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Festas e Rodeios

Carnaval de Chico Buarque ainda faz sentido 50 anos após disco com trilha sonora de filme de 1972

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Sete músicas então inéditas do compositor resistem bem ao tempo em gravações feitas pelo autor, pelo MPB4 e pelas cantoras Maria Bethânia e Nara Leão. ♪ MEMÓRIA – Teve Carnaval em 1972, mas não o Carnaval ansiado naquele ano por Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão (19 de janeiro de 1942 – 7 de junho de 1989), trio que dá voz às músicas trilha sonora de Quando o Carnaval chegar, quarto filme do cineasta Carlos Diegues.
No enredo do longa-metragem estreado em 1972, Chico, Bethânia e Nara personificaram integrantes de grupo mambembe, dando vozes e vida a Paulo, Rosa e Mimi – respectivamente – e a músicas que se tornariam antológicas.
Na cadência quase triste do samba-título Quando o Carnaval chegar, uma das sete composições então inéditas fornecidas por Chico Buarque para a trilha sonora do filme, ficou claro que o Carnaval era a metáfora para a democracia ceifada pelo golpe de 1964 em movimento ditatorial endurecido pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5) imposto em dezembro de 1968.
Como o Carnaval ainda parecia distante no horizonte de 1972, inclusive pela ação implacável da censura na música popular do Brasil, a saída era recorrer à metáfora nos versos para dar o recado das letras – recurso que Chico Buarque usou com maestria ao longo dos anos 1970.
Ao criar a trilha sonora original do filme Quando o Carnaval Chegar, o compositor já estava no auge da genialidade artística, atestada pelo álbum Construção (1971), o fundamental LP que Chico lançara no ano anterior. Por isso mesmo, a capa do disco com a trilha sonora de Quando o Carnaval chegar – lançado em 1972 pela gravadora Philips – alardeou que, no repertório, havia “7 músicas inéditas de Chico Buarque”.
A força da grife autoral do compositor foi reiterada pela perenidade dessas inspiradas sete músicas – Baioque, Bom conselho, Caçada, Mambembe, o tema-título Quando o Carnaval chegar, Partido alto e Soneto – que transcenderam as telas dos cinemas e os sulcos do vinil do LP, se tornando sucessos recorrentes nos repertórios posteriores de Chico e de outros cantores.
E, justiça seja feita, as gravações originais dessas sete músicas estão à altura das composições, inclusive pelos arranjos creditados a Antônio José Waghabi Filho (1943 – 2012), o Magro do MPB4, e a Roberto Menescal, então no posto de diretor artístico da gravadora Philips.
E por falar em MPB4, o grupo interpreta o samba Partido alto – uma das 12 músicas alocadas nas 14 faixas do disco – em gravação que inclui passagem instrumental com o ronco da cuíca sublinhando o choro da fome na barriga da miséria.
A diferença na conta de músicas e faixas do disco se dá porque o samba Mambembe e a canção Soneto aparecem duplamente na disposição dos temas no LP, primeiramente em orquestrais registros instrumentais – sendo que o de Mambembe ostenta a maestria de Magro – para depois serem ouvidos nas vozes de Chico Buarque e de Nara Leão, cantora que, cabe lembrar, havia sido importante na década de 1960 para popularizar o cancioneiro de Chico.
A Bethânia, coube solar, no devido tom árido, Baioque – fusão de baião e rock já anunciada pelo título – e Bom conselho, uma das músicas da trilha sonora que deixavam entrever o clima sombrio do Brasil em 1972, com Chico dando o recado em versos que alinhavam contradições de ditos populares e, de certa forma, criticavam a voz do povo anestesiado pela máquina repressora da época.
Ouvida na voz do autor, Caçada é canção que celebra o enlaçamento sexual, afinada com o fato de o Carnaval ser a festa da carne.
Para quem buscava o tom folião da festa, a trilha sonora apresentou abordagens inéditas de festivas músicas de outros Carnavais, casos de Formosa (Nássara e J. Rui, 1933) – com Bethânia e Nara reeditando o dueto feito 39 anos antes pelos cantores Francisco Alves (1898 – 1952) e Mário Reis (1907 – 1981) – e do solar Frevo (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) na voz de Chico. O mesmo Mário Reis foi o intérprete original da marcha Mais uma estrela (Bonfíglio de Oliveira e Herivelto Martins, 1934), com a qual, sozinha, Nara pôs o bloco na rua.
Juntas, Bethânia e Nara cantaram o samba Minha embaixada chegou (Assis Valente, 1934), reaproveitado por Chico na abertura do show Caravanas (2017 / 2018) para dar o recado político desse espetáculo.
No fim do disco, Chico se junta com Bethânia e Nara para reviver a marcha Cantores do rádio (Lamartine Babo, Braguinha e Alberto Ribeiro, 1936), afinados com tom mambembe e político de trilha sonora que faz sentido em 2022, 50 anos após edição de disco que ajudou a solidificar a construção da grande obra de Chico Buarque.
♪ Leia outros textos da série memorialista do Blog do Mauro Ferreira sobre grandes álbuns de artistas brasileiros que fazem 50 anos em 2022:
1. Segundo álbum londrino de Caetano Veloso, Transa faz 50 anos como objeto de culto na obra do artista
2. Álbum de 1972 em que Gilberto Gil festejou a volta do exílio, Expresso 2222 faz 50 anos com combustível para alcançar futuras gerações
3. Álbum com que Elza Soares pediu passagem para o samba-soul faz 50 anos com vitalidade
4. Clube da Esquina, álbum que mostrou admirável mundo novo à MPB, conserva a chama da juventude aos 50 anos

