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Florence ri da moda de ‘Dog days are over’ em casamentos no Brasil: ‘Não sou modelo para noivas’

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Cantora fala ao g1 sobre 5º álbum, ‘Dance fever’, com single que questiona papel de noiva e mãe. Ela se espanta ao saber que é hit em casórios aqui e diz se identificar com ‘deusa, louca e feiticeira’. Imagem de divulgação de ‘Dance fever’, quinto álbum de Florence and the Machine
Autumn de Wilde / Divulgação
“Não sou uma mãe / Não sou uma noiva / Eu sou um rei”. Florence Welsh rejeita um papel feminino secundário em “King”. A música está no quinto álbum da Florence and the Machine, “Dance fever”, lançado nesta sexta-feira (13).
Florence diz ao g1 que não é um modelo de comportamento para noivas. Mas as noivas brasileiras querem ouvir a Florence. A cantora inglesa não sabia, mas seu hit “Dog days are over” é onipresente em playlists de casamento pelo Brasil.
Ela fala ao podcast g1 ouviu sobre o novo álbum e reage a particularidades de seu trabalho no Brasil: as trilhas de casório, os remixes em baladas “topzera” e o meme com a “deusa, louca e feiticeira” de Rick e Renner, comparação que ela aprovou.
Ela também explica como a pandemia dividiu o novo álbum da Florence and the Machine em dois e como ela aborda questões femininas com menções a Jesus Cristo e vocais que emulam Leonard Cohen, Nick Cave, Iggy Pop e filmes de terror.
Ouça o podcast abaixo e leia a entrevista a seguir.
Como é o disco novo da Florence and the Machine?
“Dance Fever” é uma mistura de trilha de filme de terror com o som de gente dançando até morrer. O álbum é soturno e empolgante ao mesmo tempo.
A artista que estourou há 13 anos e deu um toque místico à onda das cantoras inglesas de neosoul tinha lançado em 2018 um álbum mais “pé no chão”, “High as hope”.
No novo disco ela volta a evocar a Florence sobrenatural do início. Ela diz que é um “conto de fadas em 14 músicas”. Mas a cantora de 35 anos também joga com a própria imagem “mística”.
Dance Fever, de Florence and the Machine
DIvulgação
‘Febre da dança’
A ideia de “Dance Fever” nasceu de um caso real de uma “febre da dança”. Parece mentira, mas em 1518 foi registrada uma estranha praga na Europa que fazia as pessoas saírem dançando pela rua.
Há muitos estudos e hipóteses – tem gente que acha que foi uma histeria coletiva, outras que era uma doença neurológica. Mas o surto de fato aconteceu, com epicentro em Estrasburgo, na França.
“Meu amigo Juliano Zaffino, um poeta, escreveu um poema chamado ‘Strasbourg’, baseado nessa história, mas que a reimagina em uma boate gay em Berlim, em que eu estava dançando com a Patti Smith e a Kate Bush”.
Como o amigo incluiu seu nome no poema (veja abaixo), contou pra ela da história medieval em que estava se baseando. Florence ficou obcecada.
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Esse surto de “Choreomania” (que dá nome a uma faixa) vira metáfora para uma dança libertadora e aparece em músicas da primeira metade do álbum.
“Foi um pouco estranho porque eu fiquei obcecado com essa história antes do lockdown. Eu pensei em fazer um álbum inteiro sobre essa praga da dança. Mas quando a pandemia chegou, achei que não dava para falar só disso. Seria muita praga”, ela brinca. O tema fica mais nas primeiras faixas.
Dois lados, dois produtores
Imagem de divulgação de ‘Dance fever’, quinto álbum da Florence and the Machine
Divulgação
Florence começou a gravar o álbum em Nova York, com o produtor onipresente Jack Antonoff (Lorde, Taylor Swift, Lana Del Rey e outras). Mas quando começou o lockdown, ela teve que voltar correndo para a Inglaterra, com só quatro faixas prontas.
Ela tentou continuar e fez mais três músicas à distância com Antonoff. Mas a cantora precisava de uma presença física, e recrutou Dave Bailey, do Glass Animals, banda indie britânica que explodiu com “Heat Waves”. Ele produz a segunda metade do disco.
“O Jack Antonoff é minimalista. Para ele o que importa o vocal e a letra. E o Dave Bailey é maximalista. Ele quer colocar o máximo de sons numa música. Nunca achei que fosse conhecer um produtor que quisesse colocar mais coisas numa música do que eu”, ela brinca.
Florence foi a coprodutora que amarrou as metades. “Acho que meu trabalho foi me certificar de que, mesmo que ele estivesse dividido entre os dois, ainda houvesse um som que englobasse tudo”.
Mulher é rock e rei
Na faixa “Choreomania”, Florence faz uma provocação feminina: “Você diz que o rock and roll morreu / mas será que é só porque ele não ressuscitou com a sua imagem? / Como se Jesus voltasse, mas com um belo vestido?”
