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Projeto de monitoramento identifica espécies inéditas de mamíferos no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio

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Armadilhas fotográficas fizeram o registro raro de um gato-palheiro-do-pantanal (Leopardis braccatus) melânico. Outra novidade foi a presença da raposinha ou raposa-do-campo (Lycalopex vetulus). Primeiro ano de pesquisa listou 40 espécies de mamíferos na Unidade de Conservação. Gato-palheiro-do-pantanal (Leopardis braccatus) melânico foi registrado por armadilhas fotográficas no Parque Estadual do Morro do Diabo
Fundação Florestal
Armadilhas fotográficas instaladas no Parque Estadual do Morro do Diabo fizeram registros de espécies inéditas de mamíferos na área, ou seja, que não constavam na lista oficial da Unidade de Conservação localizada em Teodoro Sampaio (SP).
Um desses “flagrantes” foi duplamente especial: um gato-palheiro-do-pantanal (Leopardis braccatus) melânico – o melanismo deixa a pelagem mais escura e é considerado raro.
A descoberta é resultado do primeiro ano de um projeto-piloto de monitoramento realizado por pesquisadores da Fundação Florestal. Quatro Unidades de Conservação foram selecionadas para receberem a ação, entre elas o Morro do Diabo.
Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP)
Fundação Florestal
Além do felino, a outra espécie que foi novidade para a Unidade de Conservação é a raposinha ou raposa-do-campo (Lycalopex vetulus). A espécie de canídeo foi registrada no parque pelas armadilhas fotográficas e também foi vista na área urbana de Teodoro Sampaio durante uma aula de um colégio, em uma praça.
“Eles filmaram e conseguimos confirmar o registro feito pelas armadilhas, de que ela realmente ocorre na região”, afirmou ao g1 a bióloga Andréa Pires Soares, que é pesquisadora e responsável pelo monitoramento de grandes mamíferos da Fundação Florestal.
Raposinha, ou raposa-do-campo (Lycalopex vetulus), é novidade no Parque Estadual do Morro do Diabo
Fundação Florestal
Primeiro ano
Fruto de um workshop sobre a fauna ocorrido em 2019 pela Fundação Florestal, o projeto teve início em 2020 com a estruturação da equipe e a concepção do roteiro. As atividades de campo iniciaram-se em 2021.
Foram escolhidas quatro espécies-alvo, que são chamadas de “espécies guarda-chuvas”. “Pois, protegendo elas, abrimos um guarda-chuva de proteção para as outras espécies da comunidade ecológica, explicou a pesquisadora ao g1.
São elas:
Onça-pintada (Panthera onca)
Onça-parda (Puma concolor)
Anta (Tapirus terrestris)
Queixada (Tayassu pecari)
Das espécies-alvo do projeto, somente a queixada não foi registrada no Parque Estadual do Morro do Diabo, segundo contou Andréa ao g1.
A pesquisadora ainda destacou que o levantamento identificou e registrou sete onças-pintadas diferentes. A anta também é bastante frequente e pode ocupar até 93% da área do parque, conforme acrescentou a coordenadora do projeto.
Estudo identificou sete onças-pintadas (Panthera onca) diferentes no Morro do Diabo
Fundação Florestal
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Em um ano de levantamento, foram 10.827 imagens identificadas e um total de 40 espécies de mamíferos listadas, de pequeno a grande portes. Dessas, 32 são de médio e grande portes e quatro são exóticas, sendo elas o cachorro doméstico (Canis familiaris), o gato-doméstico (Felis catus), o boi (Bos taurus) e a lebre-europeia (Lepus europaeus).
“Os dados conseguidos serviram de base para se fazer mapas preditivos da ocupação das espécies-alvo de como elas usam e ocupam a área, permitindo que se planeje estratégias melhores para fiscalização e pesquisa”, explicou ao g1 Andréa Soares Pires.
Veja na tabela abaixo as espécies identificadas:
Mamíferos identificados no Parque Estadual do Morro do Diabo
LC – Pouco preocupante
NT – Quase ameaçada
VU – Vulnerável
EN – Em perigo
CR – Criticamente em perigo
EW – Extinta na natureza
EX – Extinta
DD – Dados insuficientes
NE – Não avaliada
** Animal do gênero citado, porém, de espécie ainda não identificada devido à falta de detalhes no registro provenientes de ângulo do registro, luminosidade, ou outras intercorrências.
Continuidade
O projeto deve continuar a longo prazo no Parque Estadual do Morro do Diabo. Na segunda quinzena de junho, novamente serão instaladas as armadilhas fotográficas em campo para o segundo ano de monitoramento.
“Todo ano as armadilhas ficam 120 dias em monitoramento. Depois, fazemos as análises dos dados e no próximo ano teremos resultados históricos de como está sendo a conservação das espécies nesse território protegido por lei”, explicou a pesquisadora ao g1.
