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Festas e Rodeios

Chico Pinheiro deixa a TV Globo em comum acordo após 32 anos; relembre bordões e momentos da carreira

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Nesta semana, Carlos Tramontina também deixou a TV em comum acordo após 43 anos. Chico Pinheiro deixou a TV Globo, nesta sexta-feira (29), em comum acordo, após 32 anos. Jornalista respeitado e admirado, Chico também é conhecido pelo bom humor, pelos bordões e, claro, por ser torcedor do Atlético Mineiro. No Bom Dia Brasil, ele falava das principais notícias do dia, do Galo e da “coragem” para enfrentar as segundas-feiras – sem nunca deixar de lado a indignação com o noticiário e com a realidade brasileira.
Ele começou a trabalhar na Globo no final de 1977, no cargo de chefe de reportagem. “Naquela época o chefe de reportagem fazia tudo. Você tinha que armar a pauta do dia seguinte, fazer a escala das equipes, distribuir os equipamentos, marcar as entrevistas, apurar as notícias”, contou Chico ao site Memória Globo.
Chico Pinheiro: bordões, jornalismo e bom humor
Chico Pinheiro no Bom dia Brasil, em 2022
Bom Dia Brasil/Divulgação
O jornalista ficou também conhecido por bordões como:
“É, vida que segue…”
“Graças a Deus, é sexta-feira!”
“Coragem! Porque é segunda-feira.”
Filho do topógrafo Antônio Oscar Pinheiro e da professora Ester Gontijo Melo Pinheiro, Francisco de Assis Pinheiro foi criado em Minas Gerais, chegou a estudar engenharia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG), mas abandonou o curso no quarto ano. Formou-se em jornalismo pela mesma universidade em 1976.
Começou a trabalhar no Diário de Minas, como estagiário, em 1971, primeiro na editoria Geral, depois na de Esportes. Ainda não havia se formado quando conseguiu uma vaga na sucursal mineira do Jornal do Brasil.
Em 1980, obteve uma bolsa de estudos na Universidade de Navarra e, em seguida, mudou-se para a Espanha. De volta à Globo no ano seguinte, foi repórter do Jornal Nacional em Belo Horizonte. Dois anos depois, voltou a deixar a emissora, dessa vez para ser professor de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
De sua primeira passagem pela Globo, o jornalista se lembra de duas entrevistas marcantes: a primeira foi com Ulysses Guimarães, então líder do MDB, e a outra, com o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. Na ocasião, perguntou ao ministro quem eram os responsáveis pelo atentado ocorrido naquele dia no Riocentro, e não esquece o que ouviu dele: “Os responsáveis por esse atentado são os bolsões sinceros, mas radicais; são os pescadores de águas turvas”. No entanto, era época de vigência da Censura Federal, e essa declaração nunca foi para o ar.
Ainda na década de 1980, trabalhou na Quilombo, produtora que cuidava da carreira artística do compositor Milton Nascimento, prestando serviços de assessoria de imprensa, e editou o jornal Trem Azul. Também foi chefe de gabinete do secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais e comandou um programa de debates na TV Minas, chamado Alta Tensão.
No final de 1989, transferiu-se para São Paulo, contratado pela TV Bandeirantes. Inicialmente, editou e apresentou diariamente o programa Canal Livre, então de perfil comunitário, além de fazer comentários políticos no telejornal local noturno da emissora. Em 1992, coordenou a cobertura da segunda visita do Papa João Paulo II ao Brasil e foi premiado pela cobertura do impeachment de Fernando Collor. Ainda na Bandeirantes, foi âncora do Jornal da Noite (1992-1993), do Jornal de Domingo (1993) e do Jornal da Bandeirantes (1993-1995).
Em 1995, Chico Pinheiro assumiu o cargo de diretor de jornalismo da TV Record e âncora do Jornal da Record, principal telejornal da emissora. No dia 12 de outubro, o pastor da Igreja Universal Sergio von Helde chutou uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida durante um programa da Record. O episódio levou Chico Pinheiro a entrar em desacordo com a direção da rede, o que resultou na sua demissão. Logo em seguida, em 1996, transferiu-se para a Rádio CBN, ocupando o cargo de apresentador do Jornal da CBN. Permaneceu na rádio até 1997.
Antes disso, ainda em 1996, Chico Pinheiro foi convidado a retornar à Globo, agora nos postos de apresentador do Bom Dia São Paulo e editor do Bom Dia Brasil. Desde então, passou a apresentar também, eventualmente, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo.
