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‘Marighella’: Elenco fala de perseguição em gravações e conta como filme pode ‘furar a bolha’

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Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, Humberto Carrão, Pastor Henrique Vieira e Maria Marighella falam ao g1 sobre longa dirigido por Wagner Moura. ‘Marighella’: Elenco conta perseguição em gravações e criação dos personagens
“Marighella”, filme dirigido por Wagner Moura, enfrentou toda a sorte de resistência e contratempos. Houve embate com a Ancine (Agência Nacional de Cinema), atraso de dois anos em seu lançamento, ataques virtuais. Durante o lançamento do filme em São Paulo, Moura citou injúrias à equipe.
Em entrevista ao g1, Humberto Carrão, que interpreta um guerrilheiro mais radical, contou sobre protestos durante as filmagens.
“A gente teve que mudar uma locação porque rolou um evento, marcaram para não deixar acontecer a filmagem. É até triste dizer isso, mas a gente se acostuma com essa loucura.”
Agora, eles enfrentam uma campanha negativa em sites especializados de cinema. Pessoas contrárias ao filme dão avaliações baixas para diminuir sua nota final. No Rotten Tomatoes, enquanto a nota da crítica é 88%, a da audiência é de 50%. No IMDb, mais de 36 mil pessoas (72% dos avaliadores) deram 1 estrela para o filme.
O elenco diz que a maior parte desses ataques é feita por robôs. “Muitas vezes, são nitidamente feitos por robôs. Isso se dá num bastidor que não tem cara”, diz Maria Marighella, atriz, política e neta de Carlos Marighella.
Como furar a bolha?
Elenco e equipe de ‘Marighella’ no Festival de Berlim
Divulgação
Mesmo com os ataques, os atores acreditam que o filme vai chegar todo o público, independentemente de filiações políticas. Para Bruno Gagliasso, existe uma fixação por trás da perseguição. “Eles estão loucos para assistir ao filme, essa que é a verdade. Vão tudo assistir escondido, pirata”, brinca.
Para o ator, a arte é a melhor maneira de atrair as pessoas. “Fazer arte é fazer política. Tentaram apagar esse cara e ele tá vivo.”
Outras estratégias foram a adoção de símbolos nacionalistas, o uso de elementos de ação e a escalação do pastor evangélico Henrique Vieira para interpretar Frei Tito, frade católico perseguido e torturado durante o regime militar.
Trailer de ‘Marighella’
“Tem vários preconceitos para quebrar. Mostrar que existe um diálogo entre fé e política que é frutífero porque não é fé que quer se apropriar do estado para seu projeto de poder, é fé que quer estar na dimensão pública da vida para produzir justiça, igualdade, liberdade e paz”, defende o pastor.
“E também mostra para setores da esquerda que existem religiosos comprometidos com a causa da justiça. Existe uma esquerda mais dogmática que acaba olhando para experiência religiosa como se ela fosse em si instrumento de alienação. Isso não dá conta vida.”
Convite, teste e crises
Wagner Moura explica ‘Marighella’: “É um filme dirigido por um ator”
Cada ator foi escalado de uma maneira diferente. Adriana Esteves, amiga de longa data de Moura, foi convidada por ele para interpretar Clara Charf, esposa de Marighella. “O Wagner é um amigo bastante cuidadoso comigo. E, quando ele me convidou, eu falava ‘mas não, por que, tem certeza?'”, conta.
Tudo mudou quando, em São Paulo, o diretor a convidou para tomar um café na casa da própria Charf. “Eu vi o amor daquela mulher. Eu estava sentada tomando um chá com ela na sala. Ela falava dele e olhava para a porta. Eu falei: o que foi, dona Clara? E ela disse: ‘Toda hora parece que ele vai bater’. Aquilo foi lindo.”
Adriana Esteves e Seu Jorge em cena de ‘Marighella’
Divulgação
Já Carrão foi convidado durante um protesto no Rio de Janeiro. Seu Jorge, foi escolhido depois de Mano Brown ter desistido do papel.
E Bruno Gagliasso, que recebeu elogios por sua interpretação do delegado Fleury, não foi convidado. Ele ligou para Wagner Moura e pediu para fazer o teste. Sérgio Paranhos Fleury foi delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops) durante a ditadura militar e responsável pelas torturas.
“Eu me inspirei em todos os ídolos do nosso presidente da República: Brilhante Ustra, Fleury, todos esses que a gente abomina me inspiraram para criá-lo”, contou.
Por conta da violência e do racismo de seu personagem, Gagliasso optou por sair de casa por três meses durante as filmagens. “É um personagem muito realista e assustador justamente por ser tão realista. Foi muito difícil, fiquei longe da minha família porque precisava me conectar a essa energia. Minha filha tinha acabado de chegar em casa, então precisei me afastar.”
Bruno Gagliasso em cena de ‘Marighella’
Diivulgação
Liberdade em cena
Os atores tiveram muita liberdade para criarem seus personagens, principalmente os que interpretaram guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional. Eles receberam o roteiro mais de um mês depois do início dos ensaios e muitas frases e cenas eram improvisadas – inclusive a que finaliza o filme.
“Foi muito bonito o que o Wagner propôs para a gente. Ele dizia: ‘Fala o que você quiser’. A minha cena final, o que eu falo, eu tive essa liberdade de dizer o que estava pensando. Por isso os personagens tinham nossos próprios nomes, por causa dessa autonomia”, conta Carrão.

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