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Além de Gusttavo Lima, relembre outros sertanejos que tiveram problemas com a Justiça

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Tribunal de Pernambuco decretou prisão do cantor, como parte de investigação de suposto esquema de lavagem de dinheiro. Gusttavo Lima foi ao Rock in Rio neste domingo, antes de mandado de prisão ser expedido
Gusttavo Lima não é o primeiro cantor sertanejo a ter problemas com a Justiça. Nesta segunda-feira (23), o Tribunal de Justiça de Pernambuco decretou sua prisão por suspeita de usar avião para ajudar foragidos.
A defesa de Lima diz que ele é inocente e que a decisão é injusta.
Além dele, outros artistas do gênero já ficaram no alvo das cortes brasileiras, com acusações de dívidas, agressões e até com algumas condenações.
Relembre outros casos abaixo:
Renner (da dupla com Rick)
Rick & Renner
Divulgação / Caio Fernandes
O cantor foi condenado em 2007 a pagar indenização por danos morais e materiais à família de uma das vítimas fatais de um acidente de carro de 2001.
No acidente, o cantor perdeu o controle de seu veículo em uma rodovia em São Paulo, cruzou o canteiro central e bateu de frente com a moto em que estava Luís Antônio Nunes Aceto e Eveline Soares Rossi. Ambos morreram na hora.
Em 2014, ele foi levado a delegacia após dirigir embriagado e bater o carro em outros dois automóveis.
Rick (da dupla com Renner)
A outra metade também enfrentou problemas recentes. Em janeiro de 2023, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a penhora dos bens de uma residência de Rick em Itu (SP), pelo não pagamento de uma dívida de quase R$ 640 mil.
Victor (da dupla com Léo)
O músico e compositor Victor Chaves retomou a carreira com o irmão Léo
Érico Andrade/g1
No fim de 2019, o cantor Victor Chaves foi condenado em primeira instância por ter agredido a mulher, em Belo Horizonte.
Ele se tornou réu em 2017, depois de ser indiciado pela Polícia Civil de Minas Gerais por vias de fato. Na época da agressão, Poliana Bagatini Chaves estava grávida do segundo filho do casal.
Segundo o boletim de ocorrência, ela disse que foi agredida pelo marido por motivos fúteis. Poliana afirmou que foi jogada no chão e recebeu vários chutes.
Em 2023, ele foi condenado a pagar indenização a um ambulante que trabalhava em uma apresentação da dupla em Belo Horizonte (MG). O vendedor disse que foi xingado e humilhado por Victor e obrigado por seguranças a se retirar do espaço.
Hudson (da dupla com Edson)
Hudson foi preso duas vezes no mesmo dia em 2013 por posse de arma. Na primeira, em flagrante, foi pego com uma pistola 380 e um revólver calibre 38, ambos municiados, dentro do seu carro.
As armas estavam regularizadas, mas o cantor não tinha permissão para carregá-las em vias públicas, segundo a Polícia Civil. Ele pagou R$ 6 mil de fiança e foi solto. Na ocasião, disse que era colecionador e que havia esquecido que as armas estavam no veículo.
Já na noite do mesmo dia, o cantor foi preso novamente depois que PMs encontraram na casa dele uma carabina, munições de uso restrito e maconha.
O sertanejo teve liberdade provisória concedida pela Justiça e poderia deixar a cela da delegacia de Limeira se pagasse uma segunda fiança de R$ 12 mil, mas a prisão preventiva foi decretada e Hudson ficou um dia na penitenciária de Tremembé até receber o direito de responder ao processo em liberdade.
Eduardo Costa
Eduardo Costa em imagem de divulgação
Divulgação
O cantor foi condenado em primeira instância a pagar uma indenização de R$ 70 mil à apresentadora Fernanda Lima por danos morais, em 2023.
Em novembro de 2018, após a exibição do programa “Amor e Sexo” – apresentado por Fernanda -, ele ofendeu Fernanda em suas redes sociais dizendo que ela era “imbecil”, e ela só fazia programa para “maconheiro, bandido, esquerdista derrotado, e para projetos de artista como ela”.
Eduardo também foi condenado ao pagamento das custas e honorários do processo que foram arbitrados em 20% do valor da condenação, ou seja, mais R$ 14 mil.
Léo Magalhães
Cantor sertanejo é obrigado a pagar Ferrari que comprou e não pagou em Goiânia
A Justiça obrigou em 2023 o cantor sertanejo Léo Magalhães a pagar por uma Ferrari comprada em Goiânia. Conforme os documentos do processo, o veículo custou R$ 511 mil, mas o valor não foi pago mesmo após cobranças por parte da loja.
A assessoria do artista disse que ele não quitou os pagamentos porque descobriu que o carro tinha sido envolvido em um acidente. O dono da concessionária diz que o cantor sabia.
Thiago (da dupla com Thaeme)
O cantor Thiago Servo chegou a ser preso em 2016 por uma dívida de R$ 500 mil em pensão alimentícia. Na época, ele já não estava mais na dupla com Thaeme.
Em 2023, no entanto, a Justiça determinou que a criança não era filha de Thiago. Por isso, o cantor entrou com um processo pedindo mais de R$ 1 milhão pago em pensão ao longo dos anos.
No mesmo ano, a Justiça do Mato Grosso do Sul determinou a penhora do prêmio de R$ 1 milhão que o artista ganhou no programa “A grande conquista”, da TV Record. Ele tinha uma dívida de mais de R$ 1,3 milhão com Jamil Name Filho, chefe de uma milícia ligada ao jogo do bicho no estado.