“Fui participar do projeto de criação e implantação do Bom Dia Brasil, ancorado pelo Renato Machado, editor-chefe, e do novo Bom Dia São Paulo. E encontrei uma emissora completamente diferente, tanto do ponto de vista de qualidade técnica quanto de conteúdo editorial. E fui descobrir a extrema importância que o jornalismo tem na Globo para a mudança substancial e necessária do país, das comunidades, da sociedade”, disse Chico ao Memória Globo.
Chico Pinheiro foi premiado duas vezes pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA): em 1992, pela cobertura do impeachment de Fernando Collor, e em 1997, por seu trabalho como apresentador do Bom Dia São Paulo.
Chico apresentou ainda o telejornal local SPTV, na Globo, e o programa Espaço Aberto, na GloboNews, em 1998. No Espaço Aberto, entrevistou grandes nomes da música popular brasileira, como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara e Milton Nascimento, além de atores como Walmor Chagas e Nathalia Timberg. Em 2007, o programa foi reformulado e ganhou novo nome, Sarau. Em 2013, o programa ganhou uma nova versão, o Sarau Itinerante, quando o apresentador percorre diferentes cidades brasileiras para mostrar o trabalho de artistas locais. Na estreia, o Sarau Itinerante homenageou o manguebeat, ritmo desenvolvido em Pernambuco.
Em março de 2000, durante a cobertura dos escândalos da prefeitura de São Paulo, conseguiu uma entrevista exclusiva com Nicéia Pitta, na qual a ex-mulher do então prefeito Celso Pitta relatava os principais detalhes do sistema de corrupção da administração paulista.
Diretor-geral de jornalismo, Ali Kamel divulgou uma mensagem anunciando o período sabático de Chico, lembrando de grandes momentos falando da carreira e falando da amizade entre os dois.
Veja a íntegra do comunicado de Ali Kamel:
“Chico Pinheiro conquista de imediato o público em casa e seus colegas no trabalho com duas características marcantes: a língua afiada contra as mazelas do Brasil e uma simpatia contagiante. Este mineiro, cujo amor pelo jornalismo só encontra paralelo na paixão pelo Galo, não é mineiro. Nasceu em Santa Maria da Boca Monte, cidadezinha do Rio Grande do Sul. Mas foi criado em Minas Gerais, conquistou o coração dos paulistas e fez grandes amigos no Rio. Para nossa sorte, desistiu do curso de engenharia na UFMG depois de quatro anos e se formou em jornalismo na PUC-MG em 1976 (mas já estagiava em redações desde 1971, primeiro no Diário de Minas e, depois, na sucursal mineira do Jornal do Brasil). Em 1977, veio para a Globo Minas como chefe de reportagem a convite de Eduardo Simbalista, com quem trabalhara no JB. Inquieto, foi para Navarra fazer uma pós-graduação e, na volta, tornou-se repórter em Belo Horizonte do Jornal Nacional. Fez entrevistas de que se orgulha: entre muitas, com Doutor Ulysses Guimarães e o então ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel, essa última censurada pela ditadura militar.
A mudança para São Paulo foi em 1989 para apresentar o Jornal da Band, o carro-chefe da emissora. Lá foi premiado pela cobertura do impeachment de Fernando Collor e ancorou os principais telejornais da Band até 1995. O retorno à Globo, em 1996, foi como apresentador do Bom dia São Paulo, com participação no Bom dia Brasil, e os plantões na bancada do JN. Logo depois, Chico conquistou os corações paulistanos no SPTV – uma bancada onde brilhou por 13 anos.
Dessa época, se destaca a entrevista histórica com Niceia Pitta, ex-mulher do então prefeito Celso Pitta, sucessor de Paulo Maluf. Niceia revelou para Chico as entranhas do esquema de corrupção e pagamento de propina na prefeitura numa reportagem exibida num Globo Repórter especial sobre o caso.
Chico é sempre atento a causas sociais. Na Globo, desenvolveu o movimento “Sou da Paz”, pelo desarmamento, que se transformaria depois no instituto de mesmo nome com forte influência no que viria a ser o Estatuto do Desarmamento. É também conselheiro do movimento Todos Pela Educaçao e do Instituto Ayrton Senna. Graças ao trabalho no jornalismo comunitário da em SP, recebeu o título de Cidadão Honorário da capital paulista. Depois, foi agraciado com o título de cidadão honorário de Águas de Lindóia, terra de sua mulher, a jornalista, Leda Rielli, nossa colega, terra onde pretende viver um dia.
