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Festas e Rodeios

Dori Caymmi e Mônica Salmaso se enredam cúmplices nas tramas do álbum ‘Canto sedutor’

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Cantora se une ao compositor no registro de 14 músicas da parceria de Dori com Paulo César Pinheiro em belo disco que, situado no Brasil interiorano, repisa trilhas já seguidas pelos artistas. Capa do álbum ‘Canto sedutor’, de Mônica Salmaso e Dori Caymmi
Xilogravura de Marcelo Soares
Resenha de álbum
Título: Canto sedutor
Artista: Dori Caymmi e Mônica Salmaso
Edição: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
♪ Parceiros em obras-primas da MPB como Desenredo (1976) e Velho piano (1982), Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro ampliaram a obra conjunta ao longo dos últimos 13 anos em quatro álbuns – Inner world / Mundo de dentro (2009 / 2010), Poesia musicada (2011), Setenta anos (2014) e Voz de mágoa (2017) – gravados por Dori somente com músicas compostas com o parceiro letrista.
Em que pese a alta qualidade poética e melódica do cancioneiro recente da dupla, a obra dos compositores vem resultando pautada por certa linearidade na forma e na temática, evidenciada nesses quatro álbuns de Dori.
Como o canto excepcional de Mônica Salmaso também soa por vezes com a mesma temperatura, a ideia de um álbum como Canto sedutor – disponível nos players digitais a partir de amanhã, 27 de maio, e com edição em CD já nos planos da gravadora Biscoito Fino – é, em teoria, no mínimo arriscada.
O risco foi diminuído pelo fato de Dori ter tido à disposição, na criação dos arranjos, músicos como o violeiro Neymar Dias, o baixista Sidiel Vieira e o pianista Tiago Costa, além do flautista Teco Cardoso, produtor musical do disco, enquanto álbuns como o já mencionado Setenta anos foram formatados somente com a voz e o violão de Dori (o que já é muito, diga-se).
Ainda assim, é sintomático que os dois pontos mais altos do álbum Canto sedutor sejam os registros de músicas mais antigas do repertório. Samba-canção que ressoa o desengano que emerge no vaivém do amor, Velho piano toca fundo na voz de Mônica, secundada pelo contracanto de Dori, com arranjo encorpado pelas cordas da St. Petersburg Studio Orchestra.
Introduzido no disco pela voz de Dori, cujo canto é capaz de conciliar doçura e profundidade, Desenredo se desenrola com os dois artistas puxando o fio da memória afetiva mineira em trama que ecoa a sintaxe do poeta e escritor João Guimarães Rosa (1908 – 1967).
Dori Caymmi e Mônica Salmaso lançam o álbum ‘Canto sedutor’ na sexta-feira, 27 de maio
Lorena Dini / Divulgação
É nesse encontro de vozes de amor e mágoa que reside muito do encanto do álbum Canto sedutor. Não se trata de um álbum de Mônica cantando Dori. Canto sedutor é disco em que Mônica canta Dori com Dori – o que faz toda a diferença.
A cumplicidade dos solistas salta aos ouvidos já na abertura do álbum com a inédita música-título Canto sedutor. “Às vezes as canções têm dor / E a voz pode até embargar / Mas canto um canto sedutor / Pra quem precisa me escutar”, avisam Salmaso e Dori, afinados, nos versos metalinguísticos do tema de abertura.
Na sequência, outra inédita, Raça morena, situa o cancioneiro de Dori e Pinheiro no Brasil interiorano, rural, das matas e das águas, habitat natural da obra resultante da parceria.
É nessa geografia sertaneja que se ambientam Vereda (2011) – música gravada com arranjo que segue a pisada do baião – e A água do rio doce (2022), terceira inédita apresentada entre as 14 músicas do álbum.
E, justiça seja feita, o enredo de Canto sedutor busca aliviar as dores poetizadas em canções melancólicas como Delicadeza (2009), solada pela cantora e ornada com as mesmas cordas que pontuam a lembrança afetiva de História antiga (Brasilian serenata, 1990), outra faixa somente com a voz de Salmaso.
A luz nordestina de Estrela da terra (1980) dissipa a treva sombria do desenredo cotidiano, com o toque do acordeom de Lulinha Alencar, instrumento que é um dos protagonistas da metalinguística Sanfona, flauta e viola (1994), exemplo de como a obra dos compositores cariocas se embrenham pelo grande sertão nordestino dos cantadores de baiões, modas, xaxados e aboios, evocados pelo contracanto de Dori na faixa levada pela voz de Mônica.
Voz de mágoa (2017) – música que batizou o último álbum solo de Dori, lançado há cinco anos – ressurge feliz, como cantiga para crianças. Já O passo da dança (2014) evolui leve, ágil, no canto dos artistas, com o baixo de Sidiel Vieira, o piano de Tiago Costa e as flautas de Teco Cardoso entrando entrosados na dança na passagem instrumental do arranjo embasado pelas percussões de Bré Rosário e da própria Mônica.
Em atmosfera contemplativa, é bonito de se ouvir a evocação em Quebra-mar (2009) do cancioneiro matricial do Dorival Caymmi (1914 – 2008), patriarca da família musical de Dori.
No fecho do disco, a canção À toa (2014) mantém Canto sedutor na mesma estrada trilhada pela obra de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, reiterando a sensação de que, embora seja tudo muito bonito no álbum, já passa da hora de Mônica Salmaso – uma das maiores cantoras do Brasil em todos os tempos – sair da zona de segurança e arriscar outros caminhos, outras trilhas, outros sons, como fizeram Alaíde Costa, Áurea Martins e Leila Maria em álbuns recentes e já antológicos.

