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Snow Patrol volta ao rock romântico, após crises do cantor: ‘Não estava mentalmente bem’

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Banda dos hits ‘Chasing Cars’, ‘Run’ e ‘Open Your Eyes’ canta crise de meia idade em novo álbum, o 1º composto após vocalista ficar sóbrio. ‘Quando eu hitei’ relembra artistas que sumiram. Quando eu hitei: Snow Patrol
Entre 2003 e 2013, Gary Lightbody teve uma vida muito intensa. O cantor e guitarrista norte-irlandês trabalhou sem parar. Perdeu um pouco o controle da própria vida.
É que o Snow Patrol, banda liderada por ele, lançou três dos rocks românticos mais ouvidos dos anos 2000. O estouro de “Chasing Cars”, “Run” e “Open Your Eyes” trouxe demandas. E as demandas trouxeram sucesso, mas não apenas isso. “Naqueles dez anos, não paramos. E, no final, não estávamos… eu não estava mentalmente bem”, ele confessa ao g1, meio encabulado.
Na série “Quando eu hitei”, artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”. Leia mais textos da série e veja vídeos ao final desta reportagem.
O Snow Patrol em 2024 em foto do álbum ‘The Forest Is the Path’
Divulgação
Hoje com 48 anos, Lightbody diz que quase tudo mudou desde então. “Aprendi muitas coisas nos últimos 10 anos sobre como tirar um tempo para mim. Entro na água fria todos os dias. Faço hot yoga, medito. Faço qigong [uma arte marcial], faço muitas coisas que nunca fazia antes de ficar sóbrio… o que acho que foi a coisa principal. Isso foi há oito anos, semana passada completou oito anos e eu tento tirar um tempo para mim todos os dias.”
Antes da nova vida, o líder do Snow Patrol emendou turnês mundiais uma na outra, incluindo duas vindas para festivais brasileiros. Gravou um feat com Taylor Swift (“The last time”) e compôs trilhas sonoras de filmes como “Um laço de amor”, drama com Chris Evans e Octavia Spencer. Enfim, foram dez anos insanos, até que ele decidiu fazer uma pausa em busca da sobriedade. O cantor costumava dizer que bebia para “reprimir” o que acontecia de ruim com ele. Ele explica a mudança de hábitos:
“Voltando àquela pergunta anterior que estávamos discutindo, sobre aqueles dez anos em que nunca parávamos, acho que agora é importante encontrar momentos em que tudo fica parado… Eu sempre tiro um momento de silêncio, de preferência na natureza. Caminho em uma floresta todos os dias… há pássaros cantando e belas árvores verdes e é sereno.”
“Tudo o que vivemos foi realmente emocionante”, ele adjetiva. “Eu não mudaria nada do que aconteceu conosco. Só sei que é meio louco estar nesse trem. Agora podemos decidir fazer as coisas de maneira um pouco diferente, porque estamos, pelo menos eu gosto de pensar assim, um pouco mais sábios, talvez.”
O Snow Patrol no começo da carreira, com o vocalista Gary Lightbody de amarelo
Divulgação
Essa ideia de ser menos frenético e imediatista, como é de se esperar, respingou no Snow Patrol. “Acho que temos um equilíbrio muito bom agora”, atesta. “Ainda conseguimos ser headliners em festivais por toda a Europa. E, em muitos lugares diferentes, tocamos em posições altas dos cartazes de festivais pelo mundo, incluindo o Brasil. Mas não estamos sempre em movimento como antes.”
Ele deixa claro que a banda “ama” viajar por aí para fazer shows. “Mas não faremos mais turnês incessantemente por dois anos seguidos. Podemos no máximo distribuir metade daqueles shows ao longo de dois anos.” O mesmo raciocínio serve na hora de ir para o estúdio. “Quando fizermos um álbum, o faremos em nossos próprios termos, como temos feito desta vez.”
Super franco e falante na entrevista ao g1, Lightbody também gosta de se abrir nas letras que escreve. Em “Lifening”, lançada em 2012, ele havia listado as coisas que mais gostaria de ter da vida. A inspiração foi ver seus sobrinhos, filhos de sua irmã, nascendo.
Os versos são meio que uma resposta à pressão de encontrar alguém e ter herdeiros. Ele escreve que quer ter família e amigos por perto. Canta ainda que quer se distrair com música e com futebol. Ele é torcedor do Manchester United e das duas Irlandas, como canta nessa mesma música: “Sou Irlanda na Copa do Mundo, não importa se do Norte ou do Sul”.
O Snow Patrol, em 2006, com o líder da banda em primeiro plano
Divulgação/A&M
Já consolidada na Europa como um nome forte do rock alternativo pós-britpop, a banda demorou oito anos, três álbuns e 12 singles para emplacar nos Estados Unidos. As coisas só começaram a dar certo depois que “Chasing Cars” foi parar na trilha da série “Grey’s Anatomy”. E de lá para o top 5 da principal parada norte-americana.