Chico cobriu as visitas ao Brasil dos Papas João Paulo II, Bento XVI e seu xará Francisco. Dessa última, tenho uma lembrança muito afetuosa, pois fui testemunha do carinho que sempre teve pelo pai, seu Antônio, católico fervoroso que gostaria de receber uma benção de Francisco. O Papa receberia convidados de pessoas ligados de alguma forma aos organizadores da Jornada da Juventude, que a Globo apoiou. Era tudo muito restrito, mas o empenho de Chico era tão comovente que consegui um convite para o seu Antônio. Ocorre que Chico estava preocupado com o bem-estar do pai, já idoso, que chegara muito cedo ao Palácio São Joaquim. Apesar de saber que ele seria bem cuidado, Chico não não conseguia descansar: queria estar por perto para cuidar do pai, algo quase impossível, mesmo para ele. De repente, quando olho para o lado, lá estava Chico, ao lado do pai. Como ele entrou? Ele gosta de dizer que fez como a água, que sempre encontra um caminho por onde passar.
Em sua trajetória, entrevistou grandes nomes das artes no Espaço Aberto da Globonews, como Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Walmor Chagas, Nathalia Timberg e tantos talentos dos palcos. Dessa experiência, nasceu o Sarau, programa que é ainda hoje um dos maiores arquivos de gênios de nossa música, entrevistados com habilidade, elegância, deixando sempre o convidado se sentindo em casa.
A competência e a popularidade trouxeram Chico para o Rio em 2011, para assumir a bancada no Bom Dia Brasil. Chico já participava do programa entrando de São Paulo e passou a ancorar o telejornal, primeiro ao lado de Renata Vasconcellos e depois de Ana Paula Araújo. No Bom Dia, cobriu eleições presidenciais no Brasil, as manifestações de 2013, Copas, Olimpíadas, guerras, desastres e tudo mais que tenha sido notícia nesses onze anos.
Sem perder o sotaque mineiro nem o bom humor, Chico saúda o início das semanas com um entusiasmado “Coragem!”! E a chegada do fim de semana com “Graças a Deus, hoje é sexta-feira”. Este carisma transborda para a equipe, que sempre para, atenta a suas histórias.
Depois de 51 anos de jornalismo diário, 32 deles na Globo, em comum acordo com a emissora, Chico decidiu deixar o dia a dia da vida de repórter, como ele faz questão de se definir. Pretende se dar um sabático e, mais adiante, se dedicar a atividades num ritmo mais espaçado. E combinou comigo que esperaria o fim de mais uma brilhante transmissão do Carnaval, a que se dedica há vinte anos, para que esse anúncio fosse feito, numa sexta-feira. Talvez para poder dizer com força o seu bordão, cuja origem, apesar do significado mais ligeiro, ele explicou assim, numa entrevista: “As pessoas me perguntam por que eu digo isso, me perguntam se eu não gosto de trabalhar. O motivo na verdade é outro. Na sexta, a gente cumpriu o dever, a gente navegou pela vida durante a semana, conhecendo coisas, aprendendo coisas e procurando melhorar. E sexta-feira, claro, é o começo de estar mais com os amigos, de estar mais relaxado e de se sentar à mesa para partilhar o que foi vivido durante a semana com o companheiro, aquele com quem como o pão, aqueles com quem divido a minha mesa. Essa alegria do encontro, em geral, acontece na sexta-feira”.
De nós, seus colegas e amigos, fica o reconhecimento de ter convivido na redação com um dos grandes jornalistas que a televisão brasileira já produziu e uma das pessoas “boa gente” com quem já compartilhamos histórias e experiências.
Entre mim e Chico fica carinho e amizade, e muitas sextas feiras por vir.
A ele, agradeço em nome da Globo por toda a contribuição que deu ao nosso jornalismo.
Ali Kamel”
Tramontina e Burnier
Também nesta semana, Carlos Tramontina deixou a TV em comum acordo após 43 anos. O jornalista entrou para a Globo em 1978. Ele foi apresentador e editor-chefe do Bom Dia São Paulo, Globo Notícia e Antena Paulista. Também foi o âncora do SP2 por 24 anos. José Roberto Burnier foi escolhido para comandar o telejornal.
