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Festas e Rodeios

Alceu Valença se afina com Paulo Rafael nas brumas leves e agrestes de álbum que atesta a grandeza do guitarrista morto em 2021

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Capa do álbum ‘Alceu Valença e Paulo Rafael’
Xilogravura de J. Borges
Resenha de álbum
Título: Alceu Valença e Paulo Rafael
Artistas: Alceu Valença e Paulo Rafael
Edição: Deck
Cotação: * * * *
♪ Música feita por Alceu Valença em parceria com Herbert Azzul, Eu vou fazer você voar deixou a impressão de descender de Anunciação (1983) ao ser lançada em single editado em novembro de 2019. A proximidade das duas composições na disposição do repertório do álbum Alceu Valença e Paulo Rafael evidencia o parentesco.
Até então dispersa na discografia de Alceu, Eu vou fazer você voar é a música que abre o álbum lançado na sexta-feira, 8 de abril, em edição da gravadora Deck. Música indissociável do riff da guitarra tocada por Paulo Rafael no arranjo da gravação original, feita por Alceu para o álbum Anjo avesso (1983), Anunciação é a terceira faixa do disco do duo.
Mesmo batida, Anunciação é música de presença indispensável porque o álbum simboliza o derradeiro voo de Alceu com Paulo Ramiro Rafael Pereira (11 de julho de 1955 – 23 de agosto de 2021), instrumentista pernambucano que injetou eletricidade no som do conterrâneo Alceu a partir de janeiro de 1975, ano em que passou a ser o guitarrista do cantor em parceria que começou no festival Abertura (TV Globo) e que se estendeu até 2021 com a morte do músico.
Entre Eu vou fazer você voar e Anunciação, há Girassol (1987) – faixa que reitera o tempo de delicadeza que pauta o canto de Alceu Valença no começo do disco em sintonia com o toque minimalista e preciso da guitarra de Paulo Rafael nas músicas iniciais.
A partir da quarta faixa, Cavalo de pau (1982), a doçura é harmonizada com o tom agreste perceptível tanto no toque da guitarra quanto no canto árido do cantador.
Exposta na graciosa capa do disco, a xilogravura inédita de J. Borges traduz na imagem a origem sertaneja dos artistas, norte dos caminhos seguidos por eles nas música brasileira. Se Alceu veio ao mundo São Bento do Una (PE) em 1946, Paulo Rafael nasceu em Caruaru (PE) em 1955.
Por serem de lá, na certa por si mesmo, ambos se afinaram quando, nos anos 1970, Alceu reprocessou os gêneros musicais nordestinos com som elétrico, evocativo da pressão do rock e da linguagem pop universal.
Basta ouvir o toque do violão de aço de Paulo Rafael em Amor que vai (1994) e em Na primeira manhã (1980) para entender que Alceu e o guitarrista sempre seguiram a mesma toada, por vezes em passo ágil, como o que faz bater Sino de ouro (1985).
Nas brumas leves e agrestes da paixão pela música, mote da caminhada que ligou os artistas por 46 anos, Alceu Valença e Paulo Rafael alçam voo terno na rota ibérica e melancólica de Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1951), baião rebobinado em pisada que remete à leveza de um xote.
Sabiá e o único tema em que Alceu sai do trilho autoral no álbum assinado com Paulo Rafael, guitarrista que integrou o movimento da música psicodélica de Pernambuco nos anos 1970, a reboque de bandas como Ave Sangria e Tamarineira Village, antes de tocar com Alceu, em conexão amplificada quando o guitarrista passou a assinar a produção musical dos álbuns do cantor a partir da década de 1980.
Música-título do primeiro álbum solo de Alceu Valença, Molhado de suor (1974) também se encharca com o sotaque ibérico que banhou a música nordestina em viagem que, na rota do disco, passa pelo trilho de Sete desejos (1991) para culminar em Portugal com Fada lusitana.
Composto por Alceu na Terrinha, o fado apaixonado é única música inédita deste disco tão bom quanto os três álbuns anteriores gravados pelo cantor na pandemia – Sem pensar no amanhã (2021), Saudade (2021) e Senhora estrada (2021) – mas que soa especial por ser espécie de testamento da grandeza de Paulo Rafael no toque da guitarra (e do violão de aço). Guitarra que ajudou Alceu Valença a voar alto, dentro e fora do sertão nordestino.

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Uma noite com (a música de) Djavan na trilha ao vivo de bar do Rio de Janeiro

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♫ COMENTÁRIO
♩ Jantei hoje à noite em bar-restaurante do centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ). No cardápio, música ao vivo na voz de um (bom) cantor. Um cantor de barzinho, como tantos que ganham a vida anonimamente na noite enquanto batalham por lugar ao sol no mundo da música.
Além da voz bem colocada do cantor, me chamou a atenção a predominância do cancioneiro de Djavan no repertório do artista. Em cerca de meia hora, duas músicas, Outono e Se…, ambas do mesmo álbum do cantor e compositor alagoano, Coisa de acender (1992).
É curioso o poder da música de Djavan. Passam os anos e passam as modas do mundo da música, mas Djavan nunca sai de moda. Todo mundo canta junto. Todo mundo gosta. E olha que Djavan nunca fez canções do estilo tatibitate.
Se… ainda pode ser considerada uma canção radiofônica, embora muito acima do padrão das canções feitas para tocar no rádio. Já Outono é balada pautada pela sofisticação poética e harmônica.
Mesmo assim, Outono resiste como uma trilha dos bares em todas as estações ao lado de joias do mesmo alto quilate como Meu bem querer (1980), Samurai (1982), Sina (1982), Lilás (1984) e, claro, Oceano (1989). Isso para não falar nos sambas como Fato consumado (1975).
Djavan tem essa particularidade. É um compositor extremamente requintado, mas, ao mesmo tempo, consegue empatia com o público. Todo mundo sabe cantar as músicas de Djavan.
Deve ser por isso que o artista, já com mais de 50 anos de carreira, ainda reina nas trilhas dos bares e restaurantes com música ao vivo. Parece banal, mas é preciso ser gênio para ocupar esse trono ao longo de décadas.

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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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