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Um dia nos bastidores da cobertura de shows no Rock in Rio: veja como é feita a crítica de apresentações

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Uma resenha crítica é uma mescla de opinião e informação. No g1, textos desse gênero são escritos por profissionais especializados. Veja como é feita uma crítica de um show durante o Rock in Rio
Você sabe como é feita a crítica de um show? Em festivais como o Rock in Rio, é comum vermos portais de notícia publicando resenhas das apresentações, ou seja, textos que são uma mescla de opinião com informação.
No g1, textos desse gênero são escritos por profissionais especializados. Para entender o processo por trás dessa escrita, veja os passos listados no vídeo acima e nos tópicos a seguir.
Para acessar a área da imprensa, o jornalista apresenta sua credencial e, depois, passa pelo processo de revista
No caso de festivais, existe a Sala de Imprensa, um espaço voltado aos jornalistas. Lá é possível comer, se hidratar e, claro, trabalhar com mais tranquilidade
Na Sala de Imprensa, o jornalista acessa seu computador para checar informações e fazer publicações
As resenhas são escritas no meio do público. Ou seja, o jornalista escreve o texto no próprio celular e, ao finalizar, envia para alguém de sua equipe, que publica o texto
A ideia é ficar atento a tudo. Observar o artista, o público, o setlist, a performance, o som, a interação entre os músicos e a galera, a fluidez do show e por aí vai. É a partir disso que nascem as análises

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Vitor Ramil ergue ‘Mantra concreto’, álbum com 13 músicas criadas a partir de versos do poeta Paulo Leminski

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♫ NOTÍCIA
♪ Vitor Ramil segue em trilho poético no 13º álbum do artista gaúcho nascido em Pelotas (RS), cidade renomeada como Satolep na geografia artística da obra do cantor, compositor e músico. Dois anos após transitar por Avenida Angélica (2022) em álbum lançado com músicas compostas a partir de poemas da conterrânea Angélica Freitas, Ramil apresenta em 10 de outubro o álbum Mantra concreto.
Com produção musical orquestrada pelo próprio Vitor Ramil com Alexandre Fonseca e Edu Martins, o álbum Mantra concreto alinha 13 músicas inéditas compostas por Ramil a partir de poemas do escritor, músico e poeta curitibano Paulo Leminski (24 de agosto de 1944 – 7 de junho de 1989).
Gravado por Lauro Maia, mixado por Moogie Canazio e masterizado de André Dias, o álbum Mantra concreto reúne músicas como Amar você e celebra os 80 anos que Leminski teria completado há um mês.
A ideia do disco surgiu em 2021, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19. “Justamente por estar isolado em casa, fui contaminado pela poesia de Paulo Leminski. Certo dia, enquanto lia o poema ‘Sujeito Indireto’, passei a mão no violão e minha imunidade baixou. ‘Quem dera eu achasse um jeito de fazer tudo perfeito’ logo virou canção. Nos dias subsequentes, a cena se repetiu com outros poemas. Em três semanas, treze poemas, treze canções”, recorda Vitor Ramil.
A capa do álbum Mantra concreto foi criada pelo designer Felipe Taborda.
Capa do álbum ‘Mantra concreto’, de Vitor Ramil
Arte de Felipe Taborda

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