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Declaração do choro como Patrimônio Cultural Imaterial faz justiça a gênero assentado na base da música do Brasil

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Fruto do processo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro (RJ) no século XIX, o choro segue vivo tanto como gênero quanto como uma forma de tocar outros ritmos. ♪ ANÁLISE – Diz o dito popular que a justiça tarda, mas não falha. No caso da declaração do choro como Patrimônio Cultural Imaterial, título conferido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em reunião extraordinária do conselho da entidade em Brasília (DF) nesta quinta-feira, 29 de fevereiro, faz-se justiça tardia a um gênero musical que está na base da música brasileira.
Trata-se de gênero musical essencialmente urbano. Embora tenha se convencionado cravar 1870 como o ano de nascimento do choro, o fato é que o gênero começou a nascer ao longo do século XIX com a chegada da Família Real portuguesa à cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1808.
O choro é fruto do processo de urbanização do Rio, mais nítido a partir da década de 1840. É um gênero musical, sim, tocado com instrumentos como violão, cavaquinho e bandolim, com as famosas “baixarias”, termo que designa as notas graves das sete cordas no acompanhamento.
Mas o choro é também um estado de espírito, uma maneira de tocar qualquer gênero e, sob tal prisma, o choro se conecta com a bossa nova, outra música típica da urbanidade carioca. Só que, se a bossa nova brotou nos anos 1950 em redutos elitistas da zona sul do Rio de Janeiro (RJ), o choro deve muito aos músicos das nascentes periferias e subúrbios cariocas.
Se é certo que o músico Joaquim Callado (1848 – 1880) é um dos principais pais do choro, espécie de João Gilberto (1931 – 2019) do gênero por ter sintetizado os cânones e o espírito do choro, a origem do nome é controversa.
O fato é que, a partir da criação de Callado, o choro foi desenvolvido por nomes como Ernesto Nazareth (1863 – 1934), (Pixinguinha 1897 – 1973), Amélia Brandão Nery (1897 – 1983) – a Tia Amélia, discípula de Ernesto Nazareth e pioneira mulher a desafiar o machismo estrutural ao se dedicar a um gênero originalmente gerado em ruas e bares, então redutos masculinos – e Jacob do Bandolim (1918 – 1969). Sem falar no conjunto Época de Ouro.
Gênero que se utiliza do improviso, e nesse sentido há parentesco com o jazz, o choro nem sempre fica visível na mídia, mas, como o samba, o choro pode agonizar, mas nunca morre.
Na década de 1970, o grupo Os Carioquinhas – capitaneado pelo violonista Raphael Rabello (1962 – 1995), gênio das sete cordas – contribuiu decisivamente para a revitalização e rejuvenescimento do gênero. Atualmente, há grupos nas cidades de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) que cultuam o choro, caso do carioca Choro da Ribeira do paulistano Choro da Quitanda.
Enfim, o choro está vivo e o reconhecimento do Iphan resulta importante, inclusive para dar mais visibilidade ao gênero.

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