Um protocolo avançado para as onças-pintadas na Unidade de Conservação que fica no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo, também está sendo desenhado junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap).
Para a pesquisadora, o projeto é importante para “melhorar a efetividade da gestão do parque, atuando em ações estratégicas para a conservação do ambiente, aumentando a fiscalização em partes da área, fazendo tratativas com o DER [Departamento de Estradas de Rodagem] para minimizar o impacto dos atropelamentos, divulgando os resultados para conscientização sobre a fauna ameaçada”.
Armadilhas fotográficas foram instaladas para auxiliar no monitoramento de animais no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP), no extremo oeste do Estado de São Paulo
Fundação Florestal
Abrangência
Quatro áreas pilotos foram selecionadas pelos pesquisadores da Fundação Florestal para o desenvolvimento do projeto e para servirem de base para a elaboração do subprograma. São elas:
Estação Ecológica Jureia-Itatins, em Peruíbe (SP)
Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio
Núcleo Curucutu, no Parque Estadual da Serra do Mar, dividido entre os municípios de São Paulo (SP), Itanhaém (SP), Juquitiba (SP) e Mongaguá (SP)
Núcleo Itariru, no Parque Estadual da Serra do Mar, que compreende parte dos municípios de Itariri (SP), Juquitiba, Peruíbe, Miracatu (SP) e Pedro de Toledo (SP)
As armadilhas fotográficas são distribuídas pelas áreas, em diferentes tipos de vegetação, e a partir dos registros são feitas análises estatísticas para se obter as informações de como essas espécies se distribuem no território.
“Os resultados foram bastante promissores para este primeiro ano de monitoramento para podermos atuar na melhoria da fiscalização e gestão das áreas como um todo”, salientou a coordenadora do projeto.
Onça-parda ou suçuarana (Puma concolor) registrada por armadilhas fotográficas instaladas no Parque Estadual do Morro do Diabo
Fundação Florestal
Sobre as espécies inéditas no Morro do Diabo
Vulnerável à extinção, a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) é a única espécie de canídeo brasileiro endêmica do Cerrado, bioma sob alta pressão antrópica e com menos de 20% de sua área original ainda em estado primitivo.
Conforme informações da Fundação Florestal repassadas ao g1, considerando as estimativas mais conservadoras, o Cerrado sofreu um desmatamento de 50% de sua área nos últimos 40 anos e, destes, pode-se estimar uma perda de 20% de área em um período de 15 anos (três gerações), que deve refletir em uma perda populacional equivalente para a espécie.
Este declínio não cessou. Estima-se que a espécie terá uma perda de hábitat de, pelo menos, 10% nos próximos 15 anos.
Considerando que a espécie também sofreu e continua sofrendo perdas importantes não quantificadas decorrentes de atropelamento, predação por cães domésticos, doenças, retaliação à suposta predação de animais domésticos, e alta mortalidade de filhotes/juvenis, o declínio populacional deve, em uma estimativa conservadora, ter sido de pelo menos 30% nos últimos 15 anos e deve atingir o limite de 30% nos próximos 15 anos.
Estudo identificou sete onças-pintadas (Panthera onca) diferentes no Parque Estadual do Morro do Diabo
Fundação Florestal
Em relação ao gato-palheiro-do-pantanal (Leopardus braccatus), não há informações sobre o grau de ameaça para o Estado de São Paulo, pois não é área de ocorrência da espécie, “o que demanda muita atenção”.
A espécie ocorre das áreas andinas do Peru à porção temperada da América do Sul, incluindo Pantanal e Brasil central.
Ainda segundo a Fundação Florestal, é um animal pouco estudado, com poucas informações sobre sua ecologia. É usualmente associado a hábitats com vegetação aberta, mas também pode ser encontrado em ambientes florestados.
Pegada de felino de grande porte encontrada durante os trabalhos de monitoramento
Fundação Florestal
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Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

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Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
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O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
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Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
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Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

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Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

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Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

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Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

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