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Parceiros de Marília Mendonça lembram criação de hits e dizem que ela compunha até dormindo

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Compositores que escreveram com Marília dizem que ela criava de bate-pronto e até criou melodia enquanto dormia: ‘Era um fenômeno’. G1 mergulha na obra dela no especial ‘Marliateca’. Renno Poeta (esquerda) e Junior Gomes (direita), parceiros de composição de Marília Mendonça
Reprodução / Instagram dos artistas
“Às vezes a gente estava compondo, e ela cantava uma coisa como se já te tivesse feito a música antes. Aí eu dizia: ‘Marília, as isso aqui você já tinha feito?’. E ela: ‘Não, acabei de criar aqui, agora’. Aí eu olhava e pensava: ‘Meu irmão, como é que essa mulher é desse jeito’?”
A lembrança é de Júnior Gomes, músico cearense que foi um dos principais parceiros de composição de Marília Mendonça no começo da carreira. “Ela era um fenômeno”, ele diz sobre a cantora que escreveu mais de 300 músicas entre os 12 e os 26 anos.
Júnior faz parte do coletivo #SeuHit, que ajudou a fazer com ela 11 músicas dos seus dois primeiros DVDs. Depois que Marília deu uma pausa nas composições, o grupo, com o reforço do músico Renno Poeta, continuou escrevendo hits para ela, como “Todo mundo vai sofrer” e “Esqueça-me se for capaz”.
Esta reportagem faz parte do especial “Mariliateca”. O g1 pesquisou, catalogou e analisou todo o cancioneiro da artista. Mergulhe nas listas de composições e interpretações, navegue através dos sentimentos das letras, relembre os hits e descubra raridades. Conheça as 441 músicas aqui.
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Escute também o podcast g1 ouviu sobre a pesquisa e o acervo precioso da “Mariliateca”:
O g1 já falou sobre como Marília sabia bem o que queria na carreira e sobre como ela inverteu a rota do sertanejo, começando do Norte e Nordeste em vez dos estados mais ao sul. Seus parceiros de composição narram isso na prática.
Júnior Gomes nasceu em Quixeramobim, no sertão do Ceará, e foi ser compositor em Fortaleza. Ele e seus amigos conseguiram emplacar algumas músicas no meio do forró, mas, lá em 2014, não tinham renome nacional.
Um antena sensível captou o trabalho deles lá de Goiânia. Marília Mendonça sentiu que o grupo sabia fazer músicas românticas com pegada e atrevimento, assim como ela. Na época, Marília já era uma compositora requisitada, mas buscava começar a carreira como cantora.
Marília estava tão segura do projeto que pegou as malas e o Juliano Tchula, seu principal parceiro de composição, e foi de Goiânia pra Fortaleza. Ela foi escrever a base do início da carreira solo.
Leia o depoimento de Júnior Gomes
“Tudo começou lá em 2014, quando a gente lançou uma música chamada “Se você quer saber”, com a Márcia Fellipe. Aí ela o Juliano Tchula criaram um grupo comigo e com o Vinícius Poeta, e a gente começou a trocar a figurinha por causa dessa música. Foi onde começou a amizade da gente.
Ela meio que se apaixonou pela nossa equipe. Foi uma história muito bonita até o último dia da vida dela. A Marília é a nossa mãe. Quando chegamos a Goiânia, ela levou a gente em todos os produtores, fez o canal entre a gente e o sertanejo. Nesse período começamos a escrever juntos.
Um mês depois ela já começou a botar na cabeça de gravar, de cantar. E ela falou: eu estou querendo cantar agora, e queria ir fazer o repertório com vocês aí no Nordeste. Fizemos aquele primeiro repertório juntos. Marília era um gênio. Eu costumava dizer que ela não era desse planeta.
Às vezes a gente estava compondo e ela cantava uma coisa como se ela já te tivesse feito a música antes. Aí eu dizia: ‘Marília, as isso aqui você já tinha feito?’. E ela: ‘Não, acabei de criar aqui, agora’. Aí eu olhava e pensava: ‘Meu irmão, como é que essa mulher é desse jeito’?
Eu lembro que a gente estava num dos dias de composição, tinha feito música o dia inteiro, e travou numa música. A gente já estava muito cansado. Ficou faltando o refrão. Ela se deitou no chão da sala, na casa do Vinícius Poeta. Ela dormiu e nós ficamos conversando o outro assunto, sem ser da música.
Quando a gente deu fé, ela, dormindo, começou a cantar o refrão da música. Aí o Juliano Tchula, que já conhecia ela, pegou o celular e foi logo gravando: ‘Tá vendo? Ela tá sonhando com o refrão da música.’ Depois de um tempo ela acordou e a gente só gravou a guia, porque ela já tinha feito o refrão.
Não tenho muitas palavras, Marília era fora do fora da curva mesmo.
O diferencial dela era falar uma linguagem popular, fácil de qualquer pessoa entender, do rico ao pobre. Como se diz aqui no Nordeste, sem ‘arrudeio’. Era muito direta. E falava o que cantoras no mercado não tinham coragem. Começou a falar a linguagem das mulheres, que elas sempre quiseram dizer.”
Leia o depoimento de Renno Poeta
Renno Poeta
Reprodução/Instagram do artista
“A Marília sempre foi uma artista que andou na contramão, mas, na verdade, o sentido certo era o dela.
Quando ela resolveu dar atenção aos compositores do Nordeste (e nisso tem a #SeuHit), ela via que a mistura com a linguagem dela ia ser positiva. E de fato foi. Ela encontrou aqui argumentos que, somados aos dela, iam fazer a diferença no que ela queria. Eu sempre achei ela com muita visão.
E ela veio se juntar para chegar ao tempero que ela queria. Quando o artista sabe onde ele quer chegar, ele mita. E a Marília foi um gênio na escrita, no canto, no repertório.
A música “Sem sal” é um exemplo disso. Quando a gente fez, era para ser engraçado, e não era nem para ela. Eu não enxergava, mas ela sabia onde queria chegar. E foi uma explosão já na gravação.
Tinha a questão da valorização da mulher, de levantar a bandeira, de brigar pela volta por cima, não só pela sofrência. A sofrência dela sempre tinha uma pitada sarcástica, assim: ‘Tô sofrendo, mas você vai sofrer também’.
Então, acabou que ela enxergava coisas que a gente não conseguia enxergar”.
Marília Mendonça compunha desde os 12 anos
Montagem/g1

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