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Ana de Hollanda se refina como letrista e cantora na toada da vida que inspira o quinto álbum da artista

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Em ‘Vivemos’, disco de tom íntimo, sobressaem delicadas parcerias da compositora com Leandro Braga, Lucina, Lula Barbosa, Nilson Chaves e Simone Guimarães. Capa do álbum ‘Vivemos’, de Ana de Hollanda
Leo Aversa
Resenha de álbum
Título: Vivemos
Artista: Ana de Hollanda
Edição: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
♪ Quinto álbum de Ana de Hollanda, Vivemos se conecta imediatamente com o distante antecessor Só na canção (2009), lançado há 12 anos, pelo fato de ser disco inteiramente autoral onde a artista assina basicamente letras para melodias de parceiros diversos. Alguns desses parceiros – como Lucina e Nivaldo Ornelas – são inclusive recorrentes nos dois álbuns.
Muitos outros entram na discografia de Anna Maria Alvim Buarque de Hollanda – cantora e compositora de origem paulistana e de atuais 73 anos que debutou no mercado fonográfico há 41 anos com álbum de intérprete, Ana de Hollanda (1980) – a partir de Vivemos, disco lançado em CD pela gravadora Biscoito Fino neste mês de novembro de 2021 e disponível em edição digital desde 29 de outubro.
Um dos novos parceiros é Lula Barbosa, autor de uma das melodias mais bonitas do repertório inédito, Outono, toada conduzida pelo violão de João Lyra. Outro título sobressalente no repertório – pela total sintonia entre a melodia de Lucina e a angústia insone dos versos noturnos de Ana – é Era tão claro, faixa de maior densidade em que a voz da intérprete se afina somente com o piano de Cristovão Bastos.
Nesse mesmo clima denso, e no mesmo formato minimalista, Sem fim também se impõe na (coesa) safra autoral do álbum Vivemos e surpreende por ser assinada somente por Ana de Hollanda, autora da melodia sincronizada com a letra sobre restos de emoção de relação conjugal.
As marcas da vida também estão impressas na valsa Berço vazio, bela melodia de Leandro Braga – pianista que, cabe lembrar, também sobressaiu como compositor no recente tributo Aldir Blanc inédito (2021). A tristeza da melodia de Berço vazio é potencializada pelos versos em que a parceira letrista discorre sobre a pior das dores maternas.
Mais para o fim, o álbum Vivemos se desloca para trilha ruralista, guiado pela levada do violão de João Lyra. Nessa trilha, Botucuxi é linda canção, fruto da parceria de Ana de Hollanda com Simone Guimarães. O título da música reproduz neologismo criado pela letrista com as palavras Boto e Tucuxi, mergulhando a faixa em águas amazônicas.
Ana de Hollanda canta boleros e valsa na atmosfera íntima do álbum ‘Vivemos’
Leo Aversa / Divulgação
Vivemos, a música-título, reitera a inspiração de Lucina como melodista e arremata o álbum com citação de Clair de lune (Claude Debussy, 1905), feita com notas salpicadas pelo piano de Cristovão Bastos, criador dos arranjos e parceiro da artista letrista no bolero Jamais decifrei, lançado por Cristovão em registro instrumental sem os versos ora apresentados por Ana de Hollanda.
Pequena, a voz da cantora resulta do tamanho certo para o clima geralmente íntimo do repertório de Vivemos, álbum aberto pelo bolero Verão que ficou (Nivaldo Ornelas e Ana de Holanda), exemplo do refinamento instrumental do disco – no caso da faixa, com ênfase na percussão de Zé Leal.
Por mais que se espraia eventualmente por trilhas rurais, Vivemos é álbum ambientado à meia-luz, propício para canções mais interiorizadas como O que deixei cair (Nilson Chaves e Ana de Hollanda), cuja letra reflete sobre o fim de relação afetiva.
Por isso, o tributo à nobre sambista Dona Ivone Lara (1922 – 2018) em Primeira dama – com letra inédita para samba apresentado por Leandro Braga em disco de 2002 – soa fora do eixo temático do disco, embora ajustado à atmosfera musical de Vivemos pela sofisticada suavidade.
Samba por samba, Fantasias (Marcelo Menezes e Ana de Hollanda) se ajusta mais à delicadeza confessional do álbum Vivemos por ser recado afetivo da artista ao neto Bernardo, afoito para jogar no campo de futebol e da vida.
Vinte anos após começar a se mostrar como compositora no álbum Um filme (2001), deixando de ser somente a intérprete de discos como Tão simples (1995), Ana de Hollanda se refina como letrista e cantora na toada da vida que inspira este bonito e harmonioso quinto álbum da artista, Vivemos.

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