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Festas e Rodeios

Áurea Martins atinge o céu com ‘Senhora das folhas’, álbum em que professa as crenças e fés do Brasil

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Aos 81 anos, cantora lança disco em que, sob direção musical de Lui Coimba, louva as rezadeiras entre temas afro-indígenas e composições de Projota, Arlindo Cruz, Socorro Lira e Flaira Ferro. Capa do álbum ‘Senhora das folhas’, de Áurea Martins
Sérgio Caddah
Resenha de álbum
Título: Senhora das folhas
Artista: Áurea Martins
Edição: Biscoito Fino (também disponível em CD)
Cotação: * * * * *
♪ Emocionante álbum em que Áurea Martins celebra o canto e o poder curador das rezadeiras, benzedeiras e curandeiras do Brasil, Senhora das folhas amplia o alcance e o sentido do território afro-indígena nacional, indo além das demarcações folclóricas desse gênero musical ao abraçar o ecumenismo da fé do povo brasileiro.
Idealizado por Renata Grecco, também creditada como diretora artística do disco lançado em 8 de março em edição digital e disponibilizado em CD nesta última semana do mês pela gravadora Biscoito Fino, o álbum Senhora das folhas desvia a cantora carioca – a caminho dos 82 anos, a serem festejados em junho – do habitual universo do samba-canção.
A sacralidade do canto de Áurea Martins a redime da natural falta de viço da voz já octogenária e legitima o álbum. A intérprete soa em estado de graça.
Sob a direção musical do violoncelista Lui Coimbra, a dama da canção cai com graciosidade no samba praieiro de sotaque rural Folha miúda, fornecido pelo compositor baiano Roque Ferreira e unido por Áurea no disco com Menino do Samburá.
Da Bahia também vem Salve as folhas (Gerônimo e Ildásio Tavares, 1988), tema arranjado com mix de tambores e guitarras, indo além dos códigos musicais universo musical afro-brasileiro.
Senhora das folhas mostra que a fé está em todo o canto. Tanto que um dos momentos mais fortes do disco vem da abordagem de A rezadeira (2014), rap de Projota que segue curso mais melódico no canto fluente de Moyseis Marques – quase o intérprete solista da faixa, pontuada por intervenções da voz de Áurea – e que expõe a fé na prece de senhora evangélica, em oração pelo filho no corre diário da vida, em gravação que abre com citação sagaz de Relampiano (Lenine e Paulinho Moska, 1997), flash do abandono infantil na selva das cidades.
“O dinheiro é o veneno da alma”, sentencia Áurea na prece feita com a récita do poema Vô madeira. Os versos da poeta Julie Dorrico, da etnia Macuxi, preparam o clima para a interpretação de Araruna (Nahiri Asurini e Marlui Miranda), canto da etnia Parakanã do Pará, na voz do cantor André Gabeh.
Na saudação ecumênica feita por Áurea ao longo das 11 faixas do álbum Senhora das folhas, há espaço para a crença na força maior que rege o samba Na paz de Deus (Arlindo Cruz, Sombrinha e Beto Sem Braço, 1986) – apresentado ao Brasil há 36 anos na voz de Alcione – e para a fé nas ervas, águas e santos que receitam Banho de manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1979).
Banho de manjericão é samba lançado na voz de Clara Nunes (1942 – 1983) – cantora que louvou a religião afro-brasileira e os orixás em discos dos anos 1970 – e revivido por Rita Benneditto em Encanto (2014), álbum em que a cantora mineira expandiu o universo do repertório do show Tecnomacumba (2003).
Áurea Martins canta sambas e faz preces em disco feito sob direção musical de Lui Coimbra
Dan Coelho / Divulgação
Neta de Dona Francelina, senhora rezadeira que habitava Campo Grande, bairro da zona oeste carioca onde Áurea foi criada, a cantora acentua a carga de ancestralidade quando se embrenha pelas matas brasileiras para reverberar Ponto das caboclas (Camila Costa) como se fizesse a própria tecnomacumba na faixa de ambiência eletrônica, e quando louva Senhora Santana, tema de origem medieval que saúda Santa Ana, a avó de Jesus, em gravação que embute citação da Incelença de Nossa Senhora, tema de domínio público.
Nesse mesmo terreno sagrado, o álbum Senhora das folhas abre com Incelença da chuva nas vozes das Cantadeiras do Souza, ecoando tradições orais do Povoado do Souza, encrustado em território mineiro, precisamente em Jequitibá (MG).
Incelença da chuva abre o caminho para a saudação das folhas em O ramo (Socorro Lira, 2018). “Salve, salve a fé no amor / Que cura tudo, o mal, a dor” professa Áurea nessa canção que sintetiza os caminhos percorridos pela senhora cantora em trilho de fé que alcança pico de beleza na trama de violões e violinos criadas por Lui Coimbra, com sotaque ibérico-hindu, para o canto de Áurea atingir a alma do ouvinte em Prece do ó, louvação de Santo Antônio do Categeró, santo negro, africano e escravizado que, levado como mercadoria para a Itália, tornou-se monge e fez milagres e fama que chegou ao Brasil, sendo cultuado na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na Bahia, estado mais negro do país.
Curiosidade: a letra é prece tradicional recolhida por Cassiano Ricardo. Já a melodia é dos compositores galegos do grupo Berroguetto, mas não foi criada para a prece. Letra e música se juntaram quando o pesquisador, violeiro e cantador mineiro Dércio Marques descobriu a perfeita sincronicidade entre versos e melodia.
Fora do território sagrado, Áurea Martins se ergue ao reconhecer as próprias pequenezas humanas ao dar voz aos versos da canção Me curar de mim (Flaira Ferro, 2015) como se estivesse no confessionário ou diante do espelho, inventariando as fraquezas. É o canto em feitio de oração.
Juntamente com a abordagem do rap de Projota, a interpretação da canção Me curar de mim emociona e dá grandeza a Senhora das folhas, álbum em que Áurea Martins atinge o céu ao irmanar várias crenças e fés no tom ecumênico do Brasil.

