Festas e Rodeios

Rappin’ Hood tira Geraldo Vandré da reclusão ao transformar em reggae o hino da resistência do artista em 1968

Published

on

Prestes a fazer 89 anos, o compositor paraibano saúda o rapper paulistano em single com gravação da canção ‘Pra não dizer que não falei de flores’. Rappin’ Hood lança amanhã, 6 de setembro, single com regravação da canção ‘Pra não dizer que não falei de flores’
Divulgação
Capa do single ‘Pra não dizer que não falei de flores (Caminhando)’, de Rappin’ Hood com participação de Geraldo Vandré
Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Pra não dizer que não falei de flores (Caminhando)
Artista: Rappin’ Hood com participação de Geraldo Vandré
Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2
♪ Na marcha de Geraldo Vandré na luta pela democracia na década de 1960, a canção Pra não dizer que não falei de flores – rebatizada informalmente como Caminhando pelo povo brasileiro – representou o céu e o inferno na trajetória deste cantor, compositor e músico paraibano que fará 89 anos na próxima quinta-feira, 12 de setembro.
A canção cresceu tanto e ficou tão forte que virou arma política no enfrentamento da ditadura em 1968, ano em que Pra não dizer que não falei de flores foi apresentada por Vandré na inflamada plataforma do terceiro Festival Internacional da Canção (FIC). E Vandré virou o alvo do regime ditatorial e viu a carreira desandar a ponto de ter que se exilar e sair de cena. O exílio, de certa forma, permanece ainda em 2024.
Geraldo Vandré se tornou um artista recluso, arisco, refratário a exposições públicas. Por isso, Rappin’ Hood merece ser saudado por ter tirado Vandré da reclusão – mesmo por alguns instantes – e ter trazido o artista de volta ao disco.
Sim, Vandré participa da releitura de Pra não dizer que não falei de flores pelo rapper paulistano em single que aporta amanhã, 6 de setembro, nos aplicativos de áudio, em edição do selo pernambucano Estelita.
Ok, o feat. de Vandré se resume a uma saudação a Rappin’ Hood feita em conversa por telefone e reproduzida na introdução da gravação de cinco minutos e meio. “Salve Rappin’ Hood. Continue caminhando e cantando”, se limita a dizer Vandré na abertura da faixa. É pouco, mas é muito em se tratando de quem é.
De todo modo, a abordagem de Pra não dizer que não falei de flores pelo rapper é interessante e até prescinde desse importante aval.
Na gravação feita por Rappin’ com produção musical de Thiago Barromeo e com coro feminino, a canção de resistência de Vandré marcha inebriante na cadência do reggae enraizado na tradição Nyabinghi, estilo com que os seguidores da ideologia Rastafari celebram na Jamaica a herança da cultura africana.
A transposição da canção para o universo tradicional do reggae é sagaz, pois, em essência, Caminhando é a trilha sonora de qualquer povo que lute por justiça social e igualdade, combatendo toda forma de opressão. E tanto o rap quanto o reggae são gêneros musicais nascidos na luta de um povo oprimido por dias melhores.
Rappin’ Hood tem moral com Geraldo Vandré. Tanto que foi autorizado pelo compositor a regravar Disparada (1966) – parceria de Vandré com Theo de Barros (1943 – 2023) apresentada em festival na voz enérgica do cantor Jair Rodrigues (1939 – 2014) – em gravação feita para o álbum Sujeito homem 2 (2005) com a participação de Jair.
Agora, com essa versão aliciante da canção Pra não dizer que não falei de flores na batida do reggae de raiz, o rapper vai ficar ainda com mais moral perante o homem.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.