Ela explica: “Às vezes as pessoas reclamam: onde é que está o rock? Mas acho que é porque ele sempre foi sinônimo de homem. Talvez o rock esteja por aí, mas não do jeito que você espera ver ele. Talvez tenham reimaginado, mas só porque ele não fala do jeito que você acha que deveria, não significa que não esteja por aí.”
Em “King”, ela dá um recado parecido, mas só com o jeito de cantar. No refrão já citado no início deste texto (“Eu não sou uma mãe, eu não sou uma noiva, eu sou um rei”), ela termina com uma voz bem grave.
“Eu pensei em invocar uma masculinidade. Uma referência grande foi de cantores com essa voz de barítono que eu admiro, tipo Leonard Cohen, NIck Cave, Iggy Pop. Então eu tentei trazer esse registro masculino”, ela explica.
A cantora Florence Welch, do grupo Florence + The Machine, toca no último dia do festival Lollapalooza, em Chicago
Steve C. Mitchell/Invision/AP
Som de terror
A voz noturna volta ainda mais forte, com outros sentidos. Em “Restraint”, ela parece cantar enquanto é sufocada. Lembra ASMR (aqueles sons que fazem cócega no ouvido), mas em versão de filme de terror (Florence ri e diz que amou a definição).
“Eu estava vendo muitos filmes tipo “Midsommar”, “Saint Maud”, esses filmes de terror psicológico, mais cult. Ver terror foi a única coisa que me acalmou na pandemia. O que me incomodava era ver comédia romântica, com pessoas curtindo a vida e saindo”, ela explica.
“Na pandemia eu vi o máximo de terror que podia, e pela primeira vez eu entendi esse tipo de filme.” O gênero, então, se infiltrou na sonoridade do álbum.
Temas brasileiros: noivas, remixes, Rick e Renner
Em “King”, Florence narra uma briga com um namorado sobre casamento e maternidade. Ela diz que não quer fazer esse papel e mostra como ter filho é uma questão mais difícil para ela que para colegas homens. É uma reflexão dura e bonita sobre ser uma artista mulher.
No clipe, ela quebra o pescoço do ator que interpreta o tal namorado.
Fica a dúvida: será que ela acha que “King” pode ser um alerta para as noivas brasileiras que se casam com as madrinhas segurando na barra do vestido delas e dizendo que deus “dias de cão acabaram”, ao som de “Dog days are over”?
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Florence morre de rir ao saber da “tradição” de casamentos brasileiros. Mas a artista não julga ninguém além dela mesma. Ela diz que não é casada, então não é um modelo para casamentos.
“Eu não sou um modelo de comportamento para noivas”, ela diz aos risos.
Claro que não é só em casamentos que “Dog days are over” toca. A música virou hit de baladas em remixes com gosto duvidoso. Muita gente se pergunta o que a Florence acharia ao ver sua música num contexto tão “topzera”. Mas, de novo, ela não julga.
“Quando você lança uma música, não pode ficar com frescura, ela não pertence mais a você, pertence ao mundo”, ela defende. “Não sou uma pessoa que fica julgando. Precisa de muito mais que isso para me deixar com raiva.”
“Ser uma artista é ter que se desapegar do seu próprio trabalho e de como as pessoas interpretam depois que você lança”, reflete Florence.
Florence And The Machine se apresenta no Palco Mundo neste sábado (14)
Flavio Moraes/G1
Deusa, louca e feiticeira, com orgulho
Outro tema brasileiro: no Rock in Rio 2013, o g1 publicou uma resenha comparando a presença de Florence no palco à “deusa, louca e feiticeira” da música “Ela é demais”, de Rick e Renner No Twitter, muita gente xingou, outras pessoas riram, e a comparação virou meme.
Ao saber da história, Florence diz que “deusa louca e feiticeira” é um bom resumo dela no palco, sim. “Estou do seu lado. Não vou ficar com raiva de você por isso”, ela brinca.
A piada puxa uma questão séria e final sobre “Dance fever”. No álbum, ela joga com essa imagem de “feiticeira” – chama de “conto de fadas”, faz voz de filme de terror, se inspira em praga medieval…
Ela parece ter consciência dessa imagem da Florence “de outro mundo” e usa para falar do mundo dela.
“Estou quase fazendo uma brincadeira com essa criação, entre a mitologia e a realidade. O que eu criei para me proteger e quem sou eu por baixo disso? Muito do que faço no disco disco é encarnar essa mitologia no refrão e destruir ela no verso. Vou passeando entre a realidade e a fantasia.”
A “deusa, louca e feiticeira” não tem shows da nova turnê confirmados no Brasil ainda, mas adoraria ter. “Honestamente não tem um público melhor, eu amo o Brasil e os fãs daí são os mais bonitos e me apoiaram desde o início”.
Foto feita com dupla exposição mostra Florence Welch durante apresentação no Palco Mundo
Marcelo Mattina/I Hate Flash/Divulgação Rock in Rio

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