A música foi tocada em uma cena em que um paciente morre com problemas no coração, no último episódio da segunda temporada. A inclusão da faixa na série médica fez a música entrar no top 10 de mais de 15 países, incluindo Inglaterra e Estados Unidos.
Esses hits do Snow Patrol trouxeram as questões que os grandes hits sempre trazem. Tem sempre uma pressão para se repetir, mas também uma pressão para não se repetir… “Sim, isso é realmente uma questão fascinante. Por muito tempo, depois de ‘Chasing Cars’ e ‘Open Your Eyes’ (e do álbum ‘Eyes Open’ sendo um grande sucesso), eu estava meio que fugindo disso.”
“Eu não queria repetir aquilo. Nunca quero nos repetir e pensei que, evitando isso, estava evitando a repetição. Fazer isso deixa fechada uma parte de você, deixa fechada uma parte da sua alma, do seu coração, daquilo que te faz um compositor.”
“Se você não está tentando evitar escrever algo, isso acaba te tornando menor do que você é”, ele teoriza. “Então, tirei toda essa pressão e resta ver se faremos uma música tão grande quanto ‘Open Your Eyes’ ou ‘Chasing Cars’. Isso não cabe a nós decidir. Mas não existe pressão para escrever essas músicas e não existe pressão para evitá-las.”
Gary Lightbody, líder do Snow Patrol, em foto de 2005 e em imagem recente
Divulgação
Autor de tantas canções que embalaram casais, Gary passou a maior parte da vida solteiro do que em um relacionamento. No começo da banda, tentou escrever canções com temas mais politizados, mas as composições dele que chamaram a atenção dos colegas de banda eram sobre amor.
Ele já explicou que sempre tenta ser o mais honesto possível para “escrever sobre o que se passa na mente de um cara”. O segredo do sucesso, o cantor arrisca, seria esse. Para ele, as ouvintes estariam interessadas nessa abordagem de um homem tentando se expressar, mesmo que ele não saiba se comunicar ao falar com e sobre mulheres. Lightbody tende a falar com certa melancolia sobre esse assunto: explica que com “papel e caneta na mão” é bem mais articulado.
“Não estou em um relacionamento há 10 anos”, contabiliza, resignado. “Então, ando meio que olhando para o amor a partir dessa distância do tempo.”
“O tempo em si sendo meio travesso, e pensamos nele como nosso amigo, talvez que possamos confiar nele e que os segundos passam sempre no mesmo tempo. Mas todos sabemos que isso não é verdade, porque o tempo acelera e desacelera dependendo do nosso humor. E tudo pode acontecer de uma vez e nada pode acontecer de forma alguma. E pode ser muito prejudicial. Pode brincar com nossos corações e com a nossa cabeça. Eu gosto dessa ideia e ela permeia bastante o álbum.”
Gary Lightbody, do Snow Patrol, se apresenta com Taylor Swift em 2013
Reprodução/YouTube da cantora
O álbum em questão é “The forest is the past”, o oitavo da banda. Previsto para setembro deste ano, ele é cheio letras super existenciais e filosóficas sobre amor. Até que ponto o disco representa uma espécie de crise de meia-idade para a banda e para você mesmo? Ele dá risada…
“Não consigo discordar de você”, começa a responder, pensativo. “Pode ser que sim. Acho que o processo de fazer o álbum pode ter, talvez, provocado uma crise de meia-idade no meio da criação. Eu não tinha pensado nisso. Você é a primeira pessoa a dizer isso, então estou tentando pensar onde eu inseri minha crise de meia-idade neste álbum. Mas acho que tem um pouco disso sim e tentei não pensar nisso.”
No ano passado, o grupo teve que fazer uma pausa após a primeira tentativa de gravação. “Levamos cinco meses para perceber que não ia funcionar. Foi meio que uma crise de coração, de alma, de significado, de questionar se ainda poderíamos ser uma banda neste mundo”, recorda.
“Tivemos que tirar o verão de folga e nos recalibrar, e então voltamos e fomos trabalhar com o Fraser T Smith por alguns dias. Todos nos apaixonamos por ele.” A parceria com o produtor inglês já ouviu com Adele e Sam Smith fez as coisas engrenarem: “O processo que tinha cinco meses e não havia chegado lá com ele durou cinco semanas. Então, se tivemos uma crise de meia-idade durante este álbum, conseguimos resolvê-la com a ajuda dele, então estamos muito gratos a ele.”
Poucas bandas se beneficiaram tanto das trilhas de séries e filmes como o Snow Patrol. Hoje, no entanto, o esquema mudou um pouco: na maioria das vezes, mais vale uma música em uma trend de TikTok. Como você se vê neste novo cenário? “Já vi muitas piadas sobre minha idade hoje. Fui notando isso. Acho que estou muito velho para me preocupar muito com redes sociais, provavelmente. Se tentarmos criar algo para as redes, as pessoas vão perceber na mesma hora.”
VÍDEOS: Quando eu hitei
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