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Violonista João Camarero desfolha emoções com virtuosismo natural que pauta álbum ‘Gentil assombro’

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Com precisão, o músico toca temas de Paulinho da Viola, Manuel de Falla, Radamés Gnattali e Sérgio Assad em disco em que apresenta duas ‘pequenas valsas sentimentais’ de autoria própria. Capa do álbum ‘Gentil assombro’, de João Camarero
Gil Inoue
Resenha de álbum
Título: Gentil assombro
Artista: João Camarero
Edição: GuitarCoop
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ Basta ouvir a precisão com que o violão de João Camarero evolui nos movimentos de Dança brasileira (1958) – obra para violão solo composta pelo pianista e maestro Radamés Gnattali (1906 – 1988) – para perceber que, mesmo sendo diplomado na escola de Raphael Rabello (1962 – 1995), Camarero sabe imprimir a própria assinatura quando toca tema já abordado pelo antecessor.
Se o toque de Rabello soa mais intenso, o violão de Camarero segue preciso por Dança brasileira em gravação incluída no terceiro álbum solo do violonista paulista, Gentil assombro, programado para chegar ao mercado fonográfico a partir de amanhã, 26 de julho, em edição da GuitarCoop.
O dedilhar suave de Camarero nos dois choros inéditos de Paulinho da Viola apresentados no disco, Homenagem a Armando Neves e Um choro breve, embute a melancolia que Paulinho parece carregar da vida para a obra calcada nos cânones do samba e do choro.
Homenagem a Armando Neves – cabe ressaltar – é tributo de Paulinho da Viola ao compositor e violonista paulista conhecido como Armandinho (1902 – 1976) e projetado no universo do choro.
Gravado na Fazenda Boa Vista, em 8 e 9 de setembro de 2021, o disco Gentil assombro se alinha com os dois álbuns anteriores da discografia solo de Camarero, Vento brando (2019) e João Camarero (2016), se situando mais como um disco de confirmação do que de afirmação de um talento que vem assombrando o universo da música brasileira nos últimos dez anos.
Paulista de 32 anos, nascido em Ribeirão Preto (SP) em 1990, criado em Avaré (SP) e radicado atualmente na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Camarero é o tipo de músico que jamais joga nota fora para demonstrar virtuosismo.
João Camarero apresenta dois choros inéditos de Paulinho da Viola no álbum ‘Gentil assombro’
Gil Inoue / Divulgação
A técnica está lá, como que displicentemente posta a serviço da emoção depurada e embutida nos dois temas autorais do repertório do álbum, Pequenas valsas sentimentais #3 e Pequenas valsas sentimentais #5 – Gentil assombro, peças modernistas, embebidas em lirismo.
Quanto toca Articulado, Camarero faz jus ao título do tema inédito que ganhou do violonista Sérgio Assad, promovendo na gravação a simbiose entre a música popular e a música dita erudita.
Fora das fronteiras do Brasil, João Camarero reverbera belezas ao incursionar no álbum Gentil assombro pelo Scherzino mexicano (1909), peça que exprime a alma popular do compositor e pianista mexicano Manuel Ponce (1882 – 1948), dono de obra associada à música clássica.
Contemporâneo de Ponce, o espanhol Manuel de Falla (1876 – 1946) é o compositor dos três temas que fecham o terceiro álbum solo de João Camarero. Tema da trilha sonora do balé El sombrero de tres picos (1909), Danza del corregidor é veículo para a reiteração da técnica exposta por Camarero espontaneamente, sem exibicionismo.
Temas de El amor brujo (1915), outra ópera com músicas do compositor espanhol, Canción del fuego fatuo e Romance del pescador aparecem no disco em gravações que totalizam menos de dois minutos, cada uma, tempo suficiente para ecoarem (sobretudo Romance del pescador) delicadeza que se afina com o sentimento dos choros de Paulinho da Viola, fazendo com que João Camarero conecte latitudes no universo do álbum Gentil assombro ao desfolhar emoções com virtuosismo natural.
No disco, João Camarero toca duas pequenas valsas sentimentais de autoria própria
Gil Inoue / Divulgação

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