Carlos Tramontina durante mediação de debate
Matheus Castro/Rede Amazônica
Filho de professores, formou-se em jornalismo pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, em 1977. No terceiro ano de faculdade, conseguiu um estágio no departamento de imprensa da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Estagiava de dia e estudava à noite. Ao final do estágio, ainda estudando, não podia ser contratado, e foi “bater às portas das empresas de comunicação”. Conseguiu outro estágio, agora na Globo no início de 1978. Era um período de investimento muito forte da emissora no jornalismo em São Paulo, segundo Tramontina, e ele foi logo contratado. Sua carteira foi assinada no dia 1º de junho de 1978.
“Entrei como repórter, para cobrir o chamado buraco de rua, matérias feitas na periferia – em tese, mais simples; ao mesmo tempo, mais trabalhosas, porque você tinha de ir para os lugares mais distantes e mais problemáticos”, conta. “Eu fazia isso para o Bom Dia São Paulo, que não tinha os mesmos critérios de tratamento estético das matérias que os outros telejornais, digamos, e um repórter iniciante podia experimentar um pouco mais ali”, disse ao site Memória Globo.
Logo passou a fazer um quadro chamado Café da Manhã, gravado na casa de pessoas que eram notícia naquele dia por algum motivo. Tomou café da manhã com Elis Regina, Raul Cortez, muitos artistas e autoridades, mas também com pessoas comuns.
A partir daí, Tramontina passou a fazer matérias de política, muitas transmissões ao vivo e alguns comentários de política para os telejornais locais. A primeira experiência do Bom Dia São Paulo ocorreu quando ele ainda era repórter.
Começou a apresentar regularmente o Bom Dia São Paulo no final de 1986 e ficou por sete anos – dois anos como subeditor e cinco como editor-chefe. A estrutura do jornal era pequena, e Tramontina deixava todos os textos da cobertura esportiva do domingo para gravar na segunda-feira. Os dez anos do jornal, em 1987, já com Tramontina no comando, foram comemorados em grande estilo.
No aniversário da cidade de São Paulo, em 1990, Tramontina e sua equipe fizeram o primeiro telejornal ancorado fora do estúdio: o Bom Dia São Paulo foi transmitido direto do Parque do Ibirapuera. A ousadia foi repetida dois anos depois, na comemoração dos 15 anos do telejornal, em 1992.
No aniversário de 15 anos do telejornal Bom Dia São Paulo, em 1992, o apresentador e editor-chefe Carlos Tramontina realizou algo inédito na televisão brasileira: ancorou o jornal direto de um helicóptero, ao vivo, sobrevoando a cidade de São Paulo.
Em 1995, Tramontina voltou a produzir reportagens para os telejornais de rede. Três anos depois, assumiu a função de apresentador da segunda edição do SPTV. No mesmo ano, convidado pela Globo News, tornou-se apresentador do N de Notícias, programa que discutia a principal notícia da semana sob a ótica do jornalismo.
Em 2000, assumiu interinamente a apresentação do Jornal da Globo. Em seguida, voltou a apresentar a segunda edição do SPTV e tornou-se apresentador e editor do Antena Paulista, programa exibido aos domingos com noticiário e reportagens especiais sobre São Paulo. Entre 2011 e 2014, Tramontina apresentou também o Globo Notícia São Paulo.
Ali Kamel divulgou uma mensagem anunciando as mudanças no SP2 e relembrando a carreira de Tramontina.
Veja a íntegra do comunicado de Ali Kamel:
“O ano era 1978. Um estudante de jornalismo chegava à velha sede da Globo, na Praça Marechal, em busca de estágio, sem saber que aquele movimento definiria a sua vida profissional. Ele começou observando o trabalho da redação e quando algum repórter faltava, ganhava a chance de substituir. A primeira reportagem, sobre o aumento na tarifa de táxi, foi feita em filme, ainda em preto e branco.
Lembrar a história de Carlos Tramontina é viajar pelas transformações tecnológicas e pelos acontecimentos mais importantes da história recente de São Paulo e, em muitos momentos, do país. Na década de 1980, ainda como um jovem repórter, ele cobriu as greves dos metalúrgicos, em São Bernardo do Campo. Saiu de uma delas, no Estádio da Vila Euclides, escoltado pelas lideranças sindicais que o protegeram de um grupo mais exaltado. Estava na sede do governo paulista, o Palácio dos Bandeirantes, quando cinco mil pessoas sem emprego derrubaram as grades, forçando uma invasão. Era um tempo de turbulência, de muita gente na rua. Tempo em que o Brasil reaprendia a viver em democracia.
Da primeira eleição direta para governador, depois da ditadura, em 1982, à mais recente, ele cobriu todas as campanhas eleitorais. Foram oito governadores eleitos, dez eleições municipais.
