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Baz Luhrmann fala sobre ‘Elvis’, Tom Hanks e escalar Austin Butler como o cantor: ‘predestinado’

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Em entrevista ao g1, diretor discute seu estilo, projetos e a escolha do protagonista: ‘Jamais faria o filme se não conseguisse encontrar o ator. Honestamente, não achei que encontraria’. O cineasta australiano Baz Luhrmann é um cara ocupado. Pouco depois de lançar finalmente seu novo filme, “Elvis”, ele tenta equilibrar a divulgação da cinebiografia do rei do rock com tarefas diárias — como a de acompanhar a filha ao colégio.
“Na verdade, eu estava ocupado essa manhã principalmente levando minha filha à escola. Sabe de uma coisa? Você é a primeira pessoa com quem eu fiz esse experimento”, conta o diretor de 59 anos ao g1 em uma conversa esbaforida por áudio.
Ao longo do trajeto junto à costa australiana, o diretor falou sobre seu mais recente sucesso, “Elvis”, que estreou na última quinta-feira (14) no Brasil em terceiro lugar nas bilheterias, mas que já arrecadou mais de US$ 100 milhões só nos Estados Unidos.
Assista ao trailer do filme “Elvis”
A produção, é claro, narra a história de Elvis Presley, um dos precursores do rock nos Estados Unidos, pelo olhar de seu empresário, o infame “Coronel” Tom Parker, interpretado por Tom Hanks.
“Um dos maiores de todos os tempos. Sem dúvidas. O alcance inteiro dele é inacreditável. E ele correu em direção a esse papel. Ele precisou de 20 minutos para dizer que o faria”, afirma Luhrmann.
Mas o elogio maior fica mesmo para o relativo desconhecido responsável por dar vida ao cantor. Com um currículo consideravelmente menos marcante em comparação ao companheiro de cena, o americano de 30 anos Austin Butler é um dos grandes responsáveis pela existência do projeto.
“Eu disse que jamais faria o filme se não conseguisse encontrar o ator para fazer o Elvis. Honestamente, eu não achei que encontraria. Eu cheguei a fazer testes com muita gente, mas, de verdade, no momento em que o Austin apareceu é como se nem tivessem rolado audições. Com o Elvis foi como se fosse algo predestinado, sabe.”
Diretor Baz Luhrmann e atores Austin Butler, Olivia DeJonge e Tom Hanks na estreia de ‘Elvis’ em Cannis
Loic Venance / AFP
Leia abaixo a conversa na íntegra, com algumas edições para claridade, na qual Luhrmann fala sobre a escolha dos atores, as similaridades entre Butler e Presley, a presença do “coronel”, seu estilo de filmagem e por que demora tanto entre projetos — com direito a risadas, pausas e banhos de lama.
G1 – Obrigado por falar conosco. Sei que é muito cedo aí. Parabéns pelo filme. Acabei de assistir a ele.
Baz Luhrmann – Obrigado, cara. Significa muito. A América Latina foi a última região a estrear o filme, mas eu sempre senti uma energia parecida. Falo isso de coração. Eu estou na Austrália agora, próximo ao mar levando minha filha à escola, mas quando estou no Brasil, já que estamos na mesma latitude, (os países) têm uma energia bem parecida. E eu tenho muitos amigos que moram aí. Então fico muito feliz que você gostou do filme, e espero que vá bem aí.
G1 – Assistindo ao filme, eu senti que Elvis e o coronel são igualmente importante à história que você quer contar.
Baz Luhrmann – Com certeza.
Tom Hanks e Austin Butler numa cena de “Elvis”
Divulgação
G1 – Mas, ao mesmo tempo, é como se eles fosses opostos. Não apenas os personagens, mas a maneira como você os retrata. Senti que o Elvis tem uma aura quase divina e o coronel é personagem mais humano no filme inteiro. Foi por isso que você decidiu contar a história pela perspectiva do coronel?
Baz Luhrmann – Essa é uma ótima observação que você faz, porque eu acho que é aqui que a dramatização brinca com o público. A verdade é que todo o argumento do coronel é: ‘eu não o matei. Vocês o mataram porque o tornaram divino’. Sabe, você está certo nesse sentido. O cara está apenas falando ‘ei, eu estava apenas fazendo o meu trabalho’.
