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Quartabê entra com bravura no mar de Dorival Caymmi em ‘Repescagem’, disco com as vozes de Ná Ozzetti e Mart’nália

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Resenha de álbum
Título: Respescagem
Artista: Quartabê
Edição: Risco
Cotação: ★ ★ ★
♪ É preciso louvar a bravura com a qual o Quartabê mergulha novamente no cancioneiro de Dorival Caymmi (30 de abril de 1914 – 16 de agosto de 2008) em Repescagem, disco situado na fronteira entre EP e álbum que chega ao mundo com sete faixas na próxima quinta-feira, 13 de junho, em edição do selo Risco.
O título Repescagem alude ao fato de se tratar da segunda abordagem da obra do compositor baiano na discografia do quarteto paulistano formado em 2014 por Joana Queiroz (sax tenor, clarinete e clarone), Maria Beraldo Bastos (clarinete e clarone), Mariá Portugal (bateria) Rafael Montorfano, o Chicão (piano e teclados).
O mergulho do Quatabê é radical. Aos dez anos de vida, o grupo emerge em Repescagem com outra desconstrução do cancioneiro de Caymmi.
Com cinco músicas em sete faixas, o disco é alinhavado com a canção Quem vem pra beira do mar (1954), quebrada em três movimentos – Andei por andar, andei, A onda do mar leva e Quem vem pra beira do mar – e formatada como suíte em que as três peças funcionam como prelúdio, interlúdio e epilogo.
Nessas três faixas, os integrantes do Quartabê tocam violões de nylon, emprestados por Tó Brandileone – em cujo estúdio o disco Repescagem foi gravado em agosto de 2023 na cidade de São Paulo (SP) – e Gustavo Ruiz. Urdida com vozes e violões, a suíte sobressai no disco Repescagem por reformatar a canção de Caymmi sem macular a beleza do tema.
Já o samba Eu cheguei lá (1971) aporta seco no disco do Quartabê em gravação feita por Mart’nália sem o molho maroto do canto da artista carioca e com citação de Alguém me avisou (1980), samba de tempero baiano da lavra da carioca Ivone Lara (1922 – 2018).
Falta a Eu cheguei lá o balanço que também se dilui no registro de outro samba buliçoso de Caymmi, Maricotinha (1994), este reinventado em faixa experimental que costura dissonâncias, ruídos, batuques e a voz límpida de Ná Ozzetti, convidada da gravação.
O registro ousado de Maricotinha mostra que é preciso afastar os purismos para poder apreciar o mergulho do Quartabê na obra de Caymmi. Porque, em Repescagem, nada é do jeito que já foi um dia.
Em onda revolta, o samba-canção Não tem solução (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951) chega irreconhecível à margem. Já João Valentão (1953) tem a feição melódica imediatamente identificável no disco mixado por Ricardo Mosca e masterizado por Ricardo Freitas.
Por ironia, João Valentão é o momento em que o Quartabê foi menos valente na pescaria iniciada há seis anos com o álbum Lição #2: Dorival (2018). Porque é preciso muita bravura para mexer em cancioneiro criado e burilado por Dorival Caymmi com a paciência e a perfeição de um ourives.
Quartabê lança o disco ‘Repescagem’ na próxima quinta-feira, 13 de junho, com cinco músicas de Dorival Caymmi alinhadas em sete faixas
Ilana Bar / Divulgação

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