Profissional meticuloso, sempre gostou de escrever, com caligrafia perfeita, em pequenos cadernos, as informações que colhia para entrevistar os candidatos e depois prefeitos. A lista dos que passaram pelo escrutínio de Tramontina é grande: Jânio Quadros, Erundina, Maluf, Marta Suplicy, Serra, Kassab, Haddad e Bruno Covas.
Em 1985, veio, se não o primeiro, o mais marcante plantão em rede. O país acompanhava agoniado a evolução da doença do recém-eleito, e ainda não empossado, presidente Tancredo Neves. Na porta do Instituto do Coração, entre os repórteres que se revezaram numa longa cobertura, estava Carlos Tramontina. Por 42 dias, aquele foi o seu local de trabalho, e ele gosta de contar que ali entendeu a importância de traduzir de forma simples, temas complexos. As pessoas esperavam os telejornais para saber os detalhes médicos dos quais dependiam a vida de Tancredo e o futuro do país. E às 10h23 da noite, de um domingo, 21 de abril, coube a ele entrar ao vivo para noticiar que o porta-voz Antonio Brito faria um pronunciamento, o anúncio da morte do presidente eleito (eu me recordo vivamente desse momento porque foi a senha para que eu corresse para a Rádio Jornal do Brasil, onde passei a noite ajudando na edição seguinte do “Jornal do Brasil Informa”, que iria ao ar às seis e meia da manhã, e, também, finalizando, com outros colegas, o obituário que estava sendo preparado desde que a doença se agravara).
Foi uma cobertura histórica e desafiadora, num tempo em que entrar ao vivo não era algo trivial. Não só porque era necessário um caminhão, mas pelo desafio de encontrar entre prédios, e mesmo árvores, uma brecha para que a antena parabólica erguida ficasse em linha com a torre de transmissão da Globo.
Quarenta e três anos de trabalho em TV significam estrear a cor (no jornalismo), o vídeo tape, a alta definição. De depender de câmeras grandes, que precisavam de um equipamento em separado para a gravação, à possiblidade de usar apenas um celular. Dessa trajetória, Tramontina carrega alguns orgulhos, o de ancorar o primeiro jornal fora de um estúdio, na Globo, a edição do Bom Dia São Paulo que comemorou o aniversário da cidade, em 1990. Dois anos depois, para marcar os 15 anos do Bom Dia São Paulo, outro feito, a primeira ancoragem de telejornal feita a bordo de um helicóptero, no Brasil. E mais recentemente, quando veio a pandemia, e por segurança se recolheu em casa, aprendeu a gravar sozinho e fez da varanda do seu apartamento o cenário para ancoragem do Antena Paulista, com um resultado que mereceu aplausos da equipe técnica.
Tramontina foi o rosto do Bom Dia São Paulo por sete anos. Âncora do SPTV Segunda Edição desde 1998. Em 2000, passou a apresentar também o Antena Paulista, aos domingos.
Com a voz dele, os paulistas acompanharam a visita dos papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Se chocaram com casos policiais, como o do maníaco do parque, o sequestro de Silvio Santos, , o ataque do PCC, em 2006, o assassinato de Isabela Nardoni, em 2008. Em longas transmissões, que aconteciam do chão ou pelo ar, o público também chorou a despedida a Elis Regina, Airton Senna, Mamonas Assassinas e Mario Covas.
Na metrópole de clima caprichoso e acontecimentos imprevisíveis viu cair dois aviões. Em 1996, logo após a decolagem, o Fokker 100 da TAM, com 93 mortes. Em 2007, no pouso, o voo da TAM, vindo de Porto Alegre, com 224 pessoas a bordo. Ocasiões em que a notícia era chocante a ponto de merecer uma edição inteira do SPTV. Foi assim na explosão do shopping de Osasco, no dia dos namorados de 1996 e os dias que se seguiram ao incêndio do Edifício do Largo Paissandu, ocupado por 117 famílias, em maio de 2018.
Os colegas da redação de São Paulo aprenderam a ver nele um profissional generoso ao dividir seu conhecimento com os mais jovens, detalhista e muito rigoroso com a apuração e a qualidade técnica. Um torcedor discreto e apaixonado pelo Palmeiras, que se permitia a pequena transgressão de vestir uma gravata verde toda vez que seu time ganhava.
Nesses 21 anos de convivência, pude confirmar a impressão de todos os que trabalham com ele. Tramontina é um profissional de excelência, de dedicado, atento aos detalhes.