É claro, ele é um narrador pouco confiável. Quero dizer, ele realmente roubou dinheiro de Elvis. Os tribunais descobriram que ele o roubou e manipulou. Mas todo mundo a seu redor o amava. Eles achavam que ele era incrível. Acho que isso resume tudo.
É muito shakespeariano, sabe. Em um sentido: ‘Ei, eu não sangro? Não sou humano? Claro, eu sou falho. Mas o Elvis era falho e vocês o tornaram em um deus. E vocês queriam que ele fosse um deus. E porque vocês queriam que ele fosse mais que um humano é o que o matou’.
E eu acho que há uma legitimidade nisso, se você pensar a respeito. Quero dizer, os fãs quando veem alguém que consideram icônico querem mais um disco, querem que faça sempre mais um show. Ninguém quer realmente que eles tenha uma vida normal, sabe. Há um tipo de relacionamento estranho com eles, sabe?
Mas, com certeza, ele é humano. Acho ótimo que você veja isso.
G1 – E foi intencional escalar alguém tão conhecido como Tom Hanks como o coronel e um ator não tão famoso como Elvis?
Baz Luhrmann – Essa é uma resposta em duas partes. A primeira é que o coronel é um personagem tão gigante. Então, você realmente tem que ter um ator que seja corajoso o suficiente para atuar nesse nível. E essa é uma lista muito pequena.
E o Tom é um grande ator. Ele é um dos maiores de todos os tempos. Sem dúvidas. O alcance inteiro dele é inacreditável. E ele correu em direção a esse papel. Ele precisou de 20 minutos para dizer que o faria.
E eu disse que jamais faria o filme se não conseguisse encontrar o ator para fazer o Elvis. Honestamente, eu não achei que encontraria. Eu cheguei a fazer testes com muita gente, mas, de verdade, no momento em que o Austin apareceu é como se nem tivessem rolado audições. Com o Elvis foi como se fosse algo predestinado, sabe.
Austin Butler interpreta o Rei do Rock na cinebiografia “Elvis”
Divulgação
G1 – O Austin falou que gravou um teste na casa dele cantando ‘Unchained Melody’ pensando na própria mãe. Quão importante foi esse vídeo para a escalação dele?
Baz Luhrmann – Incrível. Eu só fiquei sabendo depois que a mãe dele morreu na mesma época que a do Elvis. E ele sempre sentiu essa conexão. Só fiquei sabendo depois também que ele nem ia mandar o vídeo, mas o agente dele o obrigou a mandar.
Ele na verdade se sentia tão mal pela primeira audição da qual participou que pensou que jamais iria conseguir o papel. E então ele estava tendo um pesadelo com a mãe. Acho que provavelmente ele estava preocupado em decepcioná-la.
Acho que um dia esse vídeo pode ser mostrado, mas não dentro de alguns anos, e você pode ver a emoção. Simplesmente não era uma audição. Era como assistir, de forma privada, a alguém passando por luto.
G1 – Você falou com o ‘Washington Post’ sobre a importância em trazer à tona a importância da cultura negra, o R&B e o gospel, na carreira de Elvis. E também há certos clichês de cinebiografias, como momentos dele em estúdio e a própria infância dele, que não estão no filme. Quando e como você tomou essas decisões?
Baz Luhrmann – Olha, é muito fácil.
Sem música negra, sem Elvis.
E isso é deixado de fora da história toda hora. Parte do motivo pelo qual eu fiz o filme foi para corrigir isso. Ele cresceu na cultura negra. E isso fez parte dele assim como o irmão gêmeo que morreu, o pai que vai para a prisão, e ser uma das casas brancas em uma comunidade negra. Esses relacionamentos eram reais, e era perigoso. E foi uma das grandes motivações em contar essa história. Mostrar a verdade dessa jornada.
Elvis Presley (Austin Butler) se apresenta num show numa cena de “Elvis”
Divulgação
G1 – Enquanto eu pesquisava para essa entrevista, achei engraçado que alguns críticos dizem que este é um dos filmes mais Baz Luhrmannescos da sua carreira. Outros dizem que não é luhrmannesco o suficiente. Você tem alguma ideia do que faz com que um filme seja um filme de Baz Luhrmann?
