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Clarice Lispector tem entrevista inédita publicada na revista ‘New Yorker’

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Reportagem com o título de ‘A lost interview with Clarice Lispector’ (Uma entrevista perdida com Clarice Lispector) apresenta a conversa da escritora com Afonso Romano de Sant’anna, Marina Colasanti e João Salgueiro, gravada em 1976. Retrato de Clarice Lispector, de autoria desconhecida, sem data.
Acervo Clarice Lispector/IMS
Uma entrevista inédita da escritora Clarice Lispector foi divulgada pela revista americana “New Yorker”, nesta segunda-feira (13). A conversa foi gravada apenas em áudio em outubro de 1976, catorze meses antes da sua morte, em dezembro de 1977.
A entrevista foi conduzida pelos escritores Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro, que, na época, era diretor do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Na entrevista publicada pela primeira vez, Clarice falou sobre:
A chegada da família ao Brasil Clarice contou que os pais pararam em uma aldeia na Ucrânia, durante uma fuga, para ela nascer. “Cheguei ao Brasil com dois meses de idade. Me chamar de estrangeira é bobagem.”
Clarice Lispector
Divulgação/Rocco
Sotaque Sant’anna diz que as pessoas a confundem com um estrangeiro por causa do sotaque. Ela retruca. “É por causa do ‘R’. Eles acham que é sotaque, mas não é. É língua presa”, disse. “Podia cortar, mas, dizem, é um lugar muito úmido, dificilmente cicatriza.”
Infância pobre A escritora também contou que não tinha consciência de que era pobre. “Não faz muito tempo, eu perguntei a Elisa, minha irmã mais velha, se a gente algum dia passou fome. Ela disse ‘quase’. Porque tinha, no Recife, numa praça, um homem que vendia uma laranjada na qual a laranja tinha passado longe, tudo aguado, e um pedaço de pão. Isso era nosso almoço.”
Primeiras histórias Assim que aprendeu a ler, ela disse que “devorou” os livros. Ela contou também das primeiras histórias que escreveu. Os textos eram enviados para o jornal “Diário de Pernambuco”, para a seção infantil publicada às quintas-feiras.
“Eu me cansei de enviar minhas histórias, mas elas nunca as publicaram, e eu sabia por quê. Porque os outros começavam assim: ‘Era uma vez, etc, etc’. E os meus eram sensações.”
Trabalhos nos jornais Clarice trabalho nos jornais “A Noite” e “Diário da Tarde” e na revista “Senhor”. “Eu sou tímida e arrojada. Eu sou tímida, mas me lanço”, disse em um trecho em que contava sobre a primeira publicação na revista “Vamos Lêr!”, quando tinha cerca de 15 anos de idade.
Produção literária A escritora falou sobre a sua produção, como o primeiro livro, “Perto do coração selvagem”, “A cidade sitiada”, que ela considerou o seu livro mais denso, e “A paixão segundo G.H.”. Ela também falou sobre as traduções de suas obras e de como lida com seus textos publicados. “Eu não releio. Isso me dá nauseas. Quando está publicado, é como um livro morto. Eu não quero mais ouvir falar dele”, disse.
“Eu leio, eu acho estranho, eu acho ruim, e é por isso que eu não leio. Eu também não leio traduções que eles fazem dos meus livros para não me irritar.”
Entrevista na ‘New Yorker’
A reportagem publicada pela “New Yorker”, com o título “A Lost Interview with Clarice Lispector” (Uma entrevista perdida com Clarice Lispector, na tradução livre), é assinada Benjamin Moser, que também é autor da biografia “Clarice,”. Ele disse, no texto, que chegou à entrevista depois de falar com a irmã de Clarice, Tânia Lispector Kaufmann.
Clarice Lispector em entrevista para Julio Lerner, em 1977
Reprodução/YouTube/Penguin
Moser disse que falava com Tânia sobre uma entrevista enviada a ele em 2006, por Julio Lerner. De acordo com o escritor, Lerner fez a gravação, a única em vídeo, poucos meses antes de Clarice morrer, em 1977.
A irmã da escritora comentou então que não gostava da entrevista, já que Clarice aparecia cansada e perto da morte. O vídeo está disponível no YouTube.

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