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Leny Andrade chega aos 80 anos além das bossas e dos rótulos

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Single ‘Por causa de você’ festeja as oito décadas de vida da cantora carioca, hábil na conjugação de apuro técnico e alta carga emocional ao interpretar samba, jazz e bolero. ♪ ANÁLISE – O canto de Leny Andrade é uma das mais completas traduções de bossa nova. No Brasil, e também fora do país, há quem associe a cantora carioca imediatamente ao jazz pela singular habilidade da artista no scat singing, a arte do improviso vocal.
Mas quem conhece intimamente o canto de Leny sabe que a intérprete sempre caiu no suingue do samba com a mesma maestria com que se embrenha no universo melodramático dos boleros e dos sambas-canção.
É que Leny Andrade Lima – cantora nascida em 26 de janeiro de 1943 na cidade do Rio de Janeiro (RJ), berço da bossa e de algumas matrizes do samba – há tempos já paira soberana além dos rótulos e das bossas.
Primeiro grande nome da música brasileira a festejar 80 anos em 2023, Leny Andrade completa hoje oito décadas de vida no posto de uma das grandes cantoras do Brasil em todos os tempos. A cantora que costumava ter o colega norte-americano Tony Bennett na plateia de alguns dos muitos shows que fez em templos do jazz de Nova York (EUA), onde chegou a manter apartamento nos anos 1980 e 1990 para abrigá-la nos costumeiros compromissos na cidade norte-americana.
Reclusa desde o fim de 2018 no Retiro dos Artistas, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), Leny Andrade teve que sair de cena por questões de saúde, mas há alguns meses, precisamente em 26 de agosto de 2022, entrou em estúdio carioca para gravar com o pianista Gilson Peranzzetta uma música até então ausente da discografia da cantora, Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957).
O single Por causa de você chega amanhã ao mundo digital, em edição da Mills Records, a tempo de festejar os 80 anos dessa cantora de pequena estatura e grande capacidade interpretativa.
Sim, Leny Andrade sempre foi menos incensada do que deveria pela alta carga emocional que põe em interpretações primorosas. Em geral, a artista é aclamada pelo apuro técnico do canto, pelo aguçado senso rítmico, pelo timing sempre certeiro do improviso – qualidades que, de fato, merecem loas. Só que Leny conjuga técnica e emoção como poucas cantoras.
Capa do álbum ‘A arte maior de Leny Andrade’ (1964), de Leny Andrade
Reprodução
Em discografia que totaliza 34 álbuns lançados entre 1961 e 2018, com destaque para títulos como A sensação (1961) e Estamos ai (1965), a cantora sempre deu voz calorosa (quem disse que a bossa tem que ser necessariamente cool?) a um repertório geralmente impecável, centrado na produção de compositores brasileiros.
Leny sempre se orgulhou de cantar em português dentro e fora do Brasil. É uma grande intérprete de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Djavan, Ivan Lins e Roberto Menescal, entre outros gênios da música brasileira.
Para quem gosta da cantora que parte da cadência do samba para cair no suingue do jazz, álbuns iniciais como A arte maior de Leny Andrade (gravado em 1963 e lançado em 1964) são indicações infalíveis.
Para quem gosta dessa cantora jazzística, mas mais próxima da MPB em voga na década de 1970, as pedidas são discos como Alvoroço (1973), Leny Andrade (1975) e Registro (1979).
Por nunca ter dançado conforme a música das gravadoras, Leny Andrade nem sempre teve a projeção a que faz jus. Contudo, a arte maior da cantora se impôs sobre todas as coisas – os rótulos, as modas, as pressões – e legitimou a já octogenária Leny Andrade a figurar no panteão imortal das grandes cantoras do Brasil.
Leny Andrade em recente ida a estúdio do Rio de Janeiro
Reprodução / Facebook Leny Andrade

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