraso de mais de uma hora nos shows do festival.
Gusttavo Lima foi ao Rock in Rio no domingo (22)
Reprodução/Instagram

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Após 400 shows usando bolhas sobre público, Sorocaba dá dicas para Akon depois de cantor não conseguir usar artifício no Rock in Rio

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‘Pelo tamanho do Akon, que é um sujeito grande, eu achei que a bolha era muito pequena. Teria que ter um diâmetro quase que dobrado’, analisa o sertanejo em entrevista ao g1. Akon em seu show no Rock in Rio, segundos antes de a bolha inflável murchar, e Sorocaba durante show em 2013
Reprodução/Instagram
Entre as diversas gafes que marcaram o show do Akon na noite de encerramento do Rock in Rio, neste domingo (22), estava a falha no uso de uma bolha inflável. O cantor entrou em uma e se preparou para passar sobre o público. Mas ao descer a escada do palco, a bolha começou a murchar e Akon não conseguiu atingir seu objetivo, ficando constrangido. “Eu queria fazer algo especial pra vocês”, disse ele, tímido.
O artifício é usado pela dupla Fernando e Sorocaba há mais de dez anos. Os artistas sertanejos já passaram sobre o público usando a bolha em ao menos 400 shows, segundo Sorocaba. E, ainda de acordo com o cantor, ele só passou por incidente semelhante ao do Akon uma vez.
“A gente teve um contratempo uma vez na vida, porque tem uma alcinha do zíper que sempre tem que ser travada pra ninguém puxar. Eu tava me deslocando num show lá atrás e, no meio do caminho, um sujeito abriu”, afirmou o cantor em entrevista ao g1.
“Não aconteceu nada demais, simplesmente a bolha murchou e eu acabei caindo no meio do público. As pessoas ficaram ouriçadas, aquela história toda, mas ninguém se machucou. Não considero um acidente.”
Sorocaba afirmou que assistiu ao incidente com Akon. E acredita que a falha tenha acontecido por causa do zíper, que é bastante frágil.
“Quando você desce uma escada e dá o azar de pisar exatamente onde vai o zíper, a chance de abrir a bolha é grande. É o que deve ter acontecido ali com o Akon.”
O cantor também aponta que a bolha usada pelo artista senegalês era pequena demais.
“Eu achei que a bolha dele, pelo tamanho do Akon, que é um sujeito grande, era muito pequena. Ela teria que ter um diâmetro quase que dobrado dessa daí.”
Akon tenta se jogar no público dentro de bola inflável, mas equipamento esvazia
Sorocaba ainda afirmou que, se pudesse dar um conselho para o artista, diria para ele inflar a bolha já na altura do público, evitando, assim, passar por obstáculos, como a escada.
“Pode ser feito uma base que suba uma cortina, da forma como a gente faz. Esconde, as pessoas ficam curiosas para saber o que está acontecendo lá dentro, e na hora que abre essa cortina, ele já vai estar inflado na bolha. Eu acho que surpreenderia muito mais.”
Ainda assim, Sorocaba elogiou a tentativa de Akon de colocar o artifício no show.
“Eu acho uma operação incrível, um efeito especial no show incrível. É algo que realmente gera uma interatividade única do fã com o artista. É meio que quase tocar o artista.”
“É algo muito legal para se fazer num show, uma grande sacada.”
Leia crítica: Akon mistura R&B com funk e samba em show com gafes e propósito confuso no Rock in Rio
Akon se apresenta no Rock in Rio 2024
Stephanie Rodrigues/g1
Funcionamento da bolha
Sorocaba, que faz uso da bolha inflável em seus shows desde 2013, explicou que ela é feita de um material plástico bastante resistente.
“O artista entra, a gente enche de ar, e a ideia é dividir o peso da pessoa que está dentro da bolha na mão de dezenas de pessoas que estão embaixo.”
O cantor explicou que é preciso usá-la quando o show está com bastante público. Era o caso de Akon no Rock in Rio.
“Imagina dezenas de mãos levantadas. Aquilo vira praticamente uma no chão e você vai se deslocando sobre a galera.”
Por segurança, Sorocaba costuma colocar seguranças à paisana pelo caminho que vai percorrer entre o público.
Eles ficam ali para indicar se tem alguma pessoa debilitada no caminho ou até para socorrer o artista em caso de qualquer acidente.
Fernando e Sorocaba evento “Isso é Churrasco On Fire”
Divulgação
Bolhas para artistas e público
Em 2021, durante a pandemia, quando os shows tiveram uma pausa, a banda de rock americana Flaming Lips colocou, não somente os músicos, mas também o público dentro de bolhas infláveis para que pudessem manter o distanciamento social contra o risco do coronavírus.
O grupo realizou dois shows e contou com 100 balões, cada um com capacidade para até três pessoas. As apresentações aconteceram no Estado de Oklahoma, nos Estados Unidos.
A engenhosa ideia partiu do líder da banda, Wayne Coyne, que já usava bolhas antes da pandemia para “rolar” dentro da cápsula pelo público em muitos de seus shows, assim como faz Sorocaba – e Akon tentou fazer.
Apresentação do Flaming Lips teve bolhas para o público e para os músicos
Flaming Lips/Divulgação via BBC

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