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Revolucionário e genial: quem foi Letieres Leite, parceiro de Caetano e Ivete e que levou o Universo Percussivo Baiano para o mundo

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Artista morreu nesta quarta-feira (27) em Salvador aos 61 anos. O maestro Letieres Leite morreu nesta quarta aos 61 anos
Fernando Eduardo/Divulgação
A Bahia, que se orgulha em cada esquina por ser a terra de gênios da cultura, recolheu seus atabaques nesta quarta-feira (27) para lamentar a morte precoce do maestro e multi-instrumentista Letieres Leite. O arranjador de 61 anos morreu em casa, em Salvador.
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Ao longo da carreira, Letieres fez parceria com artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Olodum, Ilê Aiyê, Nara Couto, Larissa Luz, Cascadura, Hermeto Pascoal, Elza Soares e outros. A lista infinda mostra o tamanho da importância de Letieres Leite para a música brasileira.
Filho de Xangô, orixá da Justiça, Letieres Leite nasceu em 8 de dezembro de 1959. A data é o dia de uma das mais tradicionais festas populares da Bahia, a Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira do estado. A relação talvez explique a paixão do maestro em fazer do popular algo sagrado.
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Letieres já carregava no nome o diferencial. Foi batizado apenas com sobrenomes. Um dos oito filhos de Maria do Carmo dos Santos Leite e Antônio Letieres Leite, o menino de 11 anos, estudante do Colégio Estadual Severino Vieira encontrou a música na escola. Em 1970 passou a integrar a orquestra afro-brasileira do colégio.
Na orquestra do Severino Vieira, Letieres costumava dizer que teve o contato definitivo com a percussão. Seu primeiro professor foi o mestre Moa do Katendê, morto em 2018.
No entanto, a pintura era outra paixão e no final dos anos 70, Letieres foi aprovado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, mas após três anos, passou para o curso de música na mesma universidade, já trabalhando com percussão e flauta. No começo dos anos 80, ainda na Bahia, chegou a fazer parceria com artistas como Gerônimo e Saul Barbosa. Pouco tempo depois se mudou para o sul do país. Morou em Porto Alegre, onde trabalhou com artistas como Renato Borghetti.
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Em 1985 deixou o Brasil para morar na Europa. Na Áustria, frequentou o Franz Schubert Konservatorium, uma das mais tradicionais escolas de música e artes de Viena.
Na volta ao Brasil após dez anos de Europa, Letieres se apresentou em diversos festivais instrumentais, como o PercPan, Panorama Percussivo Mundial, Festival de Música Instrumental da Bahia.
Letieres costumava dizer que não tinha regras para sua música e que fazia seu trabalho de forma intuitiva. O “segredo” sempre revelado era o olhar direto para a cultura de matriz africana na música.
No fim dos anos 90, Letieres também atuou como professor no curso de extensão em saxofone na Faculdade de Música da Universidade Federal da Bahia. Ele também fundou a AMBAH (Academia de Música da Bahia), escola especializada no ensino da música popular com enfoque na música da Bahia.
A escola contava com alunos bolsistas. O olhar social de Letieres fez do projeto com bolsas para estudantes a semente para o que anos depois seria o Laboratório Musical Rumpilezzinho, um projeto de formação de jovens da periferia através da música.
Letieres também iniciou uma parceria de 14 anos com Ivete Sangalo, como músico e como arranjador de algumas composições. A cantora lamentou a morte do artistas, a quem chamou de amigo genial. o músico baiano foi o responsável pelos arranjos de muitos sucessos da musa, incluindo “Festa”, “Empurra-empurra”, “Tô na rua” e “Abalou”.
Em paralelo ao trabalho com Ivete, Leitires deu início a outros projetos, o principal deles o Instituto Rumpilezz, orquestra que criou em 2006. O nome da orquestra remete ao olhar do músico sempre para a cultura de matriz africana, já que aglutina nomes de três atabaques usados no candomblé (rum, rumpi e lé), com as últimas letras da palavra jazz. Além de reger a orquestra, o artista era o responsável por todo o conceito – figurinos, ambientação – passando pelas composições e arranjos de sopro e percussão.
Na Rumpilezz, enquanto maestro e pesquisador, Letieres desenvolveu o método Universo Percussivo Baiano. O método tem como ponto de partida para um entendimento maior dos fundamentos rítmicos da MPB em seus diversos gêneros oriundos das matrizes africanas, em especial, o caráter educacional desse conhecimento.
Em 2017, a Rumpilezz venceu três prêmios da Música Brasileira (melhor álbum instrumental (A Saga da Travessia), melhor grupo instrumental e melhor arranjador). No mesmo ano, foi lançado o documentário UPB – Tempestade Emocional, com direção de Cecília Amado.
Em 2020, o trabalho do maestro virou dissertação de mestre do Programa de Pós Graduação Profissional em Música, da Universidade Federal da Bahia, com o trabalho “Universo percussivo baiano de Letieres Leite − educação musical afro-brasileira: possibilidades e movimentos”, do amigo e coordenador pedagógico da Rumpilezzinho, Guilherme Scott.
Em 2021, a orquestra celebra seu aniversário de 15 anos. Também neste ano, Letieres Leite contribuiu com arranjos para o disco Noturno, de Maria Bethania. Além dos arranjos em uma das faixas do disco mais recente de Caetano Veloso, Meu Coco, lançado na semana passada.
Letieres considerava a forma crítica de trabalhar a música como uma forma de afirmação da cultura negra. O maestro fazia questão de lembrar que seu começo da música também teve relação com a militância, já que foi um dos fundadores da União Livre dos Estudantes Secundaristas da Bahia e que até hoje se considerava um militantes.
Com seus instrumentos de sopro ou na percussão, Letieres fez da sua militância na cultura um elemento de transformação, seja com a mudança na vida dos jovens da periferia que passaram por seus projetos sociais, seja no trabalho que levou o Universo Percussivo Baiano ao mundo. Os instrumentos que silenciaram nesta quarta, voltarão a tocar em breve e certamente haverá ali um tanto de Letieres Leite.
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