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Raoni Ventapane, neto de Martinho da Vila, assina o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 2025

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♪ É inevitável recorrer ao clichê de que “na casa de Martinho da Vila, todo mundo é bamba” quando chega a notícia de que um dos netos do compositor fluminense integra o time campeão dos compositores que assinam o samba-enredo escolhido pela Unidos de Vila Isabel na madrugada deste sábado, 28 de setembro, para o desfile das escolas de sambas do Rio de Janeiro no Carnaval de 2025.
Integrante da Ala de Compositores da agremiação azul-e-branca que Martinho da Vila carrega no sobrenome artístico, Raoni Ventapane assina com Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva o samba criado a partir do enredo Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece.
Filho de Analimar Ventapane, Raoni é cantor, compositor e ritmista da Swingueira de Noel, nome do grupo de bateristas da Unidos de Vila Isabel.
O samba-enredo de Raoni Ventapane venceu outros dois sambas na disputa realizada na quadra da escola, que será a última a desfilar na segunda-feira de Carnaval.
Raoni Ventapane (ao centro) celebra a vitória do samba-enredo ‘Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece’ na disputa encerrada na madrugada de hoje
Divulgação / Unidos de Vila Isabel
♪ Eis a letra do samba-enredo campeão da Unidos de Vila Isabel no Carnaval de 2025:
Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece
(Raoni Ventapane, Ricardo Mendonça, Dedé Aguiar, Guilherme Karraz, Miguel Dibo e Gigi da Estiva)
“Embarque nesse trem da ilusão
Não tenha medo de se entregar
Pois nosso maquinista é capitão
E comanda a multidão que vem lá do boulevard…
O breu e o susto em meio a floresta
Por entre os arbustos, quem se manifesta?…
Cara feia pra mim é fome
Vá de retro lobisomem, curupira sai pra lá.
No clarão da lua cheia
Margeando rio abaixo
Ouço um canto de sereia
Ê caboclo d’água
Da água que me assombra
A sombra da meia noite
Foi-se a noite de luar
Na tempestade, encantada é a gaiola
Chora viola, pra alma penada sambar
Nas redondezas credo em cruz ave maria
Quanto mais samba tocava, mais defunto aparecia
Silêncio…
Ao som do último suspiro vai chegar
A batucada suingada de vampiros
Quando o apito anunciar….
Eu aprendi que desde os tempos de criança
A minha vila sempre foi bicho papão
Por isso, me encantei com esse feitiço
Que hoje causa reboliço dentro desse caldeirão
Solta o bicho minha vila dá um baile de alegria
É o povo do samba virado na bruxaria
Quanto mais eu rezo, quanto mais eu faço prece
Mais assombração que aparece”

