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‘Triângulo da Tristeza’ faz crítica social com humor ácido e cenas para estômagos fortes; g1 já viu

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Comédia satírica venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2022 e concorre a três Oscars, incluindo Melhor Filme. Definitivamente, “Triângulo da Tristeza” é o mais provocativo e polêmico entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme de 2023. O longa, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (16), não faz concessões ao mostrar cenas que apenas o espectador que tiver estômago forte vai suportar.
Chocante, mas funciona por fazer uma ácida, irônica e irresistível crítica sobre as desigualdades sociais que são vistas em todo o mundo. O filme empolga por seu humor satírico e pelas situações inusitadas que os personagens vivem na telona.
‘Triângulo da Tristeza’: assista ao trailer
A trama é dividida em três capítulos. O primeiro deles mostra a relação entre o casal de modelos Carl (Harris Dickinson, de “King’s Man: A Origem”, 2021) e Yaya (Charlbi Dean), que vivem uma disputa de forças na relação, ao mesmo tempo em que buscam destaque no mundo da moda.
Na segunda, eles participam de um cruzeiro de luxo, comandado pelo capitão Thomas (Woody Harrelson), onde têm contato com passageiros muito ricos e excêntricos. A viagem segue sem surpresas até que coisas estranhas (e bem asquerosas) começam a acontecer com todos, que o que culmina com um inesperado acidente no meio do mar (não é spoiler. Basta ver no trailer acima).
Na terceira e última parte, os sobreviventes do naufrágio (incluindo Carl e Yaya) precisam se unir para conseguir sobreviver em uma ilha deserta. É nesse momento que ocorre uma inusitada inversão social, onde os ricos precisam se submeter aos menos privilegiados. Aos poucos, as situações ficam cada vez mais imprevisíveis, a ponto de mostrar as verdadeiras personalidades de cada um.
“Triângulo da Tristeza” (2022), de Ruben Östlund
Divulgação/Mostra-SP
Banquete indigesto
Dirigida por Ruben Östlund, a obra conversa muito com o filme anterior do cineasta, “The Square – A arte da discórdia”, especialmente em sua primeira parte.
Enquanto o longa de 2017, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes (assim como “Triângulo”), fazia uma ácida crítica ao mundo das artes plásticas, dessa vez Östlund expõe sua visão irônica ao mundo fútil da moda e dos influenciadores digitais, representados pelo casal protagonista. Apesar de parecer um longo prólogo, a primeira parte vale pelos momentos irônicos e reflexivos.
No entanto, a melhor parte é mesmo a segunda, quando acontece o cruzeiro. É nessa sequência que Östlund (que também pode levar os Oscars de Melhor Direção e Roteiro Original) tem as melhores sacadas, como por exemplo mostrar que passageiros ricos e poderosos são pessoas completamente alheias ao mundo que os cerca.
Yaya (Charlbi Dean) posa para Carl (Harris Dickinson) numa cena de ‘Triângulo da tristeza’
Divulgação
Um bom exemplo disso está no casal de idosos que parecem simpáticos, mas que reclamam do fato de que tiveram prejuízos quando foram criadas concessões para o comércio de armas, a fonte de sua riqueza, sem se preocupar como o seu negócio pode fazer mal para as pessoas.
Além disso, o diretor faz uma dura crítica à chamada alta gastronomia em uma sequência que se passa durante o almoço de gala com o capitão. Primeiro, ao mostrar os pratos exóticos que são oferecidos, com gosto e estética nada atraentes.
Depois, com a situação indigesta que deixa passageiros e tripulação completamente destruídos, o que pode incomodar bastante o espectador que não gosta de ver gente passando mal, na tela e na vida real.
Mas quem embarcar na proposta do diretor e roteirista, certamente vai curtir bastante a mensagem que Östlund quer passar.
Charlbi Dean, Dolly De Leon e Vicki Berlin numa cena de ‘Triângulo da tristeza’
Divulgação
Ilha dos birutas
A parte final de “Triângulo da Tristeza” é a menos impactante do filme, embora também tenha o seu valor. Ao mostrar que os sobreviventes mais ricos acabam por se tornar servos dos menos afortunados numa ilha deserta, o longa perde um pouco do fôlego e de sua acidez para mostrar vários momentos em que os personagens tentam se adaptar à sua nova realidade.
Além disso, a longa duração do filme começa a pesar na terceira parte e pode tirar o interesse do público. Mesmo os bons diálogos e algumas boas situações não conseguem dar conta de manter o pique que a produção tinha em seu início. Dava para cortar uns 20 dos seus 147 minutos totais sem prejuízo para a compreensão ou para a experiência proporcionadas.
O grande destaque desta terceira parte é o protagonismo dado à personagem Abigail, vivida por Dolly De Leon. A atriz interpreta uma tripulante do navio que aproveita o fato de que sabe lidar melhor em termos de sobrevivência do que os outros para tirar vantagem da situação. O roteiro mostra de forma inteligente como as pessoas podem mudar se tiverem algum tipo de poder nas mãos.
Yaya (Charlbi Dean) e Carl (Harris Dickinson) vivem um casal que é convidado para um cruzeiro em ‘Triângulo da tristeza’
Divulgação
Triste perda
“Triângulo da Tristeza” também marcou a última participação de Charlbi Dean no cinema. A atriz de 32 anos morreu inesperadamente em 2022, pouco tempo depois do lançamento do filme no Festival de Cannes. Uma pena, porque ela é um dos destaques do elenco e mostrava um grande potencial de se tornar uma estrela nos próximos anos.
Além de Dean, vale destacar a inspirada e divertida performance de Woody Harrelson como o capitão Thomas. O ator constrói um personagem bem interessante ao torná-lo irônico e até mesmo melancólico por estar cansado de lidar com tantas pessoas fúteis por muitos anos.
Seu descontentamento fica claro numa ótima cena em que tem um embate com um empresário russo. Enquanto o passageiro se orgulha de ser capitalista, o capitão se revela marxista, o que gera uma divertida inversão de clichês no meio do desastre que acontece na segunda parte do filme. 
“Triângulo da tristeza”, apesar do ritmo irregular, consegue passar bem a sua mensagem para o público, de maneira satírica e inteligente. O filme pode não agradar a todos os gostos, especialmente quem se impressiona facilmente com cenas graficamente intensas. Mas ninguém fica indiferente diante do longa. Nem mesmo a Academia de Artes Cênicas, que lembrou dele para o Oscar 2023. Quem embarcar nessa viagem, certamente terá muita história para contar.
Arvin Kananian e Woody Harrelson numa cena de ‘Triângulo da tristeza’
Divulgação

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