Tramontina deixa hoje a Globo, uma saída em comum acordo. Quis se despedir com duas bonitas ancoragens do SP2, no Sambódromo, e a transmissão da apuração das Escolas de Samba de São Paulo. Ele deseja dedicar mais tempo para a mulher, os dois filhos e a neta Alice, que nasceu em março. Correr agora não será mais atrás da notícia, mas apenas para manter a forma, como sempre gostou.
Para ancorar o SP2, no lugar de Carlos Tramontina, convidamos José Roberto Burnier. Os dois dividem uma trajetória parecida e uma amizade que atravessa décadas. Burnier começou na EPTV, em Campinas. A convite do Globo Rural, se mudou pra São Paulo. Ficou no programa por cinco anos. Em 1988, se juntou ao time de repórteres dos jornais diários.
Assim como Tramontina viu pelas lentes da reportagem a redemocratização do país. Burnier cobriu as repercussões da Assembleia Constituinte, a eleição presidencial de 89 e todas as que se seguiram até se mudar para Buenos Aires, como correspondente, em 2004. Nesse mesmo ano, entrevistou Hugo Chaves para o Jornal Nacional e depois, em outras coberturas, viajou para quase todos os países da América do Sul.
De volta ao Brasil, seguiu como repórter do Jornal Nacional até 2018, quando a GloboNews criou o Em Ponto e o escolheu como âncora. No ano passado, passou a ser o apresentador de São Paulo, no Conexão.
À frente do SP2, vai exercitar suas qualidades de âncora na TV aberta, função que ele teve apenas brevemente na primeira metade da década de 90.
Ao Tramontina, agradeço toda a contribuição que deu ao jornalismo brasileiro e ao da Globo em especial e desejo que realize tudo o que deseja.
Ao Burnier, desejo toda sorte do mundo na substituição desse seu contemporâneo, uma grife do nosso jornalismo.
Ali Kamel”

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Caso Diddy: advogado explica quantidade de óleo de bebê encontrada na casa do rapper

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Em entrevista ao TMZ, Marc Agnifilo afirmou que não sabia o número exato de produtos e nem a finalidade. Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Além de toda polêmica envolvendo o caso de Sean “Diddy” Combs, um ponto chamou a atenção: teriam sido encontrados pela polícia cerca de mil frascos de óleo de bebê na residência do rapper. O artista foi preso no dia 16, alvo de uma série de processos por tráfico sexual e agressão. Em entrevista ao TMZ, Marc Agnifilo, advogado do rapper, tentou esclarecer a questão das garrafas do produto.
Sean ‘Diddy’ Combs durante um evento em 2018
Richard Shotwell/Invision/AP/Arquivo
Agnifilo afirmou que não sabia a quantidade exata de garrafas, apenas explicou que eram muitas. “Não vamos dizer que eram mil frascos de óleo de bebê, vamos dizer que eram muitos deles”. Ele acrescentou: “Diddy tem uma grande casa. Ele compra a granel” .
Questionado pelo TMZ se o produto era usado como lubrificante em orgia, Agnifilo respondeu. “Não sei porque você precisaria de mil fracos de óleo de bebê (para uma orgia). Um ajudaria.”
Entenda
A prisão de Sean Diddy Combs em 16 de setembro movimentou a indústria da música, levantou teorias nas redes sociais e fez explodir as buscas pelo nome do rapper na internet.
Ele foi preso em Nova York, nos Estados Unidos, após meses de investigações. No meio disso, houve a divulgação de um vídeo que mostra Diddy arrastando e chutando, sua então namorada, no corredor de um hotel.
Imagem de vídeo divulgado pela CNN, que mostra o rapper Sean ‘Diddy’ Combs agredindo a ex-namorada Cassie Ventura
Reprodução/CNN
Ponto a ponto: quem é Sean Diddy Combs e quais são as acusações que envolvem sua prisão
O caso
Após meses de investigação, o rapper e empresário Sean “Diddy” Combs foi preso acusado de, segundo a Promotoria de Nova York:
tráfico sexual;
associação ilícita;
promoção da prostituição.
Durante “décadas”, Sean Combs “abusou, ameaçou e coagiu mulheres e outras pessoas ao seu redor para satisfazer seus desejos sexuais, proteger sua reputação e ocultar suas ações”, segundo o documento da acusação, que afirma que ele usava seu “império” musical para atingir seus objetivos.
Ele se declarou inocente em tribunal. O pagamento de fiança foi negado e ele segue preso, aguardando julgamento. Segundo a imprensa internacional, caso seja julgado culpado das três acusações, Diddy pode ser condenado a prisão perpétua.