Baz Luhrmann – (risos) Bom, eu acho que o ponto principal é que você não consegue agradar todo mundo o tempo todo. No fim, eu não me proponho a fazer filme de Baz Luhrmann, mas não consigo evitar contar histórias da minha maneira. Sabe, eu tentei. Eu gostaria de conseguir. Eu seria muito mais rico e provavelmente faria muito mais filmes. Mas eu só consigo fazê-los da maneira como eu sei fazê-los. E os críticos falam: ‘Não foi o suficiente’ ou ‘Foi demais’. É meio engraçado, não é?
Você pode esperar só um segundo? Só preciso dizer tchau para a minha filha.
G1 – Sem problemas.
(dois minutos depois)
Baz Luhrmann – Desculpe. Toda essa pergunta é difícil e… droga, agora caí na lama (risos). Acho que o que eu posso contribuir é que eu tento não ficar muito autoconsciente em relação a isso, sabe. Você pode ficar preso na expectativa de estilo.
Sabe, há uma expectativa em relação a como eu faço as coisas, mas tudo o que eu tento fazer é contar a história e abri-la para o maior número de camadas do público possível. Também foi por isso que eu me interessei por ‘Elvis’. Unir as pessoas, permitir esse encontro entre diferentes gerações.
Já passamos de US$ 100 milhões (em bilheteria) nos EUA, com públicos tanto de jovens quanto de mais velhos. Isso é muito importante. Acho que eu apenas tento conta as histórias que permitam que todos venham ver, sabe?
G1 – Por falar nisso, já faz nove anos desde seu último filme.
Baz Luhrmann – (risos) Incrível.
G1 – E você é conhecido como alguém que realmente não tem pressa entre seus projetos. Tanto que acabou de falar que talvez se não fosse assim você faria mais dinheiro ou filmes.
Baz Luhrmann – (risos) Com certeza faria, sim.
G1 – Por que, afinal, você demora tanto entre filmes?
Baz Luhrmann – Porque eu meio que os vivo. Eu prefiro viver e pesquisá-los, toda essa parte, do que fazê-los de fato. É uma vida, não um negócio para mim.
Elvis Presley (Austin Butler) e o Coronel Tom Parker (Tom Hanks) conversam numa cena de “Elvis”
Divulgação
G1 – Em uma entrevista, Tom falou que achava que seu estilo de gravação é mais parecido a jogar dados. Você os lança e daí vê o que conseguiu. É justo falar isso? Foi assim que você ficou com uma versão de quatro horas desse filme escondida em algum lugar?
Baz Luhrmann – (risos) Sabe, eu acho que o Tom disse também que trabalhar comigo é meio como estar em um grupo de jazz, e isso provavelmente também está correto. Quero dizer, nós fazemos uma quantidade incrível de pesquisa e eu tenho um roteiro bem preciso a seguir, mas estou sempre explorando e buscando.
E, de uma maneira ou de outra, eu admiro cineastas como Francis Ford Coppola. Sabe, o ‘Apocalypse Now’ não foi fácil (risos), mas ele encontrou o que precisava na hora da edição. Às vezes você tem que explorar todo esse material extra.
Olha, eu vou lançar agora uma versão de seis episódios de ‘Austrália’, mas eu vou chamá-la de outra coisa, porque é uma variação. É uma variação do meu trabalho original.
Então, eu não sento com um plano e penso: ‘ok, vou fazer exatamente isso’. Aliás, eu realmente respeito isso. Sabe: ‘eu tenho um roteiro de 96 páginas e eu vou filmá-lo’. Esses filmes podem ser maravilhosos. Eu amo alguns desses filmes de gênero bem feitos. São brilhantes. Eu só gostaria de conseguir fazê-los, mas eu simplesmente não consigo. Não sou essa pessoa.
G1 – Obrigado pelo seu tempo, Baz. Sei que você é um cara ocupado.
Baz Luhrmann – Na verdade, eu estava ocupado essa manhã principalmente levando minha filha à escola. Sabe de uma coisa? Você é a primeira pessoa com quem eu fiz esse experimento. Pensei que, ao invés de não levá-la à escola, porque ela está passando por um momento difícil…
G1 – Sinto muito.
Baz Luhrmann – …por que não tentar conversar enquanto a levo? Mas, claro, ela ainda está um pouco ranzinza entrando na escola. Certo? Mas pelo menos eles sabem que você está lá, sabe? E isso é tudo.
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