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Jorge Ben Jor, projetado há 60 anos com ‘samba esquema novo’, permanece único na música do Brasil

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Som do cantor, compositor e músico carioca é uma das matrizes mais copiadas e influentes desde que o artista lançou o primeiro single em julho de 1963. ♪ ANÁLISE – Refratário quando o assunto é idade, Jorge Lima de Menezes não assume que veio ao mundo em 22 de março de 1939 e que tem, portanto, 84 anos em 2023.
Mas é de conhecimento público o nascimento artístico de Jorge Ben, esse cantor, compositor e músico tão imitado por ser matriz de batida diferente que abriu admirável mundo novo na música brasileira cinco anos depois da bossa nova e dois antes da erupção da MPB na inflamada plataforma dos festivais da canção.
Jorge Ben nasceu para o mundo em julho de 1963 com a edição do single que trazia as músicas Mas que nada (no lado A) e Por causa de você, menina, gravadas com o conjunto Os Copa 5 sob a liderança do saxofonista J.T. Meirelles (1940–2008).
Antes, Ben já atuara como músico profissional no circuito de boates do Beco das Garrafas, com regularidade desde o início dos anos 1960, e já tinha sido convocado em 1962 pelo pianista e organista José Maria de Andrade Ferreira, o Zé Maria, para cantar no álbum Tudo azul as mesmas duas músicas que regravaria no single de estreia editado pela gravadora Philips.
Contudo, foi mesmo com esse próprio single e com o consequente lançamento do álbum Samba esquema novo naquele segundo semestre de 1963 que Jorge Ben – que viraria Jorge Ben Jor em 1989 – se impôs com som singular que apontou caminhos na música brasileira.
O esquema realmente novo do samba de Jorge foi além da bossa nova implantada em 1958 por João Gilberto (1931 – 2019). Tinha soul, tinha rock, tinha bossa e já tinha, sobretudo, uma África brasileira na batida do samba de Jorge.
Carioca de ascendência etíope, nascido em Madureira e criado no bairro do Rio Comprido, o música tocava de forma singular o violão que ganhara da mãe na adolescência. No violão, Jorge Ben criou a própria batida diferente e a pôs a serviço de cancioneiro autoral pautado pela coloquialidade.
As letras das músicas de Jorge Ben Jor são simples, diretas, sem firulas ou metáforas, seja quando o compositor exalta a beleza da mulher preta, seja quando enaltece um craque do futebol, dois assuntos recorrentes no repertório do artista, também pautado pela filosofia e pelo universo medieval.
Imagens do single lançado por Jorge Ben Jor em julho de 1963 com as músicas ‘Mas que nada’ e ‘Por causa de você’, menina’
Reprodução
Embebida em orgulho negro, traço que conectou Jorge à engajada geração do hip hop nacional que despontou nos anos 1980 sob a liderança do grupo Racionais MC’s, a obra do alquimista ignorou patrulhas e fronteiras estéticas.
Com passe livre na música brasileira, o artista transitou pela Jovem Guarda, integrou a Tropicália – com música em disco do grupo Os Mutantes – e ressuscitou em 1969 até o samba-exaltação do Brasil, país tropical amordaçado pela ditadura de 1964 endurecida em 1968.
Em 1971, com o álbum Negro é lindo, Jorge sintonizou os movimentos negros que irromperam nos Estados Unidos na década de 1960, reverberando pelo Brasil, sobretudo entre a geração que implantou o funk e o soul no país – Jorge, cabe lembrar, integrara na segunda metade da década de 1950 a lendária Turma da Tijuca que incluía Tim Maia (1942 – 1998), voz maior do soul brasileiro.
Nos anos 1970, Jorge lançou álbuns que ajudaram a propagar o samba-rock e incorporou o funk à mistura homogênea da música que fazia com fidelidade a si próprio, sem nunca ter ido na onda de ninguém.
Foi também na década de 1970 que Ben trocou o violão pela guitarra em processo de eletrificação sinalizado pelo álbum Solta o pavão (1975), disco em que o músico experimentou amplificar o som do violão ovation.
A síntese sonora de África Brasil, álbum posterior editado em 1976 com mix encorpado de samba, funk, rock e soul, atestou como a música de Jorge Ben Jor continuou sempre em movimento, continuado em 1978 com a criação d’A banda do Zé Pretinho, alardeada no título do álbum lançado naquele ano.
A produção fonográfica de Jorge Ben Jor entre 1963 e 1981, ano do álbum Bem-vinda amizade, é lapidar. Depois, houve somente eventuais lampejos da genialidade do artista em músicas de álbuns como Ben Jor (1989) e 23 (1993).
Só que Jorge, pelo muito que fez antes, já nada precisava provar a ninguém. Se a carreira fonográfica perdeu fôlego, a trajetória nos palcos nunca deixou de ser luminosa. Com energia jovial, o cantor sempre manteve o pique nos shows incendiários, quando dispara o arsenal de sucessos que faz com que todo mundo entre na dança.
Porque a música de Jorge Ben Jor é movimento, é balanço, é suingue tropical desde que o artista nasceu para o mundo em julho de 1963, há 60 anos.

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