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Festas e Rodeios

Ivone Lara, dona das melodias celestiais, merece festa no Brasil pelo centenário de nascimento

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Nascida em 13 de abril de 1922, cantora e compositora carioca está eternizada pela obra com que, a partir da década de 1940, abriu alas para as mulheres no mundo ainda machista do samba. ♪ MEMÓRIA – Yvonne da Silva Lara (13 de abril de 1922 – 16 de abril de 2018) foi dona do dom. Fosse o Brasil um país mais (pre)ocupado com a preservação da memória cultural nacional, hoje haveria festas e shows nas ruas para celebrar o centenário de nascimento da cantora, compositora e instrumentista carioca imortalizada como Dona Ivone Lara.
Incorporado ao nome artístico de Ivone, o prefixo ‘Dona’ simboliza a aura de respeito e nobreza que envolve o cancioneiro da compositora.
Bamba desbravadora que abriu alas para as mulheres nas quadras e nos terreiros, territórios masculinos e machistas desde que o samba é samba, Ivone Lara foi, sim, dona do dom de criar melodias celestiais que ganharam versos poéticos e geralmente líricos pela escrita de bambas das letras de música como Delcio Carvalho (1939 – 2013) – o parceiro mais constante e fundamental em conexão iniciada em 1972 – Hermínio Bello de Carvalho, Jorge Aragão, Nei Lopes e Paulo César Pinheiro, para citar somente os mais conhecidos.
Por vezes sofisticadas e dolentes, essas melodias soaram aparentemente simples, como as obras dos grandes criadores da música. Aqueles que fazem o difícil parecer fácil aos ouvidos do povo. Ivone Lara personificou a mulher brasileira do século XX que lutou para quebrar barreiras e se livrar das estruturas opressoras da sociedade machista.
A luta foi árdua até meados dos anos 1970. É inacreditável que a artista tenha lançado o primeiro álbum solo somente em 1978, aos 56 anos, 44 anos após ter composto em 1934 a primeira música, Tiê, partido alto assinado pela compositora debutante com Antônio dos Santos (1912 – 1997) – o Mestre Fuleiro – e Hélio dos Santos (1917 – 2007).
Capa do álbum ‘Ivone Lara’, de 1985
Divulgação
Admitida em 1965 na ala de compositores da escola de samba Império Serrano, Ivone Lara estreou em disco em 1970, em projeto fonográfico coletivo, mas somente começou a aparecer como compositor a partir de 1974, ano em que Clara Nunes (1942 – 1983) – então no início do apogeu artístico e comercial – batizou álbum de 1974, Alvorecer, com nome do samba de Ivone e Delcio Carvalho. Em 1976, outra parceria da dupla, Acreditar, ganhou o Brasil na voz de Roberto Ribeiro (1940 – 1996).
Com o sucesso dos sambas e com a morte do marido machista, em 1975, Ivone começou a pedir passagem para si própria como cantora dos próprios sambas.
Com obras-primas como Em cada canto uma esperança, parceria de Ivone com Delcio, o álbum Samba minha verdade, samba minha raiz nem fez tanto sucesso em 1978, mas a explosão nesse mesmo ano do samba Sonho meu – exemplo da habilidade de Ivone para criar melodias que pareciam soltas no ar, à espera dos versos de Delcio Carvalho – em dueto de Maria Bethânia com Gal Costa abriu alas para a definitiva consagração de Ivone Lara como compositora. E para a continuidade da discografia da cantora, hábil nos solfejos que indicavam os tais caminhos melódicos celestiais.
O álbum Sorriso de criança saiu em 1979. Sorriso negro chegou dois anos depois, em 1981, com A sereia Guiomar (samba mergulhado nas águas baianas e gravado com Maria Bethânia), Alguém me avisou (samba que a recorrente Bethânia lançara em 1980 em gravação com Caetano Veloso e Gilberto Gil) e Tendência, parceria com Jorge Aragão gravada no mesmo ano por Beth Carvalho (1946 – 2019), cantora sempre zelosa com a obra de Ivone, além da música-título de Jorge Portela e Adilson Barbado, 1981.
Ivone Lara pode ser ouvida em discografia que totalizou 12 álbuns editados entre 1978 e 2012
Guto Costa / Divulgação
Embora sem a assinatura de Ivone, Sorriso negro se tornaria um dos sambas para sempre associados à voz dessa artista que, com jeito manso e sem alarde, através do canto, sempre militou em causas sociais que lutaram por melhores condições de vida para as mulheres e os negros.
No álbum seguinte, Alegria minha gente – Serra dos meus sonhos dourados, lançado em 1982, apareceram Roda de samba para Salvador – outro exemplo da capacidade da sambista para transitar com naturalidade na ponte Rio-Salvador – e Nasci para sonhar e cantar, joia de alto quilate da parceria de Ivone com Delcio.
Findo esse período fonográfico áureo e regular, a discografia de Ivone tendeu a ficar mais espaçada. Em 1985, um ano após Sandra de Sá puxar Enredo do meu samba (Ivone Lara e Jorge Aragão) na abertura da novela Partido alto (TV Globo, 1984), a sambista lançou o álbum Ivone Lara sem emplacar outro sucesso nas paradas. Foi então preciso esperar 12 anos para apresentar outro disco, Bodas de ouro, lançado em 1997 com repertório retrospectivo, rebobinado com elenco estelar.
Então sem espaço na indústria fonográfica do Brasil, Ivone entrou no século XXI com dois álbuns editado pela gravadora francesa Lusáfrica, Nasci para sonhar e cantar (2001) e Sempre a cantar (2004). O primeiro foi disco pautado por regravações que marcou o início da parceria de Ivone com Bruno Castro, letrista que seria recorrente no repertório do álbum de 2004.
A esses dois discos, seguiu-se o registro audiovisual de show Canto de rainha em 2009 e um álbum assinado e gravado com Bruno Castro, Nas escritas da vida, editado em 2010. Gravado em 2008, mas lançado somente em 2010, o álbum Bodas de coral no samba brasileiro celebrou a parceria de Ivone com Delcio Carvalho com algumas composições inéditas entre sambas conhecidos.
Por fim, Baú de Dona Ivone abriu em 2012 o arquivo de músicas inéditas da compositora, mas em vozes alheias. Naquela altura, Ivone Lara, dona das melodias celestiais, já estava imortalizada como rainha na dinastia do samba. Até por isso hoje, 13 de abril de 2022, é (ou deveria ser) dia de festa no Brasil.