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João Gilberto é cantado no tempo de Bebel Gilberto em show que marca a estreia no Brasil de turnê internacional

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♫ NOTÍCIA
♪ Em abril do ano passado, Bebel Gilberto ainda nem havia lançado o álbum João quando, ao fazer show na cidade de São Paulo (SP), cantou o repertório do disco que somente chegaria ao mundo em 25 de agosto de 2023. Tudo fez sentido porque o propósito do show era promover a edição do álbum póstumo João Gilberto – Ao vivo no Sesc_1998, lançado em abril daquele ano de 2023.
Se o disco ao vivo trazia à tona gravação inédita de show feito pelo criador da bossa nova na mesma cidade de São Paulo (SP), o álbum de Bebel simbolizava declaração de amor da filha para o pai João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (10 de junho de 1931 – 6 de julho de 2019) através da abordagem de 11 músicas do repertório irretocável do cantor.
No show feito em Sampa em abril de 2023, Bebel cantou essas músicas no formato de voz e violão. Depois que o álbum foi lançado, a cantora saiu em turnê internacional que, desde o segundo semestre de 2023, transitou por 30 países, totalizando mais de 60 apresentações do show João.
É essa turnê João que Bebel traz enfim ao Brasil no próximo fim de semana, com três apresentações agendadas no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), de 27 a 29 de setembro.
Desta vez, em vez do solitário violão, Bebel Gilberto terá o toque de banda formada pelos músicos Bernardo Bosisio (violão e guitarra), Dennis Bulhões (bateria e percussão) e Didi Gutman (piano, teclados e programações).
Sob direção de Talita Miranda, a cantora dará voz a músicas como Adeus, América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, 1948), Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958), Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959), O pato (Jayme Silva e Neusa Teixeira, 1960) e Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961).

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Homem destrói escultura de Ai Weiwei em exposição na Itália