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‘Acabou vindo para cima de mim porque perdeu a cabeça’, diz ex de Ryan SP após foto em que funkeiro parece agredi-la

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Giovanna Roque reclamou de repercussão de imagem e disse que o músico está sendo alvo de ‘gente muito suja’ que deseja prejudicá-lo. MC Ryan SP e Giovanna Roque
Reprodução/Instagram
A influenciadora Giovanna Roque publicou no Instagram um vídeo em defesa de seu ex-namorado, MC Ryan SP. O post foi feito nesta sexta (27), horas após o vazamento de uma imagem em que o funkeiro parece estar dando chutes nela.
“O Ryan não é essa pessoa ruim que vocês estão pensando que ele é”, afirmou a influenciadora. “Ocorreu, sim, uma discussão no último término que a gente teve. O Ryan tinha aprontado e, nesse dia, eu perdi muito a cabeça, fiquei muito nervosa. Quebrei o telefone dele, fui para cima dele. E aí, ele ficou muito nervoso por conta dessas coisas e acabou vindo para cima de mim também, porque ele perdeu a cabeça. A gente deu abertura pro inimigo. Isso nunca aconteceu antes.”
Roque reclamou da repercussão da imagem e também disse que o músico está sendo alvo de “gente muito suja” que deseja prejudicá-lo. Os dois têm uma filha de nove meses.
“A gente realmente brigou”, afirmou ela. “Então, quer dizer que ele não pode errar uma vez?”
A assessoria do funkeiro disse que, por enquanto, não vai se pronunciar. Ryan é conhecido por hits como “Let’s Go 4”, “Filha do Deputado” e “Vai Vendo”.

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Quinteto Villa-Lobos irmana Caymmi, K-Ximbinho, Noel Rosa, Pixinguinha e Jacob nos sopros do álbum ‘Sempre’

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Quinteto Villa-Lobos lança o álbum ‘Sempre’ em 1º de outubro
Daniel Erbendinger / Divulgação
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♪ Em cena desde 1962, o Quinteto Villa-Lobos sempre cruzou as fronteiras entre a música erudita e a canção popular brasileira ao longo dos 62 anos de atividade profissional.
Sempre – álbum que o grupo de sopros lançará na terça-feira, 1º de outubro, em edição da gravadora Biscoito Fino – investe nessa mistura de linguagens através dos registros fonográficos de temas de compositores brasileiros como Dorival Caymmi (1914 – 2008), Jacob do Bandolim (1918 – 1969), Joel Nascimento, K-Ximbinho (1917 – 1980), Noel Rosa (1910 – 1937) e Pixinguinha (1897 – 1973).
Formado atualmente por Aloysio Fagerlande (fagote), Cristiano Alves (clarinete), Philip Doyle (trompa), Rodrigo Herculano (oboé) e Rubem Schuenck (flauta), o Quinteto Villa-Lobos assina a direção musical e a produção do álbum em que irmana esses grandes compositores brasileiros nos sopros de Sempre.
Gravado no estúdio A casa, o álbum Sempre reproduz quatro arranjos de Paulo Sérgio Santos – como os do samba-canção Só louco (1955) e de Modinha para Gabriela (1975), temas de Caymmi – em tributo a este clarinetista que integrou o Quinteto Villa-Lobos por cerca de cinco décadas.
O repertório do disco inclui Ainda me recordo (Pixinguinha e Benedito Lacerda, 1932), Noites cariocas (Jacob do Bandolim, 1957), Teleguiado (K-Ximbinho, 1958) e O pássaro (Joel Nascimento, 1978), além de Visitando Noel, medley que agrega Feitiço da Vila (Vadico e Noel Rosa, 1934), As pastorinhas (Braguinha e Noel Rosa, 1934), Conversa de botequim (Noel Rosa e Vadico, 1935) e Palpite infeliz (Noel Rosa, 1935).
Capa do álbum ‘Sempre’, do Quinteto Villa-Lobos
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