Ministro da Economia falou durante fórum que aborda a entrada do país na OCDE. Além de ser criticado internacionalmente pelo desmatamento, governo também se vê em meio a crise de violência na Amazônia. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça-feira (21) que o Brasil “é a maior potência verde do planeta” e “parte decisiva da preservação ambiental”.
Ele fez a declaração em meio a mais um momento de críticas à política ambiental do presidente Jair Bolsonaro, com altos índices de desmatamento na Amazônia. Além disso, o governo passa por uma crise de violência na região da floresta, com os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.
Guedes discursou na abertura de um fórum, no Ministério das Relações Exteriores, que discute o processo de entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Número de casos de violência contra indígenas e protetores da Amazônia dispara nos últimos anos
A OCDE, com sede em Paris, reúne 38 países, a maioria economia desenvolvidas. A organização é chamada de “clube dos ricos”, apesar de incluir vários emergentes, como a Colômbia ou a Costa Rica.
Guedes destacou a influência da OCDE em processos para ampliar a abertura comercial do Brasil e disse que a entidade também se beneficiará da adesão do país.
“A verdade é que nos interessa receber essa influência favorável para nossa integração tardia à economia global. E por que também é importante para OCDE que o Brasil entre? Primeiro, porque o Brasil é uma grande democracia liberal. Segundo, porque o Brasil é uma potência verde. É a maior potência verde do planeta. Nós somos parte decisiva da preservação ambiental. E o secretário-geral [da OCDE] Mathias Cormann sempre disse e reconheceu isso. E sempre me dizia isso: ‘Vocês são parte da solução’”, declarou o ministro.
Guedes destacou que o Brasil preserva a maior parte de suas florestas e tem matriz energética limpa, o que faz do país, na opinião dele, um pólo para investimentos em economia sustentável.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento em São Paulo no início de junho
Flavio Corvello/Futura Press/Estadão Conteúdo
Desmatamento e mortes
Crítico do que considera um “exagero” nas ações de fiscalização ambiental, o presidente Jair Bolsonaro tem o governo marcado por altas nos índices de desmatamento na Amazônia. Ambientalistas, empresários e líderes estrangeiros costumam pedir mais engajamento do Brasil na fiscalização de crimes ambientais.
Em maio, a Amazônia registrou 899,64 km² de área sob alerta de desmatamento, segundo dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é o segundo maior para o mês em seis anos – atrás apenas de 2021, quando o bioma teve 1.390,12 km² desmatados.
A Amazônia também contabilizou o número mais alto de incêndios para maio desde 2004. O mês não costuma ser um dos que mais registram incêndios florestais; o pico normalmente ocorre em agosto e setembro, no meio da estação seca.
Assassinatos
Na semana passada, a Polícia Federal localizou os restos mortais do indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips. Os dois desapareceram em 5 de junho, na região do Vale do Javari, na Amazônia.
Os corpos das vítimas teriam sido esquartejados e enterrados. A motivação do crime ainda é incerta, mas a polícia apura se há relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região. Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia, em razão do desmatamento e avanço do garimpo.
Entrada na OCDE
A OCDE aprovou recentemente o cronograma de adesão do Brasil. A entrada em definitivo na organização não tem data marcada para ocorrer.
Presente no evento, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, declarou que os especialistas da entidade buscarão identificar “evidências de que as políticas e práticas do Brasil em matéria de meio-ambiente, biodiversidade e mudança climática atendam aos elevados padrões da OCDE e que seus recursos naturais tenham sido bem preservados”.