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A obra Porcelain Cube fazia parte da exibição ‘Who am I?’ e o curador da mostra descreveu o ato como ‘imprudente e sem sentido’. Um homem tcheco de 57 anos foi preso. Escultura chinesa de Ai Weiwei é destruída
OperaLaboratori via AP
Um homem destruiu a escultura Porcelain Cube, do artista chinês Ai Weiwei, durante uma exposição no Palazzo Fava, em Bologna, norte da Itália. De acordo com informações da AP, Arturo Galansino, curador da mostra, descreveu o ato como “imprudente e sem sentido”.
Porcelain Cube fazia parte da exposição “Who am I?”, que será inaugurada no sábado (28). A imprensa italiana afirmou que polícia prendeu um homem tcheco de 57 anos, que disse ser artista. Ele é conhecido por ter como alvo obras de artes importantes. Ainda de acordo com a agência, não está claro como o homem conseguiu acesso ao evento na sexta (20), que era apenas para convidados.
Conforme desejo do artista, os fragmentos da obra foram cobertos com um pano e retirados. Eles serão substituídos por uma impressão em tamanho real e uma etiqueta explicando o que aconteceu. Ai Weiwei divulgou nas redes sociais imagens da câmera de segurança que mostram o momento em que a obra foi destruída.
“O ato de vandalismo contra a obra ‘Porcelain Cube’ de Ai Weiwei é ainda mais chocante quando consideramos que várias das obras expostas exploram o próprio tema da destruição”, disse o curador da exposição Arturo Galansino.
Escultura chinesa de Ai Weiwei
OperaLaboratori via AP
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Vestido usado por Ana Castela no Rock in Rio tem 2,5 kg de pedraria e levou 120 horas para ser bordado

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Estilista desenhou e bordou à mão a peça, integrando referências da carreira da cantora. Vestido foi feito com exclusividade para cantora usar no festival. Ana Castela no Rock in Rio
Leo Franco/AgNews
Ana Castela fez sua estreia no palco do Rock in Rio usando um vestido preto todo bordado à mão e feito exclusivamente para cantora vestir no evento.
Questionando se aquele era o palco que a Katy Perry havia pisado, Ana desfilou pela passarela com o tubinho de alcinha preto coberto por quase 2,5 quilos de pedrarias.
A cantora foi uma das convidadas por Chitãozinho e Xoxoró para o show Pra Sempre Sertanejo, no sábado (21).
Para o evento especial, a stylist da cantora, Maria Augusta Sant’Anna, procurou a marca Hisha, que traz peças bordadas por mulheres mineiras.
A estilista Giovanna Resende foi a responsável por criar a peça, desenhando à mão alguns elementos que fazem referências à carreira da cantora, como o cavalo gigante usado por Ana na gravação de seu primeiro DVD. A guitarra do Rock in Rio, notas musicais, natureza e ferradura completaram a peça.
Segundo a assessoria da cantora, as bordadeiras levaram 120 horas para finalizar a peça.
No palco, Ana cantou “Sinônimos” com Chitãozinho e Xororó, além de um trechinho de seus hits “Nosso Quadro”, “Solteiro Forçado” e “Pipoco”.
Vestido usado por Ana Castela no Rock in Rio
Divulgação
Show Pra Sempre Sertanejo
Entre os shows que já aconteceram no Rock in Rio 2024, poucos tiveram tanto engajamento do público quanto um bloco de apresentações dedicado ao sertanejo no sábado (21), penúltimo dia do evento. Contra a resistência de parte dos frequentadores — especialmente de uma parcela roqueira mais conservadora –, o estilo fez sua estreia no festival, após 40 anos de espera.
E foi uma estreia gloriosa. Para tornar o som mais palatável para quem não gostou da ideia, a organização escalou a Orquestra Heliópolis para criar os arranjos. O verdadeiro acerto, porém, foi a escolha de Chitãozinho e Xororó para conduzir o roteiro de performances e guiar a plateia. No universo sertanejo, a dupla desperta idolatria do nível de rockstars.
Chitãozinho e Xororó
Miguel Folco/g1
A ideia de incluir o sertanejo no Rock in Rio começou a tomar forma durante a edição de 2022. Roberto Medina, idealizador do festival, passou a sinalizar em entrevistas o desejo de escalar nomes do ritmo no line-up de 2024, citando nominalmente o cantor Luan Santana. Ele é conhecido pela megaprodução de seus shows.
Em entrevista ao g1 em setembro de 2022, o próprio Luan disse que seria “uma honra” se apresentar no evento. Mas ele não apareceu no palco.
Com um compromisso marcado em Santa Catarina na mesma noite, Luan cancelou de última hora a participação no show e citou como motivo um atraso na programação deste sábado. O bloco sertanejo começou cerca de uma hora e meia depois do horário inicialmente previsto.
Simone Mendes, Junior e Cabal foram outras participações no show.
Leia crítica completa do show.
Chitãozinho, Xororó e Ana Castela falam sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio

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