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Eric Clapton faz show no Rio com repertório baseado no blues

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Às vésperas de lançar álbum, guitarrista desfilou clássicos do gênero em apresentação que prioriza música e performance. Apresentação ainda teve aceno solidário à Palestina. Eric Clapton faz show no Rio em setembro de 2024
Henrique Porto/g1
Um palco simples. Não há cenário, telões gigantescos ou efeitos mirabolantes. Figurinos e iluminação são discretos. Nenhum conceito é proposto. E há pouquíssima interação com o público. Só a música importa. É mais ou menos essa a descrição da turnê que o cantor, compositor e guitarrista britânico Eric Clapton traz ao Brasil neste mês de setembro. A escala nesta quinta-feira (26) foi na Farmasi Arena, no Rio. Foram, ao todo, 100 minutos diante de uma superbanda.
Às vésperas de lançar seu álbum “Meanwhile”, em 4 de novembro, ele ainda se mostra relevante como um pioneiro da guitarra aos quase 80 anos.
O que Eric Clapton nos oferece nesta quarta passagem pelo país (também tocou por aqui em 1991, 2001 e 2011) basicamente é um show de blues. E o “basicamente” aqui não tem nada de pejorativo. Muito pelo contrário. Foi o gênero que ele “abraçou” e se apoiou ainda menino, período em que percebeu que a vida em família era uma farsa.
Além de nunca ter conhecido o pai, foi abandonado pela mãe logo que nasceu. Seus parentes esconderam a verdade pelos primeiros nove anos de sua vida. Passou todo esse tempo achando que a avó era sua mãe; e a mulher que pensava ser sua irmã, essa sim era sua mãe biológica.
Deprimido com as mentiras, encontrou na música um jeito de aplacar a raiva e a dor. Virou um aficionado não só pelo blues, mas também pela guitarra. E aprendeu praticamente tudo o que sabe tocando junto com os álbuns de Robert Johnson, Freddy King, John Lee Hooker, Albert King, B.B. King e Muddy Waters, entre outros.
Em uma fase intérprete
Ao vivo, Eric Clapton, hoje, é mais um intérprete do que um músico autoral. Quase nada das canções que costuma tocar nos shows é assinada por ele. No Rio, por exemplo, apenas “Sunshine of your love”, “Badge” (dois clássicos do Cream, trio britânico do qual Clapton fez parte, ao lado de Jack Bruce e Ginger Baker, entre 1966 e 1968), “Old love” e “Got to get better in a little while” (esta, do Derek & The Dominos, banda que liderou em 1970) têm seu nome nos créditos.
Apesar da extensa obra fonográfica, o próprio Clapton já confessou não ser muito chegado aos próprios álbuns, sobretudo aqueles gravados nas décadas de 1980 e 1990. Consequência do vício em cocaína, heroína e, principalmente, do alcoolismo. No documentário “Life in 12 bars”, assume essa realidade com uma sinceridade assustadora: “Quando ouço aqueles discos hoje, consigo perceber o quanto estava bêbado.” Pode ser que não justifique, mas talvez ajude a explicar a escolha das canções na hora de subir ao palco.
Momento acústico
Depois do início acelerado, com as já citadas “Sunshine of your love”, “Badge” e os blues “Key to the highway” e “I’m your hoochie coochie man”, Clapton tira o pé com um bloco de canções acústicas — em recentes entrevistas, revelou o prazer que voltou a sentir ao tocar violão ao vivo. Pois assim tem sido desde os anos 1990, durante shows solo e apresentações no Festival Crossroads, que promove de tempos em tempos para arrecadar dinheiro para seu centro de reabilitação na ilha de Antígua.
O blues “Kind hearted woman”, “Change the world” (canção que fez parte da trilha sonora do filme “Fenômeno”, com John Travolta, de 1996) e “Nobody knows you when you’re down and out” foram os destaques, além, é claro, de “Tears in Heaven”, canção que compôs em homenagem ao filho Conor, morto em 1991 depois de cair do 53º andar do edifício Galleria, em Nova York. Aqui, Clapton se confunde e erra a letra de seu maior sucesso, mas recebe os aplausos de uma plateia compreensiva e emocionada.
No palco, ele é acompanhado pro Nathan East (baixo), Doyle Bramhall II (guitarra e vocais), Sonny Emory (bateria), Chris Stainton (teclados) e Tim Carmon (órgão e teclados), além de Sharon White e Katie Kissoon (vocais). Sabendo do potencial dos músicos que tem a seu lado, é generoso, abrindo espaço para improvisos da banda em vários momentos do show.
