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Aos 88 anos, João Donato celebra o prazer da vida e da música no tom afetuoso do álbum ‘Serotonina’

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Artista mantém o vigor jovial ao abrir parcerias com Anastácia, Céu, Maurício Pereira, Rodrigo Amarante e Ronaldo Evangelista no primeiro disco de canções inéditas com letras em 20 anos. João Donato na capa do álbum ‘Serotonina’
Pedro Palhares com arte de Ricardo H Fernandes
Resenha de álbum
Título: Serotonina
Artista: João Donato
Edição: Sete Mares
Cotação: ★ ★ ★ ★ ½
♪ Substância química que ativa o princípio do prazer no sistema nervoso, a serotonina é o título que sintetiza a felicidade contida – em maior ou menor grau – nas dez músicas inéditas do álbum lançado por João Donato na quinta-feira, 11 de agosto, em edição do selo fonográfico Sete Mares.
Do alto dos 88 anos que festeja amanhã, 17 de agosto, o pianista, compositor e cantor acreano celebra o prazer da vida e da música neste álbum gravado com produção musical de Ronaldo Evangelista, também arquiteto do último álbum solo do artista com repertório inteiramente inédito, Donato elétrico (2016), vigoroso título instrumental da discografia do músico.
A diferença é que Serotonina é disco de (boas) canções inéditas com letras – o primeiro de Donato no gênero desde Managarroba (2002), álbum lançado há 20 anos. A única canção sem letra, mas com alguns vocais de Donato na gravação, é justamente a faixa-título Serotonina – por ironia, a única faixa em que se identifica certa letargia ao longo dos cerca de 40 minutos do álbum gravado entre o fim de 2020 e o início deste ano de 2022.
É justo creditar à primorosa mixagem – dividida entre Gustavo Lenza (sete das dez faixas), Alexandre Kassin (duas músicas) e Bruno Buarque (uma faixa) – parte do brilho do álbum Serotonina.
Com precisão preservada pela masterização do engenheiro de som Felipe Tichauer, a mixagem do disco valoriza o canto terno do artista (e os dos parceiros convidados a pôr vozes igualmente afáveis nas respectivas músicas que compuseram com Donato, geralmente tendo sido responsáveis pela escrita das letras) sem prejuízo da sonoridade.
Até certo ponto surpreendente, por jamais se recusar a tão somente reproduzir o alto padrão já clichê dos discos de Donato (autor dos arranjos), o som arejado do álbum Serotonina é guiado pelo toque latino do piano Rhodes de Donato, mas também bafejado pelas contribuições dos músicos Allan Abbadia (trombone), Bruno Buarque (bateria e percussão), Fábio Buarque (contrabaixo acústico) e Will Bone (flauta e trompete).
João Donato apresenta dez músicas inéditas no repertório autoral do álbum ‘Serotonina’, gravado com produção musical de Ronaldo Evangelista
Pedro Palhares / Divulgação
Sem a eletricidade inebriante do álbum de 2016, a sonoridade de Serotonina se afina com a serenidade que pauta repertório afetuoso que louva o prazer das coisas simples da vida. Seja a rosa em botão que se abre cintilante em Floriu (canção composta e cantada por Donato com Céu), seja a alegria de ficar à toa degustada em Azul royal (João Donato e Maurício Pereira) e – em escala maior de grandeza – a vivência do amor a dois, ao qual se convidam mutualmente Donato e Anastácia, parceiros em Simbora, faixa que mixa a pisada do baião com a latinidade caribenha da música de Donato na abertura do álbum.
A latinidade do pianista tempera o mel de Doce de amora (João Donato e arrudA) e põe Órbita (João Donato e Ronaldo Evangelista) no universo particular do artista.
Há eventuais passagens instrumentais de tonalidade jazzy na arquitetura de Serotonina sem jamais tirar do álbum o caráter primordial de ser um disco de canções que soam leves como um sonho de uma noite de verão, como sugere Bonsbons (João Donato e Ronaldo Evangelista). Ou uma brisa do mar em manhã de sol. Uma dessas canções se chama justamente Estrela do mar e abre a parceria de Donato com o hermano Rodrigo Amarante.
E o fato é que há real luminosidade na safra autoral do álbum Serotonina. Basta ouvir Eu gosto de você (João Donato, Felipe Cordeiro e Jorge Andrade) para detectar o prazer entranhado no disco.
Nem mesmo uma ou outra canção de menor brilho, caso de Prata (João Donato e Ronaldo Evangelista), atenua a grandeza de Serotonina, álbum-síntese do fato de João Donato, aos 88 anos, ainda ser uma eterna criança que soube amadurecer sem envelhecer a cabeça ativada pelo princípio do prazer de fazer música e de viver – o que, no caso do artista, parece ser a mesma coisa.
Capa do álbum ‘Serotonina’, de João Donato
Pedro Palhares com arte de Ricardo H Fernandes

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