O cantor Paulinho da Viola é o autor e intérprete do samba ‘Pecado capital’
Marco Froner / Divulgação
♪ MEMÓRIA – A rigor, das 12 músicas reunidas no disco com a trilha sonora nacional da novela Pecado capital (1975 / 1976), somente uma – o samba-título Pecado capital, composto e gravado às pressas por Paulinho da Viola em um fim de semana, sob encomenda da TV Globo – foi feita especialmente para a trilha original da trama idealizada pela novelista Janete Clair (1925 – 1983), também na correria, para entrar no lugar da censurada versão original de Roque Santeiro.
Nem por isso, a trilha sonora de Pecado Capital – orquestrada com produção musical de Guto Graça Melo – deixa de ser antológica como a novela que fica disponível no catálogo da plataforma Globoplay a partir desta segunda-feira, 31 de janeiro de 2022.
Somente o samba-título Pecado capital – dos versos lapidares “Dinheiro na mão é vendaval / Na vida de um sonhador ” – já é digno de antologia. Paulinho recebeu o convite para compor o samba numa sexta-feira, tendo como mote uma breve sinopse da trama dirigida por Daniel Filho. Compôs o samba na noite de sábado e o gravou no domingo, gerando mais uma obra-prima para o repertório autoral do compositor carioca.
A partir de 24 de novembro de 1975, o samba passou a ser ouvido diariamente na abertura da novela entre imagens em cores de notas de 100 cruzeiros – a moeda do Brasil na época – que voavam pela tela da televisão. Além do samba de Paulinho da Viola, a trilha sonora de Pecado capital tinha o tom do subúrbio carioca, aonde a trama central estava situada, precisamente no Méier, bairro cortado pela linha de trem.
Dentro desse universo, o samba Você não passa de uma mulher – composto e gravado por Martinho da Vila naquele ano de 1975 para o álbum Maravilha de cenário, com letra machista e inaceitável nos dias de hoje – tinha todo o clima maroto dos homens do subúrbio.
Na mesma cadência do samba, mas com clima ideal para gerar tensão nas cenas de ação, Melô da cuíca (José Roberto Bertrami e Alex Malheiros, 1975) é tema instrumental que evidenciou a maestria do toque do trio Azymuth.
Luiz Melodia (1951 – 2017) é nome relevante na trilha da novela com o samba ‘Juventude transviada’
Dario Zalis
Em tom mais dolente, o samba Juventude transviada – pérola negra e então novíssima de Luiz Melodia (1951 – 2017) que tinha sido gravada pelo cantor para o então ainda inédito segundo álbum, Maravilhas contemporâneas (1976) – se ajustou bem ao perfil romântico da personagem Lucinha (Betty Faria), mesmo com os versos surrealistas da letra.
Em tom também tristonho, o samba-canção Moça fez sucesso nacional e ajudou a projetar o cantor Wando (1945 – 2012), então em fase de consolidação da carreira.
Menos marcantes na trama, as gravações de Beijo partido (Toninho Horta, 1975) com Toninho Horta, Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) – com pegada roqueira no registro de Moraes Moreira (1947 – 2020), então em início de carreira solo após a saída do grupo Novos Baianos – e do samba Meu perdão (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) com Beth Carvalho (1946 – 2019) contribuíram para a coesão da trilha nacional de Pecado capital.
Exibida até junho de 1976, a novela com o tempo foi alçada ao status de clássico da teledramaturgia brasileira pela trama de Janete Clair, pela direção de Daniel Filho, pelas interpretações do elenco – como esquecer do Cartão de Francisco Cuoco? – e também pela música que ajudou a contar história em que a grande vilã é a vida.