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Luiz Carlos Sá espana o pó da estrada ao expandir o cancioneiro no primeiro álbum sem Guarabyra

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Previsto para abril, o disco ‘Solo e bem acompanhado’ tem tom humanista e apresenta parcerias inéditas do artista com Flávio Venturini e Torquato Neto. Capa do álbum ‘Solo e bem acompanhado’, de Luiz Carlos Sá
Vinícius Giffoni com arte de Beto Marques
Resenha de álbum
Título: Solo e bem acompanhado
Artista: Luiz Carlos Sá
Edição: Berengue
Cotação: * * * 1/2
♪ Quando Luiz Carlos Sá lançar o álbum Solo e bem acompanhado no segundo trimestre de 2022, possivelmente em abril, 23 anos já terão se passado desde que o cantor, compositor e violonista carioca começou a dar forma ao primeiro disco sem o baiano Guttemberg Guarabyra.
Foi nas brechas das agendas da dupla Sá & Guarabyra e do então reativado trio Sá, Rodrix & Guarabyra que o artista começou a gravar, entre 1999 e 2000, esse álbum solo que retomou em 2017, mixou em 2018 e finalizou em 2019 com produção musical de Vinicius Sá e coprodução de Felipe Freire e Lourival Franco.
Embora tenha sido precedido pelos singles com as regravações das já conhecidas músicas A ilha (Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra, 1979) e Caçador de mim (Luiz Carlos Sá e Sergio Magrão, 1981), feitas respectivamente com a voz e a guitarra slide de Roberto Frejat e com o arranjo pop roqueiro e os vocais do Roupa Nova, o álbum Solo e bem acompanhado não se escora no passado glorioso de Sá como coautor de músicas como Sobradinho (1977), Dona (1982) e Estrela natureza (1990).
Das 12 músicas do disco solo de Sá, nove são inéditas. E, entre a safra inédita, há canções fluentes como Não me empurre à toa (Luiz Carlos Sá), conduzida pelo violão de aço de Felipe Freire na fronteira entre a MPB e o folk ruralista.
Com capa que expõe Sá em foto de Vinícius Giffoni, enquadrada na arte de Beto Marques, o álbum Solo e bem acompanhado alinha Sá com temas atuais como a fome e o exílio de populações em busca de paz e/ou comida para nutrir os ideais da existência, assunto da música Um povo com vida, parceria do artista com Mamour Ba, multi-instrumentista senegalês, ex-integrante da banda Obina Shock, e residente em Belo Horizonte (MG).
Luiz Carlos Sá apresenta canções fluentes como ‘Não me empurre à toa’ no primeiro álbum solo
Vinícius Giffoni / Divulgação
Ao estender a parceria com Flávio Venturini, autor da melodia de Pra contar pra mim, Sá reforça o tom humanista e por vezes politizado do álbum Solo e bem acompanhado ao resumir na letra a história que lhe foi contada, na mesa de bar da cidade de São Paulo (SP), por indígena da nação Krahó, que narrou para Sá a extinção do clã a que pertencia antes de ser adotado pelos índios Krahó após sangrenta guerra entre tribos. A faixa roça a pegada roqueira ruralista do trio Sá, Rodrix & Guarabyra.
Eu te via clareando traz à tona os versos escritos em 1970 pelo poeta tropicalista Torquato Neto (1944 – 1972) para música de Sá, que encontrou em 2017 a letra até então dada como perdida. A melancolia da toada é realçada com a entrada da voz e da sanfona doces de Lucy Alves um pouco antes do segundo dos quatro minutos da faixa.
Adornada pelo bandolim de Armandinho Macedo, Serra mineira (Luiz Carlos Sá) se diferencia no disco pela evocação do clima da bossa nova na canção de ar rural e leve toque de choro. Menos imponente no conjunto da obra do artista, Sobreviver (Luiz Carlos Sá) impregna de romantismo esse ar pop rural em que se ambienta o álbum Solo e bem acompanhado.
Já a canção Sem uma luz (Pedrão Baldanza, Vinícius Sá e Luiz Carlos Sá) reitera a busca do artista pelo bom acabamento melódico e poético do repertório autoral do disco. Os 10 mandamentos do amor (Luiz Carlos Sá e Pedrão Boldanza, 2009) – música lançada há 13 anos em álbum da dupla Sá & Guarabyra – ambiciona tom mais elevado, de clima quase espiritual, potencializado pelo coro das vozes do grupo Golden Boys.
Já Cada um de nós abre a parceria de Sá com Cid Ornellas – violoncelista de orquestra sinfônica de Minas Gerais e irmão do saxofonista Nivaldo Ornellas – e conecta o disco com algum lugar do passado do Clube da Esquina.
No arremate do álbum Solo e bem acompanhado, Mato e morro (Luiz Carlos Sá) cai em manemolente suingue latino, confirmando a boa impressão deste disco que espana o pó da estrada ao expandir a obra de Luiz Carlos Sá, artista que, em cena desde 1965 (como compositor) e nos palcos desde 1966, legou grandes canções ao Brasil em dupla com Guarabyra.

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