Festas e Rodeios

Simone Mazzer afronta padrões e o próprio molde cênico no corpo político do show ‘Deixa ela falar’

Published

on

Simone Mazzer deita no palco do Teatro Rival Refit em número do show ‘Deixa ela falar’, feito pela cantora com o duo Ant-Art
Samanta Toledo / Divulgação
Resenha de show
Título: Deixa ela falar
Artista: Simone Mazzer
Local: Teatro Rival Refit (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 30 de março de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ No quarto álbum, Deixa ela falar (2022), lançado em outubro e editado em CD neste mês de março de 2023 pela gravadora Biscoito Fino, Simone Mazzer afrontou padrões e fez do disco um brado retumbante a favor da liberdade dos corpos.
No show baseado no disco e apresentado no Teatro Rival Refit na noite de ontem, 30 de março, a cantora paranaense fez a afronta no palco, de viva voz, e subverteu o próprio molde cênico no corpo político de apresentação teatral formatada sob direção de Marcio Abreu e Patrícia Selonk, expoentes da ribalta nacional.
Mais vocacionado para teatros e para plateias antenadas com o espírito combativo do repertório subversivo e com o sentido abstrato das projeções de imagens, Deixa ela falar se revelou o show mais arrojado de Simone Mazzer por descontruir a imagem dessa cantora de voz opulenta ao longo de roteiro alinhado sem concessões.
A já notória potência vocal da intérprete – quando explicitada, como no canto de Arrastão (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1965) – foi posta a serviço da cena de Deixa ela falar em vez de ser o próprio atrativo cênico, como em shows anteriores, feitos em atmosfera mais convencional.
No palco, a ideologia de resistência de Mazzer foi corroborada pela sonoridade marginal, áspera e ruidosamente roqueira de Antônio Fischer-Band (teclados, synths e vocais) e Arthur Martau (bateria, violão, guitarra e vocais, além da direção musical), integrantes do duo carioca Ant-Art, ao qual se juntaram Navalha Carrera (guitarra) e Paulo Emmery (baixo) na cena dissonante e climática.
Simone Mazzer faz do palco um palanque na cena politizada do show ‘Deixa ela falar’, apresentado no Teatro Rival Refit, no Rio de Janeiro
Samanta Toledo / Divulgação
“Pode acender a luz / Que hoje eu quero dançar com você”, pediu Mazzer, ainda na penumbra, na intimidade da música que abriu o show, Olhos nus (Yantó, 2022), em cena introduzida por gemidos, gritos e sussurros. Na sequência, Sem lei (Iara Rennó e Duda Brack, 2022) sustentou o tom ameno desse set inicial, marcado por O crime (Jards Macalé e José Carlos Capinan, 1969), número climático.
Até que, no meio de Conta marinheiro (Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes, 2022), música apresentada por Mazzer com o Ant-Art no show Corpo (2018), se insinuou o cabaré que habitualmente ambienta a cantora em cena.
Aos poucos, a cena de Deixa ela falar foi ganhando intensidade roqueira, amplificada em Mulheres livres (Arthur Martau, Bernardo Vilhena e Simone Mazzer, 2022). Na sequência, Corpo (Luisão Pereira, 2018) reiterou que a artista fez do palco do Teatro Rival Refit um palanque para a exposição de ideias e ideais em favor da absorção social de quem está fora dos padrões.
À medida em que foi apresentando músicas como Corporal (Ava Rocha, 2022) e Desmanche (Duda Brack, Simone Mazzer, Arthur Martau e Antonio Fischer-Band, 2022), Mazzer intensificou o discurso, desceu para a plateia para dar voz às mulheres – tímidas na maioria ao ganharem o microfone, como avaliou a cantora – e se permitiu deitar no palco.
Após comungar a santa ira punk do rock-título Deixa ela falar (Lydia Del Picchia e Luiz Rocha, 2019) e de se jogar na pista disco tecnopop de Chega mais (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1979), Simone Mazzer deu voz a uma composição afrontosa do alternativo Rogério Skylab, Você vai continuar fazendo música? (2004), para fechar a cena com o grito de resistência que a artista deixou no ar e nas mentes ao longo do show Deixa ela falar.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.