Sem um dos maiores hits
A grande ausência da noite foi “Layla”, fruto da paixão arrebatadora do guitarrista por Pattie Boyd, esposa do amigo e ex-beatle George Harrison, no fim dos anos 1960. Na pista, era possível ouvir suspiros e lamentos de boa parte do público após o show.
Aliás, não só “Layla”, mas outras canções também dedicadas a Pattie, como “Wonderful tonight”, “Bell bottom blues” e “Have you ever loved a woman”, já não constam mais das apresentações do guitarrista. Lembranças que Clapton parece querer deixar registradas apenas em disco (Eric e Pattie chegaram a ser casados por anos, mas Clapton confessou em sua autobiografia que nunca chegou a ser plenamente feliz ao lado dela).
Quase um octogenário (faz aniversário em março do ano que vem), Clapton virou um guitarrista mais econômico. Seus solos são mais contidos, mas também mais expressivos.
Muito diferente do músico virtuoso e agressivo que o fez ser admirado por Jimi Hendrix na época do Cream. Ou de quando saiu em turnê para promover o álbum “From the cradle”, de 1994, 100% dedicado ao blues. Agora, parece escolher melhor as notas em fraseados mais curtos, ao mesmo tempo que ainda mantém sua assinatura ao instrumento. Está mais “slowhand” do que nunca (apelido que recebeu ainda nos Yardbirds, sua primeira grande banda, por demorar demais a afinar as cordas de sua guitarra antes dos shows).
Falando nela, Clapton retornou ao palco com uma guitarra pintada com as cores da bandeira palestina. Uma silenciosa manifestação de solidariedade que pareceu bem aceita pela plateia. Um alívio, a julgar pelo histórico de equívocos de Clapton fora da música. Como na década de 1970, quando apoiou o ex-ministro da Saúde britânico Enoch Powell, do Partido Conservador, que promoveu o racismo e a xenofobia depois de uma série de discursos contra a imigração na Grã-Bretanha (Rod Stewart e David Bowie também caíram na lábia de Powell). Ou mais recentemente, quando se declarou contra a vacina em plena pandemia de Covid-19.
De volta à música e ao bis, o cantor, compositor e guitarrista americano Gary Clark Jr. — que abre os shows de Clapton já há alguns anos — se juntou ao veterano inglês para um duelo de guitarras em “Before you accuse me”, de Bo Diddley, regravada por Clapton no álbum “Journeyman”, de 1989. Um encerramento simbólico, que sugere a passagem de bastão entre gerações de discípulos do blues e a perpetuação do gênero. Bom sinal.
Cartela resenha crítica g1
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Festas e Rodeios

‘Harlequin’, de Lady Gaga, é álbum recheado de ‘produções originais interessantes’

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Cantora explicou que prepara outro álbum de inéditas e que disco tem canções de ‘Coringa: Delírio a Dois’, que ela protagoniza com Joaquin Phoenix, e outras inspiradas pelo filme. Lady Gaga anuncia ‘Harlequin’, disco que acompanha ‘Coringa: Delírio a Dois’.
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Lady Gaga disse que seu álbum surpresa que acompanha a sequência de “Coringa: Delírio a Dois” apresenta novas músicas que ela escreveu para o filme e para o disco. Ela anunciou o álbum de 13 faixas “Harlequin” na terça-feira, poucos dias antes de seu lançamento nesta sexta-feira.
“São todas essas produções originais realmente interessantes”, disse Lady Gaga no tapete vermelho da première de “Coringa: Delírio a Dois”, em Londres.
“São muitas das músicas que estão em ‘Coringa’, assim como algumas peças originais que escrevi para o filme e uma que é apenas para o álbum, que se chama ‘Happy Mistake’.”
Assista ao trailer de “Coringa: Delírio a Dois”
A cantora de 38 anos tem trabalhado simultaneamente em seu próximo álbum de estúdio, batizado de “LG7”. “Meu álbum de estúdio será lançado em fevereiro e meu primeiro single será lançado muito em breve, então estou animada com isso também”, disse ela.
Em seu último papel nas telas, a atriz de “Nasce uma estrela” e “Casa Gucci” interpreta o interesse amoroso do Coringa, Harleen Quinzel, também conhecida como Harley Quinn. “Coringa: Delírio a Dois” tem lançamento mundial nos cinemas em 1º de outubro.
Lady Gaga em foto do álbum ‘Harlequin’
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