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Uma noite com (a música de) Djavan na trilha ao vivo de bar do Rio de Janeiro

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♫ COMENTÁRIO
♩ Jantei hoje à noite em bar-restaurante do centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ). No cardápio, música ao vivo na voz de um (bom) cantor. Um cantor de barzinho, como tantos que ganham a vida anonimamente na noite enquanto batalham por lugar ao sol no mundo da música.
Além da voz bem colocada do cantor, me chamou a atenção a predominância do cancioneiro de Djavan no repertório do artista. Em cerca de meia hora, duas músicas, Outono e Se…, ambas do mesmo álbum do cantor e compositor alagoano, Coisa de acender (1992).
É curioso o poder da música de Djavan. Passam os anos e passam as modas do mundo da música, mas Djavan nunca sai de moda. Todo mundo canta junto. Todo mundo gosta. E olha que Djavan nunca fez canções do estilo tatibitate.
Se… ainda pode ser considerada uma canção radiofônica, embora muito acima do padrão das canções feitas para tocar no rádio. Já Outono é balada pautada pela sofisticação poética e harmônica.
Mesmo assim, Outono resiste como uma trilha dos bares em todas as estações ao lado de joias do mesmo alto quilate como Meu bem querer (1980), Samurai (1982), Sina (1982), Lilás (1984) e, claro, Oceano (1989). Isso para não falar nos sambas como Fato consumado (1975).
Djavan tem essa particularidade. É um compositor extremamente requintado, mas, ao mesmo tempo, consegue empatia com o público. Todo mundo sabe cantar as músicas de Djavan.
Deve ser por isso que o artista, já com mais de 50 anos de carreira, ainda reina nas trilhas dos bares e restaurantes com música ao vivo. Parece banal, mas é preciso ser gênio para ocupar esse trono